Bem-vinda!!

Bem-vinda ao nosso blog!
Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os primeiros mil dias da criança e a importância dos pais!

Um assunto que sempre chama a minha atenção é a importância dos laços afetivos para a formação emocional saudável de uma criança. Há menos de um ano tive o privilégio de ler um livro que fala justamente sobre isto. Escrito por uma psicanalista e psicoterapeuta de Oxford chamada Sue Gerhardt, ele demonstra através da ciência como as primeiras interações psíquicas e sociais de um bebê afetam a constituição fisiológica do seu cérebro em desenvolvimento. Não é um livro de cunho cristão e acredito que ele ainda não tenha sido traduzido para o português - em inglês o título é Why Love Matters - How Affection Shapes a Baby's Brain - mas se você lê em inglês eu fortemente recomendo a leitura. Ele apresenta evidências científicas interessantíssimas confirmando o que fica cada vez mais claro para mim: a diferença que faz para a educação dos filhos a presença amorosa e diretiva dos pais no dia-a-dia.

Sem querer julgar ninguém por suas escolhas pessoais, até porque vejo que é antes de tudo um problema de políticas públicas, eu admito que tenho dificuldade de engolir o argumento de que o único fator que importa é a qualidade de tempo que se dedica aos filhos. Sim, claro que a qualidade é essencial, mas ela é intimamente ligada ao fator 'tempo'. Como é possível ter qualidade de tempo sem quantidade?? Eu acho bem difícil, ainda mais nos primeiros anos, quando o cérebro da criança ainda está em formação e sendo literalmente marcado para a vida toda, como mostra a autora.

Por isso, hoje venho compartilhar as sábias palavras do pediatra e ex-reitor da UNICAMP, José Martins Filho, que "discute a atual licença-maternidade no Brasil e defende uma mudança na legislação que permita à mãe ficar mais próxima de seu filho nos primeiros anos de vida, sem que tenha que abrir mão do trabalho" (conforme a descrição publicada pelo Instituto Alana no Youtube).

São menos de 4 minutos de entrevista que espero que a ajudem a refletir sobre o seu papel como mãe. Desejo que você seja inspirada ao vislumbrar a diferença que a sua presença faz na vida dos seus pequenos, hoje e amanhã, e o impacto que isto fará na construção de um mundo melhor! E, finalmente, que encontre forças em Deus para não desistir de ficar mais perto deles hoje, apesar das inúmeras dificuldades e resistência que talvez você encontre pelo caminho.



Antes de terminar e seguindo esta mesma linha da importância dos vínculos familiares para a vida social bem sucedida do ser humano, existe um outro livro, escrito pelo psicólogo canadense Gordon Neufeld e o médico húngaro Gabor Maté, que eu também estou muito interessada em ler.  O título é Hold On to Your Kids: Why Parents Need to Matter More Than Peers. Na verdade, eu assisti a uma entrevista de 2004 em que o Dr. Gordon Neufeld denuncia a falsa suposição de que quanto mais cedo a criança entrar na escola melhor. Ele mostra que o contrário é verdadeiro e aponta para o perigo da formação precoce de vínculos com os pares (crianças da mesma idade), em vez de com os pais, numa idade em que o que a criança precisa é de amor incondicional e de direção de um adulto. Afinal, salvo minorias exceções de pais abusivos, quem melhor do que mãe e pai para suprir esta necessidade da criança?! Veja a entrevista toda, se souber inglês, e compartilhe com seus amigos. Garanto que serão 26 minutos muito bem investidos!

Aproveito o assunto de hoje para também direcioná-los à leitura de outros posts em que já falei sobre o assunto de maternidade, família, creche e políticas públicas.

Basta clicar nos links abaixo para lê-los.

Creche noturna beneficia a sociedade?
Você concorda com o aumento da jornada escolar?
Eu largar o emprego e depender financeiramente do meu marido? Você só pode estar louca!
Meu bebê nasceu e logo termina minha licença. O que eu faço agora?

Um grande abraço,
Talita

domingo, 15 de dezembro de 2013

Uma mulher e três experiências: uma cesariana, um parto normal hospitalar e um parto domiciliar - PARTE 2

(Este post é continuação do de ontem. Para lê-lo clique aqui!).

Relato do Parto da Giulia

O positivo
A Giulia veio inesperadamente. Parei com o anticoncepcional por causa das dores pós-parto do Lorenzo. A solução da médica para acabar com meu problema era aumentar os níveis de estrogênio. Ou eu parava a pílula e via se meu organismo reagia sozinho ou eu tomava uma pílula tradicional e corria o risco com a amamentação. Como eu já tinha tentado de tudo para acabar com o problema, resolvi tentar parar com o anticoncepcional já que correr risco com a amamentação estava fora de cogitação.

