Bem-vinda!!

Bem-vinda ao nosso blog!
Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Educação domiciliar - as atividades do nosso dia-a-dia

Faz uma semana que escrevi esse post, mas só agora consegui vir publicá-lo!

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Como já falei em posts recentes, este ano vou ficar em casa para experimentar o homeschooling com minhas duas filhas - Nicole de 3 anos e 5 meses e Alícia de 1 ano e 7 meses. Hoje contarei como estou organizando as atividades de nossa rotina diária. Se você ainda não sabe nada (ou quase nada) a respeito  da filosofia do ensino em casa e deseja entender do que se trata, sugiro que visite a página da ANED (Agência Nacional de Educação Domiciliar) e leia os artigos de cunho pedagógico que eles disponibilizam.

Planejando a nossa rotina
Meu marido fez a nossa agenda ilustrada de atividades (veja figura abaixo) e a imprimou em folha A4 para podermos pendurá-la num lugar visível e as meninas acompanharem as atividades (ainda não fizemos, pois faltou comprar papel contact!). Para facilitar, eu também programei o alarme do meu celular (=timer) para nos avisar quando é hora de mudar de atividade. Não quero ficar olhando para o relógio o dia todo - digamos que o alarme (na verdade é um toque bonitinho) acaba funcionando como uma sirene de escola. De  final de semana algumas vezes me esqueço de desativá-lo e meu marido acha insano o despertador tocar tantas vezes, mas a Nicole já acostumou. Em um desses dias atípicos ele tocou e eu estava longe fazendo alguma outra coisa, então a Nicole veio até mim para avisar que estava na hora de fazer "alguma coisa", rs.


Os Horários
Enquanto pensava e orava a respeito dessa agenda de atividades, o meu maior receio era o horário de levantar. Para a manhã render, eu precisaria conseguir acordar antes de todo mundo para poder tomar banho logo cedo. Sou do tipo de pessoa que curte acordar cedo pra aproveitar bem o dia, mas com a condição de que eu durma o suficiente à noite. Não gosto de dormir tarde, mas com a faculdade à noite não tem jeito: vou pra cama muito mais tarde do que gostaria! E às 6:00 da manhã lá estão as meninas acordadíssimas, renovadas, cheias de energia e empolgação para começar o dia... enquanto eu e meu marido estamos esbagaçados, implorando por mais alguns minutinhos de sono profundo!

Com a agitação das férias e o horário de verão, temos abusado um pouco e saído de casa no fim da tarde para algum passeio, visita ou outro compromisso. Isso tem atrasado o horário de dormir das meninas (que é 19:00) e deixado-as beeem mais cansadas do que o normal. Muitas vezes chegamos em casa muito depois das 20:00-20:30 com as duas já capotadas na cadeirinha do carro - a ponto de escovarmos seus dentes, vestirmos o pijama nelas, trocarmos a fralda ou levarmos para fazer xixi no banheiro e às vezes até dar o leitinho com elas dormindo! O bom dessa história é que aos poucos o horário da acordar aqui em casa tem atrasado... para 6:30, 6:40, 7:00, 7:20... ô delícia poder "dormir até acordar"! Se o horário de acordar pela manhã mudar definitivamente para às 7:00, não vou achar nada ruim ter de refazer a nossa agenda de atividades - o farei com todo prazer!

Como ainda estamos no primeiro mês e em fase de experimentação, quando acontece de levantarmos mais tarde do que o previsto, eu adapto a rotina (principalmente quando meu marido está atrasado para o trabalho): às vezes pulamos os banhos (deixo pra dar à tarde), o momento devocional em família fazemos à mesa enquanto terminamos o café da manhã e há dias também em que encurto um pouco o tempo (ou pulo por completo) de algumas atividades. Isso porque os horários que estipulei são apenas diretrizes para me guiar, eles me dão estrutura ao meu dia para eu não ter de improvisar o tempo todo. Uma das grandes vantagens da "escola em casa" é justamente a flexibilidade de ajustar o tempo e atividades de acordo com a necessidade e interesses da criança e também da família como um todo. Posso dançar conforme a música e aproveitar as oportunidades de aprendizado que o dia-a-dia dentro de casa (e também fora!) oferece.

Outra preocupação que eu tive ao planejar esta rotina foi garantir tempo de qualidade e de aprendizado com cada filha, sem privá-las de atividades em conjunto. Como você pode ter notado, esta agenda de atividades na verdade está direcionada para a Nicole porque a Alícia ainda é muito nova. Por isso, eu intercalei as atividades entre momento junto e momento individual. Por exemplo, no "story time", a Alícia mal participa porque ela ainda não consegue se concentrar e prestar atenção ou mesmo entender a história. Já a Nicole ama esta atividade e a cada página me enche de perguntas ou de comentários sobre a história, a ilustração, etc. Como são apenas 15 minutos de leitura, não é muito prejuízo para a Alícia e a Nicole fica satisfeita porque é um momento interativo muito produtivo para ela. Quando sobra um tempinho, ainda pego um livrinho de vocabulário para praticar com a Alícia e a Nicole ajuda participando. A atividade seguinte, o "learning time", é mais longa e feita individualmente com a Nicole. Esse é o momento de brincar independente da Alícia (ainda tenho usado o cercadinho para isso, mas sei que em breve terei de dizer adeus a ele), mas para falar a verdade as duas últimas vezes ela simplesmente dormiu no meio da atividade. Isso me diz que a Alícia ainda está precisando tirar sonecas pela manhã, não são todos dias que ela aguenta ficar acordada até o horário do almoço pra dormir à tarde. Por isso, são 50 min na agenda que podem ser usados para uma soneca pela manhã sem prejuízo da soneca mais longa à tarde. Em seguida vem o "snack time" e o "activity with sibling", duas atividades que elas fazem juntas. Por fim, tem o momento de estudo independente da Nicole - normalmente é o tempo que ela usa para ler silenciosamente e essa meia hora eu aproveito para brincar e estimular a Alícia, dando minha atenção exclusiva a ela. Brincamos com os seus brinquedinhos de encaixar peças, empilhar copos, lemos livrinhos pra treinar as partes do corpo, o nome e som dos animais, as cores, etc., e às vezes uso o ipad com ela também.

A última atividade é o tempo livre delas brincarem juntas enquanto eu preparo o almoço. Essa parte tem sido a mais frustrante para mim - deixá-las a sós para eu poder me concentrar na comida. A Alícia geralmente está cansada e quer colo, fica chorosa, querendo mexer onde não deve, fica o tempo todo vindo até a cozinha pedir alguma coisa. A Nicole brinca sozinha numa boa, mas eu geralmente preciso dar uma bronca na Alícia e determinar onde ela precisa ficar (no tapete da sala) até o almoço ficar pronto. Outro problema é que como deixo as duas brincarem sem supervisão, a cada poucos minutos preciso intervir (leia-se: consolar, orientar, repreender) porque uma ou outra está chorando, por motivos que quem tem filho pequeno conhece muito bem: ou porque caiu, ou porque quer um brinquedo que está com a irmã, ou porque a irmã a machucou, ou uma combinação de dois ou três desses fatores. Às vezes, quando percebo que a situação está tensa e complicada demais, coloco as duas pra ver desenho enquanto corro com a comida, mas quem disse que a Alícia fica mais de 5 min quietinha em frente à TV? Acabo tendo de ir lá acudir a Nicole que estava quietinha prestando atenção porque a irmã está pulando em seu colo tentando abraçá-la!

À tarde é o horário da soneca da Alícia e o descanso da Nicole. Enquanto a Alícia dorme, a Nicole tem permissão para usar o ipad sozinha no sofá, algo que ela absolutamente ama fazer. Se deixar ela fica horas nele porque temos free apps de joguinhos excelentes para a idade dela. Eu gosto de usar esse momento para esticar as pernas e ler a Bíblia ao lado dela no sofá, nem que seja por uma horinha. Ah, é tão bom! Mas nem todo dia consigo me disciplinar para ter esse tempo de descanso - às vezes meu lado neurótica fala mais alto e eu me ponho a trabalhar, organizando as coisas pela casa. O problema é que quando não paro para ter um tempo de tranquilidade à tarde quase sempre me arrependo! O arrependimento bate quando a Alícia acorda às 15:00 cheia de energia e eu sinto que já estou esgotada - no limite do meu cansaço e da minha paciência. E é nessa hora do dia que fico contando os minutos para o meu marido chegar logo do trabalho para assumir o turno dele porque a minha bateria já está no fim. E em pensar que em breve começam minhas aulas e depois do jantar terei de sair às pressas para pegar o trem pra faculdade!