Em outubro, já tinha passado da data da minha menstruação vir e resolvi fazer um teste. Negativo. Passou mais uma semana e nada da minha menstruação, fiz outro teste e a segunda linha apareceu bem fraquinha. Comprei um terceiro teste, mais confiável, e repeti dois dias depois. A lista estava lá, bem nítida. Eu estava grávida, de novo... Feliz por um lado, mas em pânico por outro.

A gravidez
Eu liguei em todas as clínicas da minha cidade e não consegui nenhuma vaga para fazer pré-natal. Grávida de umas 6 ou 7 semanas e ninguém tinha vaga?? Começou meu desespero. Também liguei nas duas casas de parto possíveis e me inscrevi na fila de espera sem nenhuma esperança. Em uma última tentativa consegui um médico para o início de dezembro. O problema é que eu verifiquei as referências sobre o tal médico na internet e era terrível. Ele tinha usado fórceps e deixado um bebê com sequelas. Decidi que não iria nele de jeito nenhum. Era melhor encarar uma gravidez sem pré-natal.

Decidi então que iria parir em casa com uma parteira tradicional. O problema é que eu precisava de um médico de qualquer maneira. Como ela não era “legal”, não tinha como solicitar exames e em uma emergência, era melhor ter um prontuário aberto em algum hospital. Consegui uma médica na cidade vizinha por indicação de uma conhecida. Ela me sugeriu outra cesárea logo de cara e eu disse que gostaria de tentar de novo. Ela disse que me ajudaria. Sai de lá confiante. Pelo menos, se eu precisasse de médico, ela parecia ser uma opção razoável.

Novas consultas e novas emoções. Meu exame de urina acusou presença de strepto B. A médica, muito calma, disse que eu tomaria antibiótico durante o TP e pronto. E como eu faria com o antibiótico em um PD? Além disso, ela me disse que provavelmente começaríamos uma indução às 37 semanas para evitar que o bebê nascesse muito grande. Começou meu desespero de novo. Somado a tudo isso, horas de espera por uma consulta de 5 minutos.

Com 20 semanas eu decidi que não iria mais para as consultas. O prontuário já estava aberto e eu decidi que ir ao médico era tortura desnecessária. Toda vez que eu tinha consulta eu me sentia mal antes, durante e depois. Na mesma semana que eu tomei este decisão, a casa de parto me ligou e tinham uma vaga para mim!

O pré-natal na casa de parto foi excelente. Consultas de 1h, muito carinho, tiravam todas as minhas dúvidas, me davam informações e nada foi imposto. Todos os procedimentos foram discutidos comigo e cabia a mim decidir se eu queria ou não (inclusive o antibiótico para o strepto B). E eu poderia parir em casa se eu quisesse! Tirando a questão do strepto que me atormentou a gravidez toda, a partir deste momento eu me senti em paz.

Eu não vi a gravidez passar até que comecei a sentir contrações demais (por volta de umas 32 semanas) e a parteira me pediu para “repousar” o máximo que eu conseguisse para não nascer prematuro, se não, eu teria de ir para o hospital.

O parto
De domingo para segunda-feira (17/06 – com quase 38 semanas), os meninos quiseram dormir com a gente. Por volta das 6h da manhã, Lorenzo acordou querendo mamar. Eu estava amamentando-o quando veio uma contração e eu senti um pouco de líquido escorrer. Levantei-me e vi que realmente tinha vazado líquido, além do tampão também ter saído.

Arrumei os meninos para a escola, avisei minha amiga e ela veio ficar comigo. Saímos para a casa de parto já era quase hora do almoço e nada de contrações ou pelo menos nada diferente do que eu já vinha sentindo. O mais estranho é que o líquido parou de vazar. A parteira me examinou, fez dois testes e disse que provavelmente não era líquido, só lubrificação comum do final da gravidez.
Voltei para casa, o marido foi para o trabalho de bicicleta e eu fiquei de buscar as crianças. Passamos uma tarde agradável. Eu fiquei na bola, forramos a cama e resolvi deixar as roupas dos meninos separadas para uma emergência. Minha amiga ainda ficou tirando um barato do meu alarme falso. No final da tarde, eu comecei a sentir as contrações mais fortes, mas ainda sem ritmo e não me preocupei. Fui ao supermercado, preparei as coisas para a minha reunião e busquei os meninos na escola. Eu estava meio indisposta, mas atribui ao cansaço já que tinha dormido mal. Falei com a minha mãe no skype e ela me perguntou o que estava acontecendo porque minha cara estava estranha. Eu disse que não era nada, só cansaço mesmo e como estava calor, eu estava um pouco indisposta. Engraçado como eu não percebi que as contrações tinham mudado e minha mãe, do outro lado do mundo, era capaz de perceber que algo estava diferente. Eu cheguei a me esconder na cozinha em uma das contrações para minha mãe não me ver!