Os Conteúdos
Bem, primeiramente, preciso constantemente me lembrar que a Nicole só tem 3 anos e 5 meses e que nessa idade ela precisa brincar. Ponto. Digo isso porque tenho a tendência de ser acadêmica e de levar as coisas a sério demais e, se eu não tomar cuidado, daqui a pouco terei uma filha precocemente alfabetizada! Percebi isso enquanto fazia o planejamento dos objetivos pedagógicos que tinha para esse ano de homeschooling. Coloquei no papel tudo o que queria trabalhar com ela, veja como ficou:

Matemática e Jogos de Raciocínio
- Contar até 20 (reconhecer os números na ordem)
- Conceitos: menor e maior, antes e depois (usando dados e dominó)
- Fazer conjuntos (usando bolinhas de gude, botões ou outros)
- Conceito de comprar e vender (usando dinheirinho, brincando de supermercado)
- Jogo da memória, quebra-cabeças,dominó, connect four, jogo da velha, jogo de dama
- Somar e subtrair (esse daqui foi meu marido que acrescentou, rs)

Alfabetização - Ler e Escrever
- Música do alfabeto (ela já conhece, falta associar com a letra)
- Reconhecer letras (usando flashcards e letras avulsas)
- O som das vogais, rima de palavras ou tudo o que começa com a letra __.
- Introdução à caligrafia / copiar letras (essa daqui também acho bem precoce, rs)

Artes e Atividades Sensoriais
- Desenhar, pintar com tinta, colorir com lápis de cor, colar adesivos
- Cortar papel usando tesoura, moldar com massinha, traçar pontos
- Colar figuras, colar lantejoulas / glitter, fazer bolinhas com papel crepom
- Atividades com água, arroz cru e afins
- Brincar de adivinhar que alimento é pelo cheiro ou sabor

Movimento Corporal e Musicalização
- Dançar, correr e pular (com dois pés, com um pé, obstáculos, corda, amarelinha)
- Conceitos: direita/esquerda, dentro/fora, ritmo
- Equilibrar, alongar, dar cambalhota, fazer estrela, carrinho de mão
- Bexiga, bambolê, bicicleta, bola (chutar, arremessar, rolar)
- Músicas com gestos, palmas, bater os pés
- Conceitos: alto/baixo, rápido/lento
- Diferentes sons (ex. bater panela ou plástico) e tipos de instrumentos
- Dramatização de historias, usar fantasias para contá-las, fantoche

Ciências e Geografia
- Culinária (real e imaginária): cozinhar/assar, quente/frio
- Estados da água: gelo/líquido/vapor
- Jardinagem (nossa horta): plantar sementes e aguar todos os dias
- Plantas (árvores, flores, frutas, verduras, legumes)
- Animais (aves, peixes e animais terrestres) e insetos (explorar com lupa!)
- Corpo (parte externa e interna, cinco sentidos)
- Céu (nuvens, sol, lua, estrelas, chuva, arco-íris)
- Localização (subida/descida, vale/topo) e proximidade
- Meios de transporte (ônibus, avião, carro, moto, etc.) e semáforo

Parece um pouco exagerado, né? É, talvez. Mas melhor planejar a mais do que a menos, rs. O bom é que tenho para onde recorrer naqueles dias que estou cansada demais para ter boas ideias. O plano serve para eu me lembrar qual o meu objetivo, onde quero chegar porque às vezes me bate uma insegurança por nunca ter trabalhado com crianças em contexto escolar antes. Tenho tentado me inteirar ao máximo e a internet facilita muito. Acho que ideias não vão me faltar, o que eu preciso mesmo é de disciplina para conseguir aplicar todas as que eu já tive!

Vou aproveitar aqui para compartilhar recursos para quem tem filho pequeno e precisa de ideias!

- Antes de se mudar para os EUA, a Cristine (escritora desse blog) me passou dois livros pedagógicos com ideias de atividades para se trabalhar com crianças pequenas. Um chama-se Totline Theme-A-Saurus - The Great Big Book of Mini Teaching Themes e o outro Creative Activities for Young Children. Já andei dando uma olhada e eles têm muita coisa boa.

- Outro recurso valioso que eu já uso há mais ou menos um ano é o site Productive Parenting. Você se cadastra nele colocando nome, idade e interesses de cada filho e recebe por e-mail sugestões de atividades para fazer com eles. No começo eu programei pra receber 4x /sem, mas não estava conseguindo fazer todas (não dava conta), então configurei para uma atividade apenas por semana (pra cada filha). Ficou bem melhor assim. O site é tão prático que você escolhe até o dia da semana que quer receber a atividade!

- Uma pessoa da minha igreja que homeschool me indicou um canal do youtube chamado Childcareland - são mais de 570 vídeos bem curtinhos com ideias de atividades para se fazer com os pequenos. Essa autora também disponibiliza pelo blog materiais gratuitos para serem impressos. Vale a pena conferir!

- Uma outra pessoa me passou um post do blog Simple Little Home em que a autora também homeschool os três filhos e dá 40 ideias muito boas de atividade que você pode dar para seu pequeno fazer enquanto você trabalha com o seu filho mais velho.

Os Materiais
Por ainda não ser uma prática regulamentada no Brasil, não existem aqui materiais didáticos específicos para quem deseja ensinar os filhos em casa como existem lá fora. Como falamos em inglês com as meninas, fiquei interessada em adquirir material que a empresa americana Sonlight comercializa, mas ainda não tive coragem de efetuar a compra por causa do valor do frete. Estou esperando algum amigo norte-americano com considerável espaço na bagagem vir para SP e dizer que pode trazê-los pra mim (talvez isso aconteça só em setembro!). Para vocês terem uma ideia, o preço do pacote completo para 3-4 anos (são 26 itens, sendo a maioria livros com muitas histórias infantis em cada) fica quase 600 reais (269 dólares). O frete para quem reside lá é gratuito, mas para quem mora no Brasil custa 270 reais (127 dólares)!

Apesar de setembro ainda estar bem longe, estou em paz porque sei que é Deus mesmo quem provê os recursos para a missão que Ele nos confia. Eu só preciso arregaçar as mangas para fazer a minha parte e descansar nEle. Senti isso na pele e pude ver a mão do Senhor agindo e confirmando o Seu desejo. Mal iniciamos esta nova fase e Ele já nos abençoou de formas tão lindas e inesperadas. Vou compartilhar algumas bênçãos, pois sei que isso pode ajudar a fortalecer a sua fé de que Ele está trabalhando por nós enquanto descansamos!

- No fim do ano passado uma conhecida que trabalha numa editora cristã que tinha livros em inglês para doar se lembrou de mim e perguntou se eu me interessava em recebê-los. Lógico, né! E então ganhamos oito livrinhos infantis! Apenas alguns dias depois, uma amiga enviou por correio outro livrinho infantil em inglês de presente para as meninas.

- Passado alguns dias, ainda no fim do ano, achei sem estar procurando uma loja com todos os produtos em liquidação porque ia encerrar suas atividades. Aproveitei a pechincha para comprar coisas bem baratinhas para as meninas - alguns brinquedinhos para a cozinha delas e muitos adesivos para as nossas atividades artísticas.

- Por fim, despretensiosamente participei de um concurso da Staedtler pelo facebook - sério, foi tão despretensiosamente que eu nem lembrava que tinha participado quando recebi o comunicado por e-mail que havia sido uma das vencedoras! - e dentro de poucos dias serei premiada com um kit completo de material escolar. Uma ótima surpresa!

Palavra Final
No início do mês passei por aquele momento tão crucial quando tomamos uma decisão muito importante e de repente somos bombardeados de dúvidas. Será que estou fazendo certo? Será que vou me arrepender? Será que entendi direito o que Deus disse? Por que eu fui "inventar para a cabeça" se é tão mais fácil fazer o que todo mundo está fazendo?

Tive momentos de hesitação, confesso. Em meio a lágrimas porque a Nicole começou a pedir com frequência para ir à escola assim que acordava pela manhã, comecei a me questionar se realmente estava fazendo o melhor para ela. Um dia ela choramingou que queria ver a tia da escola... e isso partiu meu coração! Me derramei diante de Deus pedindo sabedoria e força para atravessar com ela aquele momento triste de entender a separação, de entender que esse ano ela não vai mais para a escola. Quantas vezes precisei repetir e explicar! Sabia que não poderia ignorar os sentimentos dela, então oramos pela tia que ela tanto queria ver, pedimos para Deus abençoá-la e também para nos ajudar esse ano aqui em casa. Sei que talvez ainda seja necessário fazer isso mais algumas vezes. É difícil, mas necessário!

Quando a gente é mãe a gente quer satisfazer todos os desejos dos nossos filhos e, por alguns dias essas circunstâncias me fizeram sentir-me incapaz. Porém, o tempo todo eu sabia - lá no fundo do meu ser - que eu não poderia duvidar no escuro aquilo que eu tive certeza no claro. Era hora de seguir em frente e levar a cabo o plano que Deus colocara no meu coração. E foi o que eu fiz.

Senti de compartilhar isso porque pode ser que tenha alguém passando pela mesma situação e precise desse encorajamento! Fixe os olhos no alvo e toda vez que você se sentir desencorajada, derrame-se na presença de Deus porque é somente nEle que você encontra paz e força!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Depressão na Gravidez

A gente sempre ouve falar de depressão pós-parto, algo que infelizmente muitas mamães acabam tendo por causa da mudança hormonal, falta de sono, cansaço, etc. Mas e depressão na gravidez? Será que também existe?

Eu nunca havia ouvido falar, aliás, muito pelo contrário, sempre pensamos em gravidez como um momento radiante na vida de uma mulher, não é? Algumas sofrem um pouco mais, com enjoos e mal-estar, mas a esperança de algo maravilhoso por vir as dá força e ânimo.


Ano passado meu marido começou a falar sobre um terceiro filho. Eu sempre imaginei que teria três filhos (eu e meu marido crescemos em famílias com 3 filhos) mas depois da Larissa passei por um tempo horrível por causa de uma transtorno de ansiedade. Eu havia sofrido um acidente de carro com meu filho, que na época tinha 20 meses, e engravidei da Larissa logo que ele teve alta do hospital. Depois que ela nasceu, 1 ano depois do acidente, tive um ataque de pânico em relação ao meu filho e desencadeou-se um transtorno de stress pós traumático. Não entrarei em detalhes, mas foram meses de angústia, não tenho nem palavras para descrever. Deus me rodeou de amigas e pessoas que me ajudaram e me apeguei Nele como nunca. 