Fui para a reunião por volta das 19h e comecei a cronometrar as contrações. Elas duravam no mínimo uns 45 segundos e vinham a cada 15 minutos. Tentei me distrair o máximo que eu pude, mas eu simplesmente não conseguia disfarçar, nem me mexer na hora da contração. Mandei uma mensagem para meu marido perguntando se não era melhor eu ligar pra parteira de novo, mas ele achou que ainda não precisava, que era cedo. Por volta das 22h, esperei passar uma contração, peguei o carro e vim pra casa. Deu tempo certinho de eu estacionar e veio outra.

Chegando em casa, pedi para o meu marido colocar as crianças para dormir e ele acabou dormindo também. Fui para o banho com a bola. Enquanto eu tomava banho eu quis desistir. Fiquei pensando onde eu estava com a cabeça quando resolvi ter esse bebê. Eu devia ter decidido por outra cesárea porque passar 3 dias com estas dores e ainda aguentar o TP (trabalho de parto) todo não ia ser moleza (eu estava me baseando no TP do Lorenzo). O bom é que esse desânimo passou rápido. Conversei com meu bebê e disse que se ele quisesse vir, eu estava esperando e pronto, que a gente ia conseguir. Por incrível que pareça saí do chuveiro mais calma. Era um pouco antes das 23h. Tentei acordar meu marido, mas ele disse que ia descansar porque eu podia precisar dele no outro dia e ele estava muito cansado.

Fiquei na sala sozinha com minha bola e eu tentava arrumar uma posição cada vez que vinha a contração, mas todas as posições eram péssimas e eu comecei a sentir muito sono. Deitei no sofá e tentei dormir. Eu dormia exatos 10 minutos e lá vinha a contração. Eu tinha que levantar porque deitada era tortura demais. Fiquei assim um pouco mais de uma hora quando comecei a sentir frio também. Vesti meu pijama e minhas meias de inverno porque me deu até tremedeira e fui deitar na minha cama. Eu tive umas duas ou três contrações na cama com um intervalo de uns 7-8 minutos. De repente, outra contração e eu resolvi ficar de quatro. A bolsa estourou, mas estourou mesmo. Fez barulho e saiu muita água. Molhou a cama, o chão, tudo. Meu marido me ajudou a ir para o chuveiro e do banheiro mesmo ligamos para a parteira e para a doula. Era um pouco mais de 12h30.

Elas falaram que já estavam vindo, mas eu já não conseguia nem falar nesta hora. As contrações vinham a cada 2 minutos e duravam mais de 1 minuto cada. Mal dava tempo de eu respirar entre elas. A casa estava uma zona. Imaginem que meu marido tinha ficado sozinho com as crianças por 3h. Tinha brinquedo espalhado por tudo, a pia cheia de louça, um caos. Ele me deixou no banheiro e foi arrumar um pouco a bagunça. Ah, e ainda pediu pra eu passar uma água nas minhas roupas pra tirar a meleca...

Eu fiquei no chuveiro com a bola até a primeira parteira chegar. Ela tentou ouvir o coração do bebê umas 3x entre as contrações, mas não conseguiu e pediu pra eu sair só um pouco para ela ouvi-lo e eu poderia voltar. Eu nem sei como cheguei até a minha cama. Ela ouviu o coração e perguntou se poderia me examinar. Eu deixei morrendo de medo de não estar dilatada com toda aquela dor (traumas do Lorenzo ainda), mas eu estava com 9 cm!

Eu fiquei tão feliz, pelo menos faltava pouco e eu não ia ficar com aquela dor 3 dias como eu estava imaginando. Logo em seguida a outra parteira e a doula chegaram e eu já comecei a sentir os puxos. Foi muito rápido. Eu não tive nem coragem de mexer e fiquei deitada de lado na cama, do jeito que eu estava. Veio aquela vontade de fazer força e eu me segurei. Eu confesso que fiquei morrendo de medo de rasgar tudo de novo. A doula me deu a mão e me lembrou que eu não precisava ter medo, que se eu quisesse podia colocar a mão pra ajudar, assim, eu sentiria o bebê nascendo. Foi ótimo, me deu o maior ânimo colocar a mão e sentir o bebê coroando. A contração veio e eu não fiz muita força, fiz força o suficiente só para a cabeça não voltar pra dentro. Senti queimar e depois a cabecinha saindo. Me deu um alívio tão grande! Ninguém puxou minha bebê e nem me apressou para ela terminar de sair. A parteira viu se não tinha circular de cordão e esperou. Quando a contração veio de novo, eu empurrei o corpinho e senti ela saindo inteirinha. Peguei ela e a abracei. Tão linda! Toda cheia de vernix e sem sangue!!!!