Depois dessa experiência, não conseguia imaginar ter mais um filho. Por isso quando meu  marido começou a falar de um terceiro filho, precisei orar muito. Disse a ele que Deus precisaria trabalhar muito em mim ainda. Ainda orando e colocando nas mãos de Deus, em Setembro do ano passado descobri que estava grávida! E agora?? Fiquei feliz e ao mesmo tempo pensei "que loucura!"


Quando estava com 6 pra 7 semanas recebemos visita dos meus sogros e cunhada, que ficariam 1 mês aqui conosco. Contamos a novidade a todos e parece que logo em seguida comecei a sentir os efeitos dos hormônios. Parece que a cada gravidez o cansaço e fadiga que senti piorou. Nesta terceira, foi demais. Não conseguia fazer absolutamente nada...me sentia doente, como se estivesse com febre, não conseguia levantar do sofá. Queria estar curtindo a visita da família do meu marido, passeando... mas me sentia extremamente mal. O cansaço era tão absurdo que me fazia passar mal. Meu corpo não aguentava. Logo meu físico começou a afetar meu emocional e me sentia entrando em depressão. O sentimento era muito familiar e me dava desespero pensar em cair neste buraco de novo. Por que a depressão é tão difícil de controlar?


Quando pesquisei na internet a respeito de depressão durante a gravidez, vi que não é tão raro assim. Aliás, parece que uma em cada dez mulheres tem. A alteração hormonal, o mal estar e o cansaço às vezes desencadeiam uma depressão na gravidez, principalmente se a mulher tem um histórico disso.


O que eu fiz? Cuidei para não cair no desespero e pedi ajuda. Mandei mensagens a amigas que me conheciam bem e pedi oração. Me forcei a levantar e comecei a fazer ginástica. Na primeira tentativa na esteira andei rápido por 10 minutos e precisei parar! rsrs. Não foi fácil começar mas logo comecei a perceber que minha energia aos poucos melhorava. Ainda estava muito vulnerável e chorava à toa, às vezes tinha ansiedade também. Nestas horas precisamos muito de amigas, amigas para conversar, chorar, orar... e precisamos muito da Palavra de Deus. Quando nossos pensamentos são ruins, as emoções são ruins...e precisamos forçar nossos pensamentos a mudarem. Precisamos colocar verdades na cabeça. Mesmo sem ter vontade, temos que nos lembrar do que é verdadeiro, do que é bom. 


Minhas dicas para quem estiver passando por depressão na gravidez (ou no pós-parto):

  • Se deixe descansar mas não se entregue ao cansaço. Faça algum esforço, nem que seja levantando os braços enquanto está deitada no sofá! Uma amiga psicóloga me falou que qualquer esforço já ajuda. Ficar deitada e deixar que a depressão domine é uma bola de neve. Então se force a levantar, ir lá fora no sol...caminhar um pouco. Eu sei que as vezes parece impossível! Mas faça algo!
  • Procure ajuda!! Não deixe a coisa crescer! Ligue para uma amiga, chore com ela, com seu marido ou até mesmo marque de conversar com uma psicóloga. Mas converse com alguém! Enterrar as emoções ou escondê-las não vai faze-las irem embora. Alguma hora vai explodir. Quanto mais cedo colocarmos pra fora e acharmos apoio, mais rápido vamos melhorar. Chorar é um ótimo remédio. Sentimos um alivio enorme quando choramos, quando compartilhamos, quando pedimos ajuda, nem que seja um clamor a Deus! "Felizes os que choram, pois Deus os consolará." Mateus 5:4. Quando choramos e clamamos a Deus, reconhecemos que precisamos Dele, e Ele então vem ao nosso encontro.
  • Leia um bom livro e procure seus versículos favoritos. Seus pensamentos mandam nos seus sentimentos, por isso, se você controlar seus pensamentos e renová-los, suas emoções também seguirão pelo mesmo caminho. Sabe aquele tipo de livro que você não consegue largar de tão bom? Procure um assim! Também tenha na ponta da língua verdades da Palavra de Deus, e lembre-se destas verdades sempre. Diga à sua própria mente o que é para ela pensar.
  • Procure relatos de outras mamães que passaram por isso. Você verá que não é só você e verá como outras mamães conseguiram superar também. Se você está aqui, lendo meu relato, já é um bom começo! Quando descobri que o que eu estava tendo, na época que minha filha era bebê, era um transtorno comum que acontecia com outras pessoas, senti um peso sair dos meus ombros. Você não é a única a passar por isso, e poderá ser encorajamento e apoio para outras que ainda passarão por isso. Não desista!
  • Procure mais ajuda em casa. Não tenha vergonha de pedir ajuda para sua mãe, irmã, ou seja quem for! Se puder, pague sua faxineira para vir mais vezes, fazer um pouco mais...ou contrate uma ajuda maior. Se o seu orçamento não permite, peça pra Deus mostrar alguém que possa ajudá-la. Nunca esqueço da história que a tia do meu marido me contou uma vez. Ela estava doente, com 2 filhos pequenos e a casa estava de ponta cabeça. Não podendo levantar, tudo se acumulava. Um belo dia uma faxineira pergunta na portaria do prédio se sabiam de alguém procurando ajuda. O porteiro lembra da tia do meu marido e a faxineira sobe para conhecê-la. Não é que ela fica, limpa TUDO e não cobra nada? Ela nunca mais viu a mulher, parece até que foi um anjo que Deus mandou (e não duvido!). Clame a Deus, e creia!
  • Agradeça a Deus, mesmo que não sinta vontade! Lembro de um momento que estava me sentindo no fundo do poço, extremamente deprimida. Lembrei de um versículo que diz para darmos graças em todas as circunstâncias e, mesmo sem vontade, comecei a pensar em coisas para agradecer. Comecei a agradecer a Deus pelos meus filhos, pela saúde deles, pelo emprego do meu marido, pela comida...TUDO o que me vinha a mente. E não é que comecei a me sentir melhor??
Aqui vão alguns versículos para ajudar!
"Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá." Salmo 127:3 
"...se existe alguma virtude e se existe algum louvor, é isso que tem de ocupar o pensamento de vocês: tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável e tudo o que é de boa fama." Filipenses 4:8 
"Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti, porque confia em ti!" Isaías 26:3 
"Sabemos que, em tudo o que acontece, Deus trabalha para o bem daqueles que o amam, daqueles a quem Ele chamou de acordo com o seu plano...O que diremos então a respeito destas coisas? Se Deus está conosco, ninguém nos vencerá! Se Deus nos deu até seu Filho, oferecendo-o por todos nós, não nos dará certamente também todas as outras coisas? ...Cristo Jesus é aquele que morreu, mas não só morreu, como também ressuscitou e está ao lado direito de Deus. Ele pede a Deus a nosso favor. O que vai nos separar do amor de Cristo? Serão os sofrimentos, as dificuldades, as perseguições? Será a fome, a miséria, o perigo ou a morte?...Mas em todas estas coisas temos a vitória total, por meio de Deus que demonstrou o seu amor por nós. Porque eu estou bem certo que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem anjos, nem forças espirituais; nem qualquer coisa do presente, nem do futuro; nem qualquer coisa que está acima de nós ou abaixo de nós; nem poderes nem qualquer criatura poderá nos separar do amor que Deus tem por nós em Cristo Jesus, nosso Senhor." Romanos 8 
"Não vivam ansiosos por causa de nada. Ao contrário, orem a Deus, em qualquer circunstância e peçam a Ele o que vocês precisam. E façam isso sempre COM AÇÕES DE GRAÇA. E a paz de Deus, que está além da compreensão humana, guardará os corações e as mentes de vocês em Cristo Jesus." Filipenses 4:13
"Tudo posso naquele que me fortalece." Filipenses 4:13
Lembre-se: VAI PASSAR!! Não se entregue e não desista! Normalmente quando os hormônios no corpo da mulher se estabilizam, as coisas começam a melhorar. Não se esqueça: filhos são uma benção de Deus!

Se você está passando por isso ou já passou, adoraria ler seu comentário! Compartilhe com a gente.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Violência obstétrica em foco - sobre o documentário e a minha experiência

No fim do mês passado recebi por e-mail a divulgação do vídeo-documentário popular Violência Obstétrica - A voz das brasileiras, publicado no youtube em 24/11/2012, com os seguintes esclarecimentos:

"Peço que assistam e divulguem em todas as suas redes. Esse vídeo-documentário popular foi produzido por colegas do grupo de pesquisa GEMAS da Faculdade de Saúde Pública da USP, coordenado pela Professora Simone Diniz. Foi realizado a partir de vídeos caseiros gravados pelas próprias mulheres vítimas de violência obstétrica, absolutamente rotineira em serviços públicos e privados no momento do parto / nascimento. São 51 minutos de compartilhamento de angústias. Vamos auxiliar a dar visibilidade a esta questão, e assim resgatar para as mulheres o direito a uma assistência digna e baseada em escolhas informadas pela evidência".

O termo "violência obstétrica" é novo para mim e achei a iniciativa desse grupo de pesquisa muito válida! No entanto, sem querer desmerecer o esforço de quem se envolveu nessa bela empreitada (com certeza deu um trabalhão), a produção do vídeo deixou a desejar em alguns quesitos que eu considero importantes. Isso, infelizmente, me desmotivou a continuar assistindo e quase me fez desistir duas vezes - eu que amo esse assunto, imagine quem tacha como "frescura" esse movimento pró parto normal?

Considerações sobre a produção do documentário
1. Cada mulher filmou seu próprio depoimento em casa, então a qualidade do áudio ficou ruim - o que é compreensível, mas poderiam ter colocado uma legenda; há momentos que, em meio a barulho de cachorro, papagaio e carros na rua, não dá para entender o que a pessoa está dizendo.

2. Eu particularmente também não gostei da forma como foi feito o recorte dos depoimentos - ficaram picados e eu tive dificuldade de acompanhar a história inteira de cada mulher.

3. Após poucas palavras, já havia um longo intervalo para reforçá-las, sem conteúdo relevante que justificasse isso. Isso tornou o vídeo cansativo para mim. Sem querer, obviamente, menosprezar a dor das mulheres que contaram suas histórias (porque me empatizo com elas!), o recurso dos intervalos exagerados para provocar tensão, como nos jornais sensacionalistas - pouca informação clara e muito drama - não era necessário e me incomodou. O "relato simples", eu creio, já teria sido suficiente para emocionar.

4. Em algumas falas, as mulheres usam nomes técnicos para comentar procedimentos adotados pela equipe médica e não há um esclarecimento em linguagem comum do que eles significam. Como a intenção do documentário é atingir, dentre outros, o público feminino leigo para que se atente à esta importante questão, acho que poderia ter havido um pouco mais de esclarecimento de pontos que passaram batido.

Apesar desses pontos contras, como falei acima, o tema é muito pertinente e acredito que merece sim ser divulgado! Inclusive, para quem se interessar, a Lígia Moreiras Sena, uma das principais defensoras do movimento contra a chamada 'violência obstétrica' e autora do blog Cientista que Virou Mãe, publicou um post contando um pouco sobre como foi A repercussão do documentário.

Claro que não posso terminar esse post sem falar do que é o mais importante: o essencial do documentário -  aquilo que ele agregou de conhecimento a mim e a reflexão que pude fazer à medida que ouvia os relatos e pensava na minha própria experiência. Para fazer esse post, fiz questão de assisti-lo todo mais uma vez e, como eu já sabia do que se tratava, achei que a experiência da segunda vez foi muito melhor. : )

Minhas duas experiências de parto foram na mesma maternidade. Curiosamente, numa das maternidades campeãs em nº. de cesarianas aqui em SP, segundo informação divulgada pelo documentário (Sinasc 2011). Em 2011, ano do nascimento de minha segunda filha, 93,8% dos partos que aconteceram no Hospital e Maternidade Santa Joana foram cesarianas! Parece que eu fui uma das poucas mamães que conseguiu ter o filho por parto normal (ou anormal, como eu costumo dizer) ali. De cara isso já diz algo sobre a experiência da equipe obstétrica em conduzir partos normais. Partos naturais então nem se fala! Pelas minhas duas experiências, ninguém ali conhecia (ou tentou me orientar sobre) técnicas não-farmacológicas para amenizar a dor da parturiente ou para ajudar na evolução do TP (=trabalho de parto). A equipe não estava preparada para dar esse tipo de suporte para as suas pacientes.

Reflexões sobre o documentário e a minha experiência
A minha primeira experiência de parto no Hospital Santa Joana dois anos antes (em 2009) eu considerei muito boa - mas isso eu atribuo basicamente ao fato de eu ter chegado lá quase parindo. Em três horas minha filha nasceu. Aguentei as contrações, que para mim eram toleráveis, em casa - apesar de ter sido orientada a chegar no hospital logo para dar tempo de tomar duas doses de um antibiótico contra estreptococos, sendo a primeira com seis horas de antecedência. Como cheguei ao hospital com 4 pra 5 cm de dilatação (após quase sete horas do início das contrações de TP), só deu tempo de tomar uma dose, mas, felizmente, não houve contaminação e tudo correu rápido e bem, exceto pelo fato de eu ter vomitado durante o momento expulsivo por causa da anestesia raqui na hora de fazer a episiotomia (corte no períneo supostamente para facilitar a passagem do bebê e que hoje eu sei que é uma intervenção cientificamente considerada desnecessária). Eu me lembro que estava enjoada e tinha pedido para comer e também para tomar banho enquanto aguardava passivamente o fim do TP. Estava calor e eu muito suada, mas não fui autorizada! Também não me ofereceram água pra beber durante todo o tempo em que fiquei ali deitada. Na hora de fazer força para a bebê nascer (após anestesiada estouraram artificialmente minha bolsa), pedi algumas vezes para ligar novamente o ar condicionado porque eu estava sentindo um calor absurdo (quem já vomitou deve se lembrar do suador e mal-estar que dá!). Nesse momento estava uma movimentação louca dentro da sala, entrando e saindo várias pessoas ao mesmo tempo e foi uma agitação que só. A resposta foi que não podiam ligar o ar porque a bebê estava prestes a nascer, mas alguém ali bem que poderia ter se oferecido para me abanar, né? Rsrs.

(Apenas um rápido parêntese, quero tirar uma dúvida - se alguém souber responder, ficarei muito grata - no documentário alguém fala que não pôde usar a banheira por risco de infecção. Acho que foi uma das mulheres que ganhou no Hospital Albert Einstein aqui em SP. Isso me chamou a atenção porque uma conhecida minha ganhou lá recentemente e disse a mesma coisa! É verdade que usar a banheira existe risco de infecção? Não bastaria apenas esterilizá-la?).

Apesar de hoje saber que muitas coisas não foram como recomenda a Organização Mundial da Saúde sobre assistência humanizada ao parto, para mim foi tudo lindo. As coisas desagradáveis foram ofuscadas pela beleza do momento e a sensação de ter conseguido parir. Me senti vitoriosa! Fui tratada com respeito, meu marido ficou ali o tempo todo do meu lado, as pessoas foram gentis, estavam de bom humor, me deram muitos parabéns quando a bebê nasceu e eu me senti realizada de ver aquele rostinho lindo e saudável. É algo inexplicável. Infelizmente, não trouxeram minha filha para mamar assim que ela nasceu - como eu tinha imaginado que seria - e tive um pós-parto muito ruim: ainda enjoando e vomitando muito, sem poder ter a companhia do meu marido (pois estava em enfermaria e tinha acabado o horário de visita). Me senti muito sozinha aquela primeira noite no hospital. O dia tinha sido intenso e agora eu me sentia abandonada. Queria muito ver minha filha, mas só a trouxeram para o quarto muitas horas depois. Também continuei sem tomar banho, o que me deixou muito indignada - estava toda nojenta, como poderia descansar daquele jeito? Apesar de extremamente feliz, eu também estava muito sensível, me sentindo vulnerável e só.

Enquanto o primeiro parto foi um "quase" parto dos sonhos (uma vez que pelos meus padrões da época já que não sabia nada sobre parto humanizado), o segundo foi um pesadelo. Terrível erro de ter ido cedo demais para o hospital - fez toda a diferença e triplicou a intensidade da dor e do estresse emocional que eu senti. As pessoas costumam dizer que imediatamente depois que o bebê nasce a mãe esquece todo o sofrimento que passou para parir a criança. O meu primeiro parto foi assim, tanto que eu quis repetir a dose e abri mão até da anestesia, na esperança de ter um parto ainda mais tranquilo (dessa vez sem vômitos). Mas no segundo parto não. Esse terminou comigo aos prantos. E eu não chorava de alegria. Me sentia ferida por dentro e por fora. Meu palpite é que a mãe se esquece sim das dores do parto, sobretudo se foi tratada com respeito durante o TP, se recebeu incentivo positivo no momento da agonia. Dor física a gente esquece fácil, já dor emocional é bem mais difícil - porque envolve perdoar.

Acredito que eu posso afirmar que o que eu vivi no parto de minha segunda filha foi, de fato, "violência obstétrica". E digo mais, para a minha própria vergonha, foi "violência obstétrica consentida", se é que este termo existe. E consentida não apenas porque ao me internar no hospital eu estava espontaneamente me submetendo às normas e procedimentos médicos daquele local, mas principalmente porque eu não fiz mais em me preparar para ser a protagonista do meu próprio parto. Sem perceber entreguei a responsabilidade que era minha nas mãos de terceiros. Abdiquei do meu papel na ilusão de que é assim mesmo que tem de ser: o médico e a equipe fazem tudo e eu apenas obedeço porque são eles quem sabem das coisas - me limitei a ser mera coadjuvante de um evento fisiológico do meu próprio corpo! Fui passiva antes e durante. "A primeira experiência foi tão boa", pensei, "que nem preciso fazer nada. Basta ficar ali deitadinha como fiz da primeira vez, esperando alguém me dizer o que fazer, que vai dar tudo certo". Ledo engano!

Abaixo relato três situações de que me lembrei enquanto assistia ao documentário; são tratamentos que eu acredito que caracterizam a violência obstétrica da qual trata o documentário. Todas dizem respeito à minha segunda experiência de parto.

No pré-parto:
A auxiliar de enfermeira diz ao me colocar na ocitocina duas a três horas após a minha internação: "Agora você vai saber o que é sentir dor, agora é que o couro vai comer".