Ninguém viu o sexo. Puseram um paninho sobre ela para aquecer e fui eu que vi que era uma menina! Peguei no cordão também, senti ele pulsar, a textura. O marido que cortou o cordão e decidimos guardar a placenta para plantarmos mais pra frente.

A primeira parteira chegou em casa por volta da 1h30 e a Giulia nasceu à 1h48 da manhã do dia 18/06/2013, com 51cm e 3125g. Ela não sofreu nenhuma intervenção. Não teve colírio, vitamina K, antibiótico, nada. Nasceu na hora e da maneira que ela quis e eu não tive nenhuma laceração (oba!).

Realmente cada parto e cada bebê é único. Foi tudo muito diferente do que eu imaginei e não podia ser mais perfeito. Foi um caminho longo, onde pude contar com pessoas especiais (obrigada!!!) e que curou muitas das minhas feridas. Espero que a minha história sirva de inspiração para outras mulheres e que elas se sintam realizadas assim como eu!

Nascimento do Pietro - Cesariana eletiva no Brasil.

Nascimento do Lorenzo - Parto normal hospitalar no Canadá.

Nascimento da Giulia - Parto natural domiciliar no Canadá.

Uma mulher e três experiências: uma cesariana, um parto normal hospitalar e um parto domiciliar - PARTE 1

Amanda Naldi tem 32 anos, é casada com Daniel e mãe de Pietro (5 anos), Lorenzo (2 anos) e Giulia (5 meses). Natural de São Paulo, ela imigrou para o Canadá há pouco mais de 3 anos. Eu a conheci num grupo de brasileiros pelo Facebook quando li seu comentário de que havia ganhado bebê em casa, aqui no Canadá. Fiquei curiosa para saber mais e pedi que ela contasse como foram suas experiências de parto para eu compartilhar aqui com vocês.

Foram três experiências de parto completamente diferentes! Primeiro, uma cesariana eletiva tranquila em São Paulo, depois um parto normal hospitalar traumático seguido de um parto domiciliar dos sonhos, ambos aqui no Canadá. Uma história que vale a pena ler!

Relato de parto – VBAC no Canadá

História
Eu cresci ouvindo minha mãe falar barbaridades de parto normal. Ela sofreu muito no meu parto, tentaram de tudo, inclusive fórceps e eu acabei nascendo através de uma cesárea, toda machucada (quase fiquei cega e uso óculos até hoje por causa disso). O diagnóstico: DCP (desproporção cefalo-pélvica). Minha mãe ficou traumatizada e influenciou toda a família. Meu irmão mais novo nasceu através de uma cesárea eletiva, assim como todas as minhas primas e os filhos das minhas primas também. Logo, depois das minhas avós, todas na minha família tiveram os filhos através de cesáreas.

Meu primeiro filho nasceu no Brasil, através de uma cesárea eletiva sem nenhuma indicação. Ele nasceu no dia que completamos 40 semanas. Eu não fui amarrada, todos foram muito gentis comigo e o amamentei assim que terminaram de me costurar e examiná-lo (ele sofreu todas as intervenções de rotina). Pra mim aquilo era o normal e eu estava dando o melhor para o meu filho. Na época, eu inclusive achei a recuperação excelente. Tive dor por alguns dias, mas eu conseguia cuidar do meu filho sozinha e estava encantada com a maternidade.
 

No entanto, amamentar doía e eu vivia com meu seio machucado. Minha família começou a pressionar para eu dar mamadeira porque era o “normal”. Minha mãe me dizia que logo eu voltaria a trabalhar e seria melhor assim. Nesta época eu ficava bastante tempo na internet e decidi pesquisar sobre amamentação e descobri outro mundo. Eu decidi tomar as rédeas da situação e fazer as coisas do meu jeito. O grupo GVA (Grupo Virtual de Amamentação) no Orkut me salvou. Eu não apenas amamentei exclusivamente meu filho até os 6 meses, como ele foi amamentado por quase 3 anos mesmo eu trabalhando em tempo integral. Não foi fácil, mas toda vez que eu penso nisso fico orgulhosa de nós dois. Junto com a pesquisa sobre amamentação acabei lendo muito sobre educação de crianças, parto, etc. A maternidade em geral. Isso me tornou outra pessoa. Acho que neste momento eu sai da “matrix”.
 