Minha resposta: Fiquei sem graça, mas acho que não disse nada. Hoje fico pensando no que levaria uma auxiliar de enfermagem de maternidade a falar uma coisa dessas para uma parturiente. Parecem absurdas suas palavras, né? Pois é, eu também acho, mas meu palpite é que ela não falou aquilo como profissional da saúde treinada para dar assistência a partos normais (que dirá assistência humanizada!). Ela falou como mulher que provavelmente teve uma experiência de parto bem ruim, como alguém que conhece na pele a ação desse hormônio artificialmente produzido e, em sua ignorância, deve achar que é assim mesmo - parto tem de ser com "sorinho" pra acabar logo e tem de doer muito, a mulher tem de se descabelar e berrar como uma condenada, igualzinho a gente vê nas cenas dos filmes. Em seu treinamento de enfermagem com certeza nunca disseram a ela que há outras formas (naturais) de acelerar as contrações do TP e também de aliviar a dor. E também ela com certeza nunca ouviu falar que o apoio e amparo psicológico à parturiente visando seu bem-estar emocional fazem toda diferença para a evolução do TP. Mas, por algum motivo, não fiquei com raiva dela. Fiquei com raiva do hospital por ter treinado mal a sua equipe. Fiquei com mais raiva ainda da enfermeira responsável pelo turno da madrugada que não deu a mínima pra mim. Da meia-noite às 7:00 da manhã só a vi duas vezes - pra amarrar a fita do cardiotoco na minha barriga, aparentemente algo que a auxiliar de enfermagem não poderia fazer. Ela sim tinha a obrigação de entender sobre partos e sobre o que recomenda a OMS (=Organização Mundial da Saúde) sobre assistência humanizada ao parto!

No pós-parto:
Após o nascimento, depois de eu ter berrado de dor e sofrido absurdamente por causa das contrações induzidas com ocitocina sintética, a médica irritada porque ainda reclamo de dor e fico me contorcendo enquanto ela tenta tirar a placenta (e hoje sei que, se na posição adequada, o corpo a expele sozinha!) e me suturar solta: "Foi do jeito que você quis. Foi do jeito que você quis". Nas entrelinhas entendi: Foi você quem pediu para ser sem anestesia, agora cale a boca e aguente até o fim. Ela repetiu a mesma frase algumas vezes. Minha primeira reação foi engolir em seco e ignorar (mesmo porque não estava conseguindo me concentrar ou pensar direito naquela hora!), mas como ela falou de novo, não me contive e retruquei irada. Com os dentes cerrados falei: "Não, não foi nada do jeito que eu quis". Tive vontade de falar muito mais, mas não consegui. Estava doendo demais e eu queria apenas que acabasse logo. Queria que todo mundo sumisse da sala para eu poder desabar aos prantos. Nem minha filha eu queria ver naquele momento, tamanho era o meu desespero interior. Eu sei que a médica falou aquilo porque ela também estava nervosa, porque ela também tinha ficado descompensada com a minha reação e sofrimento e certamente porque sentia o peso da responsabilidade nos seus ombros. Mas transferir a culpa para mim e dizer que eu quem quis que fosse daquele jeito? Doeu demais. E doeu também porque meu marido não me defendeu. É óbvio que eu não quis ter passado a noite presa à uma cama e quarto de hospital, tomando ocitocina por horas, praticamente abandonada e sem orientação! Me identifiquei com a fala da Patrícia Roberta Bellanda no documentário quando ela diz "Não precisava de nada daquilo". Hoje me informando sobre o assunto, sei que poderia ter sido tudo tão diferente!

Não tomei anestesia porque não queria vomitar como da primeira vez (e também porque quando a solicitei eu não tinha mais condições de ficar imóvel), não porque eu quisesse bancar a heroína! Eu queria um parto natural humanizado como nos relatos que li durante a gestação e esperava que a médica e a equipe obstétrica do hospital fossem me ajudar a consegui-lo, com afirmação e apoio, não fazendo eu me sentir culpada por estar atrapalhando o descanso de todos durante um TP na madrugada de um domingo. Mas não foi o que aconteceu! Pra mim hoje é nítido que as intervenções médicas só pioraram a evolução do meu TP: elas tiraram minha liberdade de caminhar (como a Priscila Perlatti contou no documentário, depois que amarram a fita de cardiotoco na nossa barriga, a gente "não pode se mexer para não perder o coraçãozinho do bebê"), de comer e de beber à vontade, de ir ao banheiro, de ficar na posição que fosse mais confortável para mim durante as contrações, fui desrespeitada com muitos toques doloridos (feitos bruscamente), levei bronca quando no momento da dor intensa perdi o controle e não "me comportei" como queriam e, no fim, ainda humilhada ao ouvir que tudo tinha acontecido como eu pedi que fosse - ou seja, pra deixar bem claro mesmo que "a minha vontade" tinha sido respeitada.

Minha resposta: Na última visita médica antes da alta hospitalar, envergonhada por ter agido daquela maneira, pedi desculpas a ela e entreguei um cartão-foto pelo seu aniversário dali uma semana. Desculpas porque eu estava irada no dia do parto (havia sido internada contra a minha vontade e não me conformei) e, como diz a Palavra, "a ira do homem não produz a justiça de Deus". Além dessa médica ser uma pessoa muito especial para mim (um ato desumano, por pior que ele seja, não desqualifica dezenas de manifestações de carinho e respeito), eu sabia que não podia carregar toda aquela mágoa e amargura dentro de mim e pedi a Deus que me ajudasse a perdoá-la. Eu continuava muito irada e na primeira visita pós-parto (no dia anterior) foi meu marido quem lhe entregou o presentinho que havíamos comprado porque eu não tive coragem de fazê-lo. Ainda estava muito machucada por dentro. Então, no dia seguinte fiquei só (meu marido voltou pra casa pra ficar com a nossa outra filha) e eu passei o tempo todo conversando com o Senhor sobre isso. Eu queria muito e sabia que precisava perdoá-la de coração. Como é difícil! Sabia que nada foge dos desígnios de Deus e que Ele estava usando aquela situação traumática para me tratar, me aperfeiçoar, me aproximar dEle. Até hoje me emociono e sinto vontade de chorar quando penso no assunto porque foi muito intenso tudo o que eu senti. Uma experiência que me marcou profundamente.

No pré-natal:
No consultório, após eu falar para a médica que pesquisei bastante sobre o que é toxemia gravídica, ela me repreende dizendo: "Quem é a sua médica: eu ou a internet?".

Minha resposta: Fiquei chocada, mas imediatamente pedi desculpas e me calei. Obviamente minhas intenções ao pesquisar sobre o assunto tinham sido as melhores possíveis. Eu queria apenas entender o que era aquilo que ela disse por telefone que eu tinha (por causa da minha constante pressão alta). Pensei que estaria ajudando ao ser uma paciente bem-informada e, claro, tomei o cuidado de ler apenas sites e conteúdos confiáveis, escritos por especialistas. Não tinha ido pesquisar ou mesmo dito aquilo na consulta para afrontá-la! Claro também que essa repreensão não me impediu de continuar pesquisando... só não o fiz mais porque estava física e mentalmente esgotada nos últimos dias (foi uma gravidez muito difícil pra mim).

A busca por um médico que aceite fazer parto normal
A fala da Anne Rami me intrigou. No documentário ela conta como caiu nas mãos de um médico cesarista que se gabava de ser campeão de partos normais, dizendo, inclusive, que se sentia muito mais obstetra fazendo partos normais mas que, no fim da gestação, a pressionou para agendar uma cesária, usando uma série de argumentos falsos sobre a sua não-possibilidade de ter parto normal. Essa parte do documentário realmente vale a pena assistir porque ao meu ver ela desmascara a sutileza da violência obstétrica: a parte que abala o emocional da gestante, fazendo-a sentir-se culpada por querer algo que pode "prejudicar" a criança quando, na verdade, é o contrário! A cesariana é muito mais perigosa para a saúde do bebê.

Vendo a Anne falar me lembrei de quando buscava por um médico que aceitasse fazer parto normal. Antes de engravidar eu me consultava com uma ginecologista que conhecia há pouco tempo. Gostava muito dela porque ela passava confiança de que era vocacionada e profissionalmente competente. Até me intimidava um pouco, porém era muito atenciosa e simpática e suas consultas duravam de 30 min para mais. Quando eu engravidei pela primeira vez, por influência de uma amiga que já tinha me alertado que alguns médicos enganavam suas pacientes para induzi-las a aceitar uma cesária, já na primeira consulta pré-natal perguntei à esta médica se ela fazia partos normais e, especificamente, perguntei de todos os partos que ela já havia feito quantos haviam sido normais. Ela não me deu um número exato, mas admitiu que sua média ainda não era o que ela gostaria - como a de alguns colegas de profissão - mas que certamente fazia partos normais sim porque, segundo ela, eram partos normais que "lhe davam tesão". Fiquei tranquila com a resposta e confiante de que havia "dado sorte" achando uma boa médica de primeira!

Passada a segunda consulta, após o atendimento fui informada pela secretária da médica que, a partir de tal data (acho que dali uns 2-3 meses), a médica não atenderia mais pré-natal de convênio enfermaria. Achei estranho porque tinha acabado de sair da sala da médica que não havia comentado nada. Deixei a próxima consulta agendada para o mês seguinte e entrei em contato com o meu plano de saúde para subir de categoria. Na consulta seguinte, como de costume, foi tudo ótimo - ela foi dinâmica e agradável. Citei que havia feito o upgrade do meu plano e que a partir do próximo mês passaria a ser categoria apartamento. Ela agiu normalmente e ficou tudo bem, continuou garantindo que faria meu parto normal sem qualquer problema. Porém, grande foi a minha surpresa ao descer da sala dela até a recepção e receber novamente a notícia da "desavisada secretária" que a médica estaria em processo de desligamento da Unimed Paulistana (explicou que era porque pagavam mal e não estava mais compensando) e que a partir de x data ela só atenderia consultas particulares. Fiz aquela cara de "Como assim?" e a secretária disse: "Ué, ela não falou?". Não, ela não tinha falado! Nessa hora, meu "mundo" desmoronou. Como ainda teria direito a mais uma consulta pelo convênio, deixei agendada a consulta do mês seguinte só para garantir mesmo, mas já cancelei o upgrade do meu plano (já que a mudança àquela altura do campeonato não me daria direito a usufruir da acomodação apto antes de 10 meses) e comecei a busca por um novo obstetra.

O primeiro, indicado pela secretária da própria médica que eu gostava, segundo ela, fazia parte de sua equipe, mas ele mal olhou na minha cara. Não gostei e, sendo gestante de primeira viagem, comecei a ficar preocupada. Voltei à consulta com ela, falei que não tinha gostado do tal médico, e ela falou tranquilamente que ainda poderia fazer o meu parto. A proposta era que eu pagasse todas as consultas particulares e um valor extra para o parto. A internação hospitalar ela disse que eu poderia fazer via convênio, mas explicou que no dia do parto, outro médico iria assinar como médico responsável (porque ela não seria mais credenciada pelo plano), mas que ela entraria como parte da equipe e pessoalmente se encarregaria do meu parto. Ela explicou que estava se desligando da Unimed porque pagavam muito pouco e era difícil encontrar profissionais que aceitassem compor a equipe uma vez que o valor pago dava uma "mixaria pra cada um".

Bem, é óbvio que eu não aceitei. Minha mãe até se ofereceu pra pagar o parto porque ela viu como isso era importante para mim, mas era "muita mutreta para o meu gosto". Além de ser pura enganação (e mentir é sempre errado), tinha todas as chances do mundo de dar algo errado no meio do caminho. Não, eu não me sentia segura com essa possibilidade. O depoimento da Anne Rami no vídeo-documentário me lembrou essa história porque o obstetra dela a enganou com um discurso parecido. Ele havia dito que só se sentia obstetra de verdade fazendo partos normais e que jamais fazia cesárias desnecessárias, mas no finzinho da gestação, usou de sua autoridade para apresentar justificativas falsas para o agendamento da cesária. No meu caso, eu não tenho como saber se ela mentiu sobre preferir fazer partos normais ou não, mas que ela preferiu deixar para a secretária me falar sobre o descredenciamento do plano e aparentemente também não se constrangia em mentir para o hospital e plano de saúde. O fato é que infelizmente não cheguei a conhecer nenhuma paciente dela que tenha tido parto normal - ironicamente, as duas únicas pacientes dela que conheci fizeram cesarianas - e isso só me caiu a ficha agora! Uma informação importante, mas sobre a qual eu não me atentei na época. Quem sabe se esse desligamento do plano que me obrigou a procurar outro obstetra quando eu já estava tão contente e satisfeita com a minha médica não tenha sido livramento de Deus para eu não ter de passar por uma cesariana desnecessária? A dica que fica é: converse com outras pacientes na sala de espera antes de suas consultas, faça perguntas à secretária e tente sutilmente descobrir se o médico em questão realmente tem experiência com partos normais. Alguém no documentário também dá a dica de desconfiar se nenhuma de suas consultas for reagendada porque o médico teve de fazer um parto normal.

Passei por quatro médicos (e já estava com a consulta do quinto médico agendada) antes de encontrar a médica que fez os meus dois partos. Ela foi um presente de Deus na minha vida! Em todos tinha sempre alguma coisa que o/a obstetra dizia que não me passava confiança. Um deles, em particular, fazia ultrassom na consulta (não sabia, mas segundo a Anne este é um forte indício de que seja cesarista, rsrs) e foi bem sincero avisando que as consultas pré-natais ele garantiria mas, dependendo de quando eu entrasse em TP, ele indicaria alguém da equipe dele para fazê-lo e não descartava a possibilidade de que eu tivesse de ganhar com o plantonista do hospital (se fosse mesmo pra ser parto normal). A pessoa que me indicou este médico (minha tia) tentou parto normal duas vezes, mas não conseguiu em nenhum, então eu já pulei fora depois da primeira consulta.

A médica que fez os meus partos me conquistou na primeira consulta quando contou um pouco sobre sua experiência de parto. Mãe aos quarenta, ela teve um parto normal com fórceps depois de não sei quantas horas de TP (bem sofrido), mas garantiu que não se arrependia porque, nas palavras dela, "até hoje fecho os olhos e consigo me lembrar da sensação do meu filho descendo". Quando perguntei sobre a porcentagem de partos normais e cesarianas que ela havia feito, ela também não respondeu diretamente (acho que os médicos se esquivam de responder isso), disse apenas que o tipo de parto dependia do desejo de cada mulher e que ela faria o que a gestante pedisse. Tem mulher que pede cesária de cara porque tem medo da dor, então a médica faz cesária e pronto, não tenta convencer ninguém a fazer parto normal. Pelo contrário, se a paciente está temerosa ou indecisa, ela levanta a bandeira de que tanto um como o outro dá na mesma, não tem diferença. Outras dizem que preferem parto normal e ela aceita também, mas eu desconfio que durante as consultas ela vá jogando algumas frases para sentir o quanto a gestante realmente quer o parto normal e se está disposta a lutar por ele. Se a gestante for do tipo mole pra dor, insegura e ainda por cima desinformada, acho que ela deve empurrar para a cesária que é mais conveniente. Por exemplo, ela pode apertar sua barriga e se você choramingar de dor ou reclamar, ela dirá algo do tipo: "Se isso daqui está doendo, não sei não... tem certeza de que vai aguentar parto normal?". Ela fez isso com uma paciente que eu conheço (que, no fim, optou pela cesariana). Graças a Deus, ela não tentou isso comigo (ou se fez eu nem percebi, vai saber!), mas se eu tivesse percebido, eu acho que teria mudado de médica! Outra estratégia pra colocar medo na gestante ela tentou com essa paciente e também comigo. Engraçado que na ocasião eu "nem tchum", só fui me dar conta muito tempo depois (devo ser muito tapada mesmo, rs!): Numa determinada consulta, ao ler o resultado de uma USG, ela soltou o seguinte comentário como quem não queria nada: "Nossa, como a bebê já está grande para a idade...". Eu fiz cara de que não entendi e ficou por isso mesmo. Claro que não passava de blefe para testar meu medo de parir um neném grande - mesmo porque minha bebê era toda pequenina e nasceu com menos de 2,500 kg!

Aproveitando o assunto do "bebê grande", lembro de outra situação que presenciei neste mesmo hospital três anos atrás. Alguns dias antes da minha primeira filha nascer, passei no pronto atendimento do hospital para avaliar a intensidade das contrações que eu estava sentindo (era um falso TP). Enquanto fazia o exame de cardiotocografia, ouvi a conversa de uma paciente novinha e duas auxilares de enfermagem que a atendiam no biombo do lado. A moça dizia que estava esperando para ter parto normal e uma das funcionárias do hospital começou a botar medo nela, dizendo algo do tipo: "O quê? Mas olha o tamanho da sua barriga, menina. Seu bebê é enorme. Você vai sofrer demais pra ele nascer. Marque logo uma cesária. Ouve o que eu estou te dizendo...". Absurdo, né?! Acho que se fosse hoje eu denunciava, rsrs.

Mas voltando a falar da minha médica, o fato é que ela faz sim partos normais: além de mim, conheço duas outras (amigas minhas) que tiveram parto normal com ela e também sei que ela já reagendou dias de consulta (inclusive para o sábado) por causa de partos normais em horário de expediente durante a semana. Por outro lado, também conheço outras duas pacientes dela que "queriam" normal mas acabaram indo para a cesariana mesmo. Coloquei entre aspas porque não basta que o parto normal seja a sua preferência, você precisará batalhar por ele, se informar, ser determinada e vencer suas próprias ansiedades e medos. Por fim, é uma obstetra que indico (dadas as citadas ressalvas). Apesar de ter problema com horário (em praticamente todas as consultas tive de esperar uma a duas horas para ser atendida), o consultório dela está sempre lotado porque ela é muito calma, amável e querida por suas pacientes. Ou seja, se a agenda dela está sempre cheia, certamente é porque as pacientes gostam do atendimento dela e a indicam para suas amigas e conhecidas (como eu faço).

Considerações Finais
Pelo documentário, uma em cada dez brasileiras sofre violência no parto (Fundação Perseu Abramo, 2010). Violência obstétrica é um termo bem forte - certamente o trauma das mulheres que contaram suas histórias no documentário também o é. Muito difícil não se emocionar ouvindo seus relatos, principalmente se você também em algum momento se sentiu constrangida, desamparada ou desrespeitada no seu TP ou pós-parto e não soube ou não pôde fazer nada para se defender ou diminuir a intensidade da dor. Como o caso da Patrícia Roberta Bellanda que, mesmo depois de dois anos, ainda não se recuperou totalmente. Se ao pensar sobre o assunto e relembrar os momentos vividos os olhos se enchem de lágrimas significa que a pessoa não superou por completo um trauma, então talvez eu também tenha de admitir que eu ainda não o superei. Chorei em vários momentos enquanto escrevia este texto e acho, inclusive, que falar sobre o assunto, destrinchar e tentar entender tin-tin por tin-tin tudo o que eu vivi e senti, me ajudou a dar passos largos rumo a essa superação. O mais importante, sem dúvidas, é perdoar: arrancar as raízes de amargura, jogar fora o rancor e deixar o Pai usar toda e qualquer situação - por melhor que seja - para nos curar, nos moldar e transformar à imagem do Seu Filho.