Decidi que quando eu tivesse outro filho tudo seria diferente. O tempo foi passando, minha vida deu uma reviravolta e decidimos imigrar para o Canadá. Largamos emprego, família, casa e viemos para o Canadá sem nada. Meu filho estava com 2 anos e 4 meses na época. Uns 4 meses depois, época de Natal eu me senti mal, desmaiei e fui parar no hospital com um sangramento que eu pensava ser minha menstruação querendo voltar (eu ainda não tinha ficado menstruada depois do nascimento do meu filho). Como a data da minha última menstruação era de 2007 decidiram fazer um ultrassom. Eu descobri então que eu estava grávida de 8 semanas!
 

Foi um período muito difícil. Estávamos sem emprego, num país novo e tendo que se comunicar em uma língua que não dominávamos (francês). Desespero total!
 

Passado o susto inicial, marquei consulta pra fazer o pré-natal e comecei a procurar uma doula. Meu marido concordou comigo que seria um investimento válido mesmo a situação financeira sendo complicada. Procurei na internet e, no fim, alguém me indicou uma doula brasileira.
 

Entrei em contato com a doula. Na época eu estava com 13 semanas mais ou menos. Ela se mostrou interessada e logo depois marcamos um encontro. Ela foi em casa e conversamos bastante. Neste encontro conversamos um pouco sobre a cesárea eletiva do Pietro, sobre não ter tido nenhum tipo de intercorrência na gravidez, sobre a recuperação "perfeita" que eu tive mesmo sendo uma cirurgia, sobre os meus medos (episiotomia e fórceps), a história da minha mãe e do meu nascimento, minha vontade de tentar um parto natural desta vez, entre outras coisas.
 

Ela me explicou que ela fez um curso de doula e que ela ainda era "estagiária". Por esta razão ela poderia me acompanhar se eu quisesse e não haveria custo nenhum. Além disso, ela buscaria respostas com suas professoras caso fosse necessário. O único porém era que não teria uma substituta caso ela não pudesse comparecer no parto. Confesso que eu fiquei muito feliz depois desse encontro. Eu acreditava ter tirado a sorte grande! Era tudo de que eu precisava!
 

Com uns 7 meses de gravidez, as coisas começaram a complicar. O médico que me acompanhava no pré-natal começou a me dar fortes indícios de que ele queria fazer outra cesárea. Solicitou um exame que mediria a altura da cicatriz uterina para ver se eu poderia tentar um VBAC (Vaginal Birth After Cesarean). Disse que não seria seguro porque minha cesárea foi costurada em apenas um plano (conforme o papel que minha médica do Brasil forneceu, explicando como foi feita minha cesárea e atestando que era seguro um VBAC), enquanto que o padrão dos EUA e no Canadá (mais seguro) seria de costurar em dois planos. Cada consulta que eu tinha com ele era uma aflição. Menos de 5 minutos de consulta e ele conseguia me deixar insegura!
 

Obs: Aqui não é fácil trocar de médico, nem escolher o hospital em que você vai ser atendida. O sistema de saúde é bem diferente do Brasil. Além disso, eu não conhecia muita coisa e tinha dificuldades com o idioma, o que tornou as coisas ainda mais complicadas.
 

Alguns pontos que eu gostaria de registrar porque eram coisas muito importantes para mim ou eventos que me marcaram nesta época:
 

1) O exame. Eu fiquei 2 meses esperando o hospital me ligar para eu ir fazer o tal exame e eles nunca me ligaram! Fiquei 2 meses tensa por nada!
 

2) O médico do pré-natal. Na última consulta que eu tive com o médico que fez meu pré-natal, ele simplesmente passou uma requisição para o hospital solicitando uma segunda opinião sobre meu VBAC (já que eu não fiz o exame) e me informou que ele sairia de férias por 4 semanas (eu estaria entre 37 e 41 semanas de gravidez neste período). Se ele voltasse de férias e o bebê não tivesse nascido, ele faria outra cesárea porque seria perigoso demais uma indução no meu caso. Ele não quis nem olhar meu plano de parto! Ele disse para mim, você mostre isso no hospital quando ele for nascer, eu não vou olhar porque não sou eu quem vai fazer seu parto! Se for eu, será uma cesárea e pronto. Saí da consulta atordoada. Conversei com a doula e ela me disse que eu poderia ter tido sorte dele sair de férias, afinal ele estava com todo jeito de querer fazer outra cesárea.
 

3) A anestesia. Eu não queria tomar anestesia de jeito nenhum. Eu fiz meu marido prometer que se eu ficasse com muita dor e começasse a pedir anestesia, não era pra deixar me darem. Ele ficou inseguro, mas aceitou meu pedido: ele não deixaria me darem anestesia. Até que este assunto surgiu em um dos encontros com a doula... Ela foi veementemente contra! Ela nos disse que só eu saberia o limite da minha dor e que ele não poderia tomar esta decisão por mim, afinal o corpo e a percepção da dor eram meus. Ele estaria lá pra me apoiar, mas que a decisão no momento deveria ser apenas minha.
 

4) A posição para parir. Eu não queria parir deitada de jeito nenhum. Deixei isso bem claro em todos os momentos. Eu odeio deitar de barriga pra cima em qualquer momento, imagine na hora do parto, com dor e ainda por cima depois de ler tanta evidência científica dizendo que essa posição é péssima, só é fácil para o médico mesmo.
 

5) Episio e fórceps. Eu tinha muito medo de episio e fórceps. Cresci ouvindo minha mãe me contar do pesadelo do meu nascimento. Eu conversei sobre isso com a doula e com meu marido. Aqui não fazem episio de rotina e, portanto, mesmo que acontecesse uma laceração, ela não seria muito “grande”. Era fazer exercícios e preparar o períneo. Assim com 34 semanas eu comecei a massagem e os exercícios regularmente.

Pródromos e Parto
Tudo começou no sábado pela manhã ((39+3sem). Todos saíram e eu fiquei sozinha em casa. Do nada fiquei apertada para ir no banheiro fazer xixi. Quando me limpei tinha uma borra com sangue. Achei que era o tampão. Passei o dia todo com essa borrinha com sangue e sem dor nenhuma. De noite percebi que estava com contrações. Fiquei me remexendo, levantei, andei... Resolvi marcar e as contrações estavam de 15 em 15 minutos, às vezes de 10 em 10 minutos. Finalmente a manhã chegou e com a claridade elas se foram completamente! Como em um passe de mágica elas desapareceram.
 
Domingo acabei passando o dia bastante ansiosa, com muito poucas contrações e muito irregulares. O dia foi embora e eu fiquei com medo do que me esperava a noite... Dito e feito, bastou eu dormir para as contrações começarem de novo. Passei a noite toda me remexendo na cama e anotando as contrações que vinham a cada exatos 15 minutos. Fiz isso das 12h as 4h e adivinha? Passaram completamente depois disso. Resolvi desencanar de marcar os intervalos.
 

Na segunda-feira pela manhã eu falei com a doula de novo e combinamos que se acontecesse de novo na próxima noite que ao invés de ficar parada eu iria me movimentar.
 
Quando escureceu eu comecei a sentir algumas contrações novamente. Eu resolvi tomar um banho e jantar (comi um pão o dia todo e no fim não consegui jantar). Enquanto eu mexia na geladeira veio uma contração e eu senti escorrer um pouco de líquido. Resolvi me abaixar e na primeira acocorada eu senti escorrer um monte de líquido. Eu tive certeza que a bolsa tinha estourado!
 

Liguei pra doula e contei o que tinha acontecido. Ela pediu pra eu tomar um banho e aguardar um pouco porque como eu não estava com contrações era melhor tentar fazer o trabalho de parto engrenar um pouco antes de ir pro hospital. Como não podia induzir, se eu fosse pro hospital sem contrações a chance de ter que fazer cesárea seria maior. Fiquei de ligar pra ela dentro de 2h pra dizer como iam as coisas.
 

Tomei um banho e as contrações começaram com força total. Sentei no computador pra usar o contador de contrações porque contar a duração com dor era impossível. Marquei por uns 30 min e resolvi ligar pra doula porque elas estavam de 5 em 5 minutos, às vezes de 4 em 4. Ela falou pra gente ir pro hospital que ela nos encontraria lá.
 

Vesti minha roupa e terminei de arrumar as coisas pra maternidade. Eu já estava com tanta contração que pra descer as escadas e chegar na rua eu devo ter demorado uns 15 minutos. Cada dois passos eu tinha que parar e esperar a contração passar. Chegamos no hospital e eu ainda consegui rir porque eu não conseguia chegar até o elevador!
 

A entrada na maternidade foi bem fácil e sem nenhuma burocracia. Entreguei a carteirinha e o plano de parto e já me levaram pra sala de parto. Em menos de 5 minutos eu já estava na sala de parto, que mais parecia um quarto mesmo, com a enfermeira instalando o monitor fetal e fazendo o acesso no meu braço. Na hora fiquei feliz porque não iam me amarrar em lugar nenhum, eu ia ficar sem soro e poderia andar se eu quisesse. Logo depois disso a enfermeira me examinou e a primeira decepção. Só tinha 3cm de dilatação! Tudo aquilo de dor e 3cm??? Fiquei apavorada. Ela saiu e deixou nós três sozinhos.
 