É verdade também que encontrar um obstetra de plano de saúde pró-parto normal é uma tarefa árdua. Porém, confesso que apesar disso tudo (inclusive de eu também me enquadrar como vítima desse tipo de violência), tenho bastante receio de usar o termo "violência obstétrica" de qualquer maneira. Como sempre, gosto de filosofar e, no meu entendimento, dizer que alguém foi vítima de "violência obstétrica" pressupõe que houve um vilão na história. Pressupõe também que esse vilão seja uma pessoa de carne e osso e que essa pessoa, necessariamente, seja o médico e/ou sua equipe obstétrica. Mas será que eles são realmente os culpados? Ou, de certa forma, eles também são vítimas de algo maior (o sistema)? Claro que com isso não estou tentando justificar a mentira, a enganação, a má fé, a ganância e nem mesmo o "jeitinho brasileiro" de querer tirar vantagem de tudo e de todos pra sair ganhando, doa a quem doer - porque, afinal, os fins não justificam os meios. Pelo contrário, quero denunciar esses vilões... porém lembrar que os verdadeiros vilões não são de carne e osso. São invisíveis, porém reais. Sim, em algumas denúncias de abuso, o agressor é mesmo uma pessoa, mas em muitas outras não - o vilão é o próprio sistema de saúde, de formação de médicos e, principalmente, do que nossa cultura valoriza como bom e desejável (e que nós muitas vezes aderimos sem sabedoria do Alto). Tanto num caso como no outro, precisamos nos lembrar que não somos deste mundo! Nossa Pátria não é aqui e o Reino a que pertencemos é outro. Por isso, precisamos estar sintonizadas com o nosso Pai e Salvador para vivermos plenamente nesta Terra, a salvo do verdadeiro e único inimigo de nossas almas. Há um mundo espiritual invisível a nossa volta que não podemos ignorar.

Como a Palavra nos orienta, em vez de sairmos atacando as pessoas que nos prejudicaram de alguma forma, vamos lembrar de orar por aqueles que nos maltratam. Ao Senhor pertence a vingança. Ele fará justiça se formos fiéis.

Lucas 6:27-36 - "Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam. Se alguém lhe bater numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém lhe tirar a capa, não o impeça de tirar-lhe a túnica. Dê a todo o que lhe pedir, e se alguém tirar o que pertence a você, não lhe exija que o devolva. Como vocês querem que os outros lhe façam, façam também vocês a eles. 'Que mérito vocês terão, se amarem aos que os amam? Até os 'pecadores' agem assim. E que mérito terão, se emprestarem a pessoas de quem esperam devolução? Até os 'pecadores' emprestam a 'pecadores', esperando receber devolução integral. Amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta. Então, a recompensa que terão será grande e vocês serão filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso para com os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso".

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Parto normal vale à pena?
Série Parto no Brasil: a caminho da humanização

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

3 anos e 4 meses de Nicole!

Atrasada em alguns dias, eu sei, mas aqui estou para tentar falar um pouco sobre os quatro últimos meses da Nicole, minha filha primogênita. Queria ter vindo um mês atrás para fazer o post "3 anos e 3 meses", mas não consegui separar um tempo pra isso!

A foto abaixo foi tirada num estudo de campo no centro de SP que eu fiz com o grupo da faculdade pouco mais de um mês atrás. Foi antes de eu levar as meninas para cortarem o cabelo nas férias. Apesar de achar lindinho criança de franja, desisti de manter a franja da Nicole. Não imaginei que manter franja fosse tão trabalhoso. Tem de apará-la mês sim mês não porque o cabelo cresce rápido demais! Na foto a franja estava presa de lado com um tic-tac para não ficar caindo no olho.


Sono e Alimentação
Ela continua dormindo bem à noite (das 19:00 às 6:00), mas para continuar assim decidimos lentamente ir substituindo a soneca da tarde por um momento de descanso no sofá (sem dormir). Embora ela demonstre sinais de cansaço, em muitos dias tenho preferido não insistir mais para que ela realmente durma à tarde porque quando ela está cansada e dorme, as sonecas são geralmente longas - de pelo menos 2 horas - e nessa idade vejo que isso já começa a comprometer o horário de dormir à noite. E é aquela história: dá o horário de ir para cama e ela não está nem um pouco cansada ou com sono! Daí entra no ciclo da criança inventar desculpas para sair da cama - pede água, pede comida, pede pra fazer xixi ou cocô, fica cantando ou conversando sozinha (atrapalhando a irmã que algumas vezes acorda) ou simplesmente nos chamando no quarto para falar "qualquer coisa" que lhe venha à mente. Inclusive, acho que até demoramos muito para detectar o problema e no começo não entendemos que fosse "falta de sono" mas sim manipulação infantil. Se você parar para pensar, foi uma atitude bem injusta da nossa parte.

Para você que nos lê, entenda isso como constatação de que nós, papais e mamães proativos, também cometemos erros - mais do que desejaríamos! E, embora o blog sirva para compartilhar aquilo que nós fizemos que deu certo, às vezes é bom também mostrar o outro lado da moeda: os nossos erros e como nós contornamos a situação diante de um fracasso. Até para você não pensar erroneamente que conosco tudo sempre foi perfeito. Se inspirar na história de alguém que escreve um blog tem esse viés perigoso porque a tendência é idealizarmos demais. Se você é mamãe de primeira viagem, aceite o fato de que por mais que leia, se instrua e se dedique para criar seus filhos da melhor maneira possível, em algum momento você também vai errar. Somos falíveis e dependemos da graça de Deus todos os dias! E embora seja normal nos sentirmos frustradas e decepcionadas quando erramos com os nossos filhos (ainda mais com algo que depois nos parece tão óbvio), não podemos deixar que a culpa nos corroa por dentro e nos afaste ainda mais do objetivo proposto. Buscar o perdão e a restauração no Pai é o melhor caminho para alcançá-lo.

Quanto à alimentação, tudo continua indo muito bem! Ela come devagar e sempre, mas come de tudo - legumes, verduras, frutas - e tem uma alimentação diária equilibrada e saudável. Um comentário a fazer é um pico de crescimento recente que ela teve: durante uma semana ela parecia faminta - vinha pedir comida antes da hora e comia muito além do normal! Ah, eu já comentei que ela não curte muito comer bolacha? Acho engraçado isso porque pra mim toda criança gostava de bolacha. Ela até come, mas uma só e pronto. Quando ofereço mais, ela diz: "No, thanks". Tenho pensado que no fundo a gente é que acostuma o paladar da criança com diferentes alimentos desde cedo. A Nicole desde sempre só comeu "doces saudáveis" (=frutas)! Já com a Alícia percebo que eu fui bem menos rígida no primeiro e segundo ano de vida com relação a deixar experimentar alimentos ou bebidas pouco nutritivos e considerados prejudiciais à saúde, como refrigerantes, balas, bolachas, chocolates e doces em geral. Infelizmente, fui baixando a guarda.

Emoções
Não sei se eu que sou uma motorista apressada, mas recentemente a Nicole passou por uma fase de "medo de velocidade". Já aconteceu com vocês? Eu ia buscá-la na escola e durante todo o caminho da volta pra casa ela não parava de pedir para eu ir mais devagar. Mesmo eu diminuindo bastante a velocidade (quase parando), ela continuava repetindo que o carro estava indo rápido demais. Ela também fez isso com o pai algumas vezes. Reparei também que de uns meses pra cá ela começou a ficar muito mais atenta ao seu redor no trânsito (para além das três cores do semáforo), observando tudo e fazendo questão de comentar nossas conversas ou reações sobre qualquer assunto. Se eu suspirasse e falasse sozinha porque entrei numa rua errada ou parei na fila errada, ou se meu marido comentasse algo sobre o carro da frente ou de um estabelecimento à vista, ou mesmo se o carro pulasse por causa de um buraco ou uma lombada, ela queria saber todos os detalhes - porque, como e onde!

É uma fase muito gostosa porque sua curiosidade para entender como as coisas funcionam (e porque elas funcionam dessa maneira) na minha opinião é fascinante - ela faz perguntas muito inteligentes! Mas ao mesmo tempo, preciso confessar, dá uma canseira. Primeiro porque com isso nós, os pais, "perdemos" nossa privacidade de conversar sobre o que quisermos no carro ou à mesa de jantar porque ela ouve, presta atenção e repete tudo. E segundo porque não basta perguntar, ela faz questão de repetir nossa resposta acrescentando o famoso "Mas por quê isso e aquilo?". Ou seja, as perguntas não têm fim! Não importa o que a gente responder, sempre virá o "por quê?" no fim. Há dias que é tão cansativo que eu tenho vontade de brincar de "Vaca amarela" para ter alguns minutos de silêncio, organizar meus pensamentos e recarregar as baterias!!