Isso eram umas 22h (eu acho). Ficamos nós três na sala, a doula me fazendo massagem e me ajudando com as contrações. Apagamos a luz, ficamos bem confortáveis. Eu não conseguia nem ficar em pé de tanta dor, quanto mais andar. A melhor posição era sentada na beirada da cama mesmo. Eu tentava fazer as respirações que aprendi na yoga, me acalmar, mas nada funcionava. Eu imaginei que ia sentir dor, mas nunca imaginei que as contrações ficavam tão próximas umas das outras tão rápido e faltando tanto pra chegar no final. Quando eram umas 2h eu não aguentava mais de dor. As contrações vinham de 2 em 2 minutos e duravam mais de 1 minuto cada uma. Eu queria vomitar de tanta dor, tentei tudo quanto é posição e nada me ajudava. Não dava tempo nem de respirar e já vinha outra contração. Eu já estava num mundo à parte mesmo. Eu gritava, ficava de 4, esperneava, não estava nem aí pra nada. A enfermeira veio me examinar de novo e a dilatação ainda estava em 5 cm. Nesta hora eu entrei em desespero mesmo, ainda faltava metade e eu já estava com muita dor desde as 20h quando a bolsa rompeu! 6 horas de dor e apenas 5 com de dilatação... A enfermeira sugeriu a banheira e eu aceitei, mas não cheguei a ir até a banheira. Comecei a pedir a anestesia. Meu marido me perguntou se era isso mesmo que eu queria, se eu não preferia ir pra banheira primeiro e eu disse que não, que queria a anestesia. A doula não abriu a boca. Segundo meu marido, ele olhou para ela e ela o apoiou, como quem diz: ela que decide, você não pode fazer nada.
 

Fui no banheiro, tirei minha roupa e coloquei a camisolinha do hospital. Nesta hora, eu quis chorar, de dor, de medo, de ter fracassado tão rápido. Respirei fundo e pensei que talvez não tivesse outro jeito mesmo, pelo menos eu estava tentando o máximo que podia.
 

O anestesista chegou um pouco depois e eu tomei a epidural. Ele falou que demorava uns 10 minutos para fazer efeito, mas acho que foi mais rápido que isso, porque eu senti mais algumas contrações e passou. Nossa, como eu agradeci a quem inventou a anestesia. Me deu um alívio tão grande na hora. Pena que o alívio durou tão pouco tempo. Em segundos eu senti alguém me deitando e me colocando a máscara de oxigênio. Eu não via nada direito, só sei que tinha um monte de gente na sala. Não estava conseguindo entender nada. Só vi a médica falando pra mim que os batimentos cardíacos do bebê tinham caído muito (estavam menores que 80) e que se não voltassem em menos de 10 minutos ela teria que fazer uma cesárea de emergência.
 

Os batimentos estabilizaram. A médica me explicou que isso podia ter acontecido porque o bebê pressionou o cordão umbilical, mas que não dava para garantir e que ele podia estar ficando cansado. Graças a isso, foi instalado um monitor fetal na cabeça do bebê e eu não podia mais me mexer... A médica disse que não podia arriscar perder os batimentos cardíacos depois do que aconteceu e que se baixasse de novo, era cesárea na certa. Assim que tudo se acalmou e ficamos sozinhos de novo, a primeira coisa que a doula me disse foi: "Você sabe que agora você vai ter que parir deitada né?" Eu nem questionei o porquê, eu me odeio por causa disso. Na minha cabeça ela sabia mais do que eu. E pior, nem foi o médico ou a enfermeira que me disse isso, foi minha doula!
 

Depois disso, a doula e meu marido foram descansar e eu fiquei lá imóvel, respirando fundo e observando o monitor de batimentos cardíacos. Fiquei neurótica, não conseguia relaxar. A enfermeira vinha de tempos em tempos conversar comigo, me dizer que estava tudo bem e que eu poderia tentar descansar que ela estava verificando o monitor pra mim, mas eu simplesmente não consegui!
 

Sei que ficamos muitas horas assim. Pela manhã a enfermeira veio ver a dilatação de novo e ainda estava em 7cm... Ela e a doula ficaram impressionadas com a quantidade de contrações que eu tinha e por tanto tempo pra dilatação ainda estar em 7cm. Pouco tempo depois eu comecei a sentir uma vontade de empurrar o monitor fetal pra fora de mim. Falei isso com a doula e ela disse que provavelmente eu já estava quase dilatando tudo e a hora do expulsivo chegando. Ela chamou a enfermeira e a dilatação estava em 9 cm. Faltava uma tal rebarba de um lado. A vontade de empurrar só piorava e agora eu já estava com muita dor de novo. Uma dor diferente das contrações, que vinha junto com uma vontade louca de empurrar.
 

Dilatação completa! Cada vez que vinha uma contração eu tinha que segurar nos meus joelhos e fazer força. O meu pesadelo vinha se concretizando. Eu não queria parir em posição de frango assado nem nos meus piores pesadelos e lá eu estava, nesta posição e segurando meus joelhos. Cada contração eu conseguia fazer 3 forças. Pegaram um espelho pra eu olhar e eu via a cabecinha do meu filho vindo. Isso era muito legal, me dava forças pra respirar fundo, aguentar a próxima e empurrar. Enquanto eu descansava entre as contrações, o médico fazia massagem no períneo, meu marido e a doula conversavam comigo. Eu tinha certeza de que ia conseguir, já estava quase acabando.
 

Mais de duas horas depois e nada do bebê nascer. A médica me diz que o bebê não estava conseguindo se recuperar entre as contrações. Que eu estava fazendo tudo certinho, que a força estava correta, tudo ótimo, mas que ele estava entrando em sofrimento fetal. A médica me disse que ele teria de sair na próxima contração de qualquer jeito e que ela ajudaria com o fórceps. Me disse que eu precisava fazer a maior força que eu conseguisse. A contração veio e eu fiz muita força. Eu senti o bebê saindo, escorregando inteirinho, mas senti tudo rasgando também. Ele saiu inteirinho e de uma vez só.
 

Assim que ele saiu já o colocaram em cima de mim, doía tanto que eu nem conseguia segurá-lo, fiquei com medo dele cair até. Logo em seguida, meu marido cortou o cordão umbilical e eu fiquei tentando colocá-lo no seio pra mamar. Ele gritava tanto, mas tanto que nunca vi coisa igual. Acho que ele gritou sem parar por quase uma hora! Ele nasceu com 3,5kg, 54cm, apgar 10/10/10.
 

A placenta saiu rapidinho em seguida. A médica me mostrou a placenta e o saco onde ele ficava, me disse que eu tive uma laceração de quarto grau, deu anestesia local (estava doendo muito) e costurou. Eu fiquei com meu bebê o tempo todo. Meu marido sentou na poltrona e abaixou a cabeça nas mãos. Eu me sentia atortoada, perdi muito sangue. Ninguém me explicou nada. Assim que fomos para o quarto, a doula foi embora. Foi a última vez que a vi.
 

Essa parte foi muito doída, doída no psicológico, no emocional mesmo. A última coisa que eu queria era parir que nem frango assado e precisar de fórceps. Fora a laceração grave! Além da dor, eu ainda comecei a sofrer com medo das conseqüências dela (incontinência principalmente). Minha mãe fez campanha a favor da cesárea minha vida toda justamente por causa do fórceps e meu parto dos sonhos terminou com o uso dele. Muito frustrante, não dá pra negar. Meu bebê nasceu um pouco machucadinho por causa do fórceps e com uma bossa gigante que sumiu quase um mês depois.
 

A doula me ligou uns 2 dias depois do parto para saber como nós estávamos. Uma conversa de uns 10 minutos na qual eu chorei bastante e disse que estava com muita dor. Ela me orientou a fazer compressas geladas. Ficou de nos visitar no final de semana, no máximo no outro. Esta visita nunca aconteceu. Pior ainda, ela desapareceu. Eu mandei diversos e-mails, tentei ligar diversas vezes, deixei recados e nada. Quatro meses depois do parto, eu decidi fazer um teste e liguei para ela de um número desconhecido. Ela atendeu o celular na primeira tentativa que eu fiz. Eu desliguei sem falar nada. Eu não tive forças pra pronunciar nenhuma palavra. Logo em seguida recebi um e-mail dela dizendo que ela estava muito ocupada e que poderíamos nos encontrar no início do próximo ano. Eu ainda estou esperando...
 

Eu confesso que me senti realmente abandonada depois do parto. Nunca fui examinada pra saber se estava tudo bem (na minha consulta pós-parto, o médico, aquele que queria fazer cesárea por causa da cicatriz, me disse que se não estivesse saindo fezes pela minha vagina era porque estava tudo certo). Chamou meu marido em outra sala e disse que eu estava com DPP (depressão pós-parto). Receitou antidepressivo por um ano sem acompanhamento (eu nunca os comprei). Os pontos demoraram 2 meses pra cicatrizar e eu senti dor durante mais de 6 meses. Eu não tive apoio nenhum. Depois de ir atrás de informações na internet, decidi procurar uma fisioterapeuta e uma psicóloga. Elas foram essenciais para a minha melhora física e emocional. Não tenho mais seqüelas físicas do parto, nem meu bebê, mas até hoje eu ainda não consegui aceitar as coisas direito.

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