Disciplina
Outra novidade sobre comportamento do último update para cá foi a introdução do "cantinho da reflexão" aqui em casa. Até então só a estávamos corrigindo e disciplinando com a vara (na verdade, batemos no bumbum com o chinelo) para casos de desobediência, mas percebemos alguns comportamentos errados que não eram necessariamente desobediência direta - como, por exemplo, mentir ou bater na irmã - e que, portanto, precisavam de um tratamento diferenciado. Na verdade, a primeira vez que apliquei o "cantinho da reflexão" foi meio de supetão, não foi algo planejado ou combinado previamente com meu marido. Eu estava já nervosa por algum motivo e ela fez algo errado dessa natureza que me tirou ainda mais do sério. Não lembro direito o que foi, mas com certeza envolveu machucar a irmã. Aprendi que jamais devo disciplinar minha filha irada (porque a intenção não é descontar minha raiva, mas sim resgatá-la do perigo da desobediência), por isso minha primeira reação nesse dia foi pegar o banquinho de madeira que fica no banheiro (e que ela usa para sentar no vaso), levá-lo para um canto isolado da sala e colocá-la para ficar sentada ali pensando no que fez por 3 minutos, mais ou menos como a Super Nanny ensina. Se não me engano, a apostila do curso Educação de Filhos à Maneira de Deus chama isso de "time-out". Usei o despertador do meu celular para marcar o tempo e fiquei segurando a Alícia longe (que toda hora queria ir lá ficar perto da irmã que estava aos prantos). Funcionou bem porque, ao término do tempo, eu também havia me acalmado e para ela a disciplina valeu. Em seguida, repeti o mesmo processo que faço quando a disciplinamos por desobediência (como ensina o Pastoreando o Coração da Criança, leia mais aqui) porque tanto num caso como no outro o objetivo é buscar a total restauração do relacionamento. Por isso, me certifico de que ela entendeu que o que ela fez é errado (consciência), a convido a orar para juntas pedirmos que Deus ajude-a a obedecer (ou, nesse caso, a tratar a irmã com amor) e encerro a conversa com um beijo, um abraço e a afirmação do quanto ela é amada. Quando sou correspondida no beijo e no abraço sei que o objetivo final foi alcançado!

Comportamento
Já ouviu falar de criança pequena que rói unhas? Eu não... até minha filha de 3 anos começar a roer! Tudo começou um belo dia, quando ela ainda tinha 2 anos e foi comigo até o salão de cabeleireiro que fica aqui na minha rua. A gente sempre brincava de pintar as unhas dela "de brincadeirinha" em casa, mas ela nunca havia se interessado que eu as pintasse de verdade. E, sinceramente, eu não pensava em fazê-lo tão cedo. O fato é que ela se contentava com a imaginação - pra ela já estava de bom tamanho. Até que, nesse fatídico dia, uma manicure desocupada do salão em que estávamos se ofereceu para pintá-la... e adivinhe? Não pediu minha autorização em off para a Nicole não ouvir caso eu dissesse não. Ela simplesmente se dirigiu à Nicole dizendo para ela sentar-se na cadeira porque ela ia deixar as unhas dela bem bonitas - das mãos e dos pés. Claro que elas ficaram lindinhas, mas quando penso nisso hoje me dá uma raiva. Eu deveria ter interferido, mas na hora fiquei sem graça porque a mulher estava querendo fazer uma gentileza, um agrado porque havia gostado da Nicole. Enfim, é uma característica típica do nosso povo que eu não gosto: as pessoas são atrevidas e não respeitam certos limites sociais - nem quando se trata de bebês, já reparou? Já viu algum adulto dando refrigerante para bebê tomar (ou bala pra chupar) sem perguntar para a mãe se pode? E se ela for do tipo que reclama ou dá bronca, a pessoa acha ruim e ainda responde "mas o que é que tem?". Eu particularmente sou avessa a confusões públicas (não sou do tipo que roda a baiana, eu geralmente engulo calada), mas acho esse atrevimento de não respeitar o espaço, a privacidade ou o posicionamento dos outros tão feio. Como quando ia buscar a Nicole na escola e a tia da perua escolar vinha com a filhinha dar bolinho Ana Maria para a Alícia comer - sem perguntar pra mim se podia e sem ter a mínima noção de que era horário de almoço!

Mas como dizia, desse diante em diante, a Nicole adquiriu o hábito de roer unha. Como não estava acostumada com a sensação do esmalte nas unhas, passou a levá-las à boca. Até a unha do dedão do pé ela pegou o hábito de roer deitada na cama. Eu ficava agoniada de ver o resultado! Aí começou um processo chato. Toda vez que a gente ia à manicure, ela queria pintar as unhas de novo. Dessa vez ela me pedia e eu deixava porque como as unhas estavam roídas, eu pensava que iria estimulá-la a parar de roer e deixá-las crescer. Mas não estava funcionando. Roer tinha virado vício mesmo, ela fazia sem perceber. Ficava triste quando via o resultado porque sabia que isso me chateava também (ela é muito sensível aos meus sentimentos). Às vezes eu mesmo pintava, deixava a unha dela bonitinha antes de dormir (levava um tempão porque era um tiquinho de unha) e de manhã ela já tinha roído um monte! Procurei em tudo quanto é site dicas que pudessem ajudar. Até passar babosa eu tentei. Quando eu a pegava com o dedo na boca, ela tirava apressada e dizia "I'm not biting anymore, Mommy". Ou seja, ela queria parar - entendia que isso não era bom, que ela estava se machucando - mas não estava conseguindo. Eu sei bem como ela se sentia porque também já tive problema com isso (e às vezes ainda tenho), até admiti isso pra ela e pedi pra ela dar bronca em mim se me visse mordendo a unha. Ela ficou toda feliz com a nova responsabilidade de vigiar a mamãe e chegou a me pegar algumas vezes com a mão na boca também, rsrs! Finalmente, pela graça de Deus, ela conseguiu se livrar desse terrível hábito depois de uns 3 meses de muita insistência - de conversar, de explicar, de orar com ela, de mostrar que o branquinho da unha dela tinha sumido, de comparar as unhas dela com as do papai, da mamãe, da irmã, etc. Na ocasião, eu tinha largado mão de pintar suas unhas e ela já estava insistindo fazia alguns dias para eu pintá-las novamente. Bem, ela é muito insistente. Pediu, pediu até que eu cedi, mas antes de pintá-las falei bem sério que se no outro dia ela acordasse com as unhas roídas novamente não adiantaria ela pedir porque eu não iria pintá-las de novo. Ela aceitou. Pintei as unhas das mãos e dos pés. Antes de dormir oramos e pedimos a ajuda de Deus. E ela conseguiu manter sua palavra! Em poucas semanas, as unhas delas já estavam bonitas e compridas novamente. = )

Linguagem
Esses dias a Nicole soltou uma frase com "She's ___" (em vez de "Her ___" como ela fazia, leia sobre aqui). Fiquei feliz porque mesmo corrigindo-a pouco (na maior parte das vezes eu deixo passar), ela já está se auto-corrigindo (só de me ouvir falando o certo)! Muito bom!

Vez ou outra ela inventa certas palavras em inglês, rsrs. As três que eu percebi e anotei foram: "Mommy, let it sec" (quando ela está brincando de pintar minha unha), "count a story" e "It is solting" (se referindo ao enfeite de cabelo que fica caindo). Em todos os casos, eu repito a frase (às vezes em forma de pergunta) pra  ela ouvir e falar o certo. É bem tranquilo porque, na realidade, ela sabe as formas corretas ( "let it dry", "tell a story", "it is falling"), apenas se confunde às vezes.

Brincadeiras
A brincadeira favorita da Nicole é fingir que é mamãe. Ora ela é mamãe de alguma boneca (e a Alícia o papai, rsrs), ora ela é a mamãe e eu a filhinha. E ela ama me chamar de "daughter". Essas brincadeiras são um bom espelho para mim de como ela me enxerga porque ela imita tudo o que me vê fazer: na hora de escovar os dentes, de levar a nenê para fazer xixi, de colocar na cama para dormir, de ler alguma historinha, de beijar e fazer carinho quando está chorando, de preparar e dar a comida ou o leitinho, de chamar a atenção quando faz algo errado (batendo no bumbum) e, mais engraçado, quando sento na frente do computador para trabalhar. São as imagens que ela tem de mim que ela reflete ao brincar e que provavelmente vão ficar registradas na memória dela quando ela for adulta. Considerar isso me faz querer ser uma mãe cada vez melhor porque quero que suas recordações de mim sejam as melhores possíveis! Me motiva, por exemplo, nos dias em que acordo cansada porque as horas de sono não me foram o suficientes, a não descontar nelas meu mau-humor ou não levar o dia de barriga só porque estou cansada. Me estimula a planejar e organizar as atividades do dia pra não ficar presa muito tempo no computador ou no celular - seja respondendo e-mail, comentando no facebook, lendo ou pesquisando em blogs ou simplesmente escrevendo aqui no blog também (o que tende a ser um problema!).

Escola
Esse ano tirei a Nicole da escola. Por uma série de motivos. Como estou sem trabalhar, vou ficar com as duas em casa - tanto pela questão financeira como pela questão disponibilidade. Nesta idade ela ainda não precisa ir à escola. Na realidade, é algo óbvio - ela acabou de completar 3 anos, logo faltam mais 3 para ela entrar em idade escolar - mas a suposta necessidade de matricular o filho na escola o quanto antes (para ele "se socializar e se desenvolver adequadamente") é algo tão latente em nossa cultura que a minha decisão de ficar em casa com a Nicole esse ano causou estranheza. E, sinceramente, para além das finanças e da disponibilidade, tem também a questão do homeschooling. É uma prática que, até abril do ano passado, eu conhecia muito superficialmente - sabia apenas que era algo que alguns americanos residentes no Brasil faziam. Não imaginava que no Brasil houvesse um movimento em prol da regulamentação da educação domiciliar! O interesse de estudar sobre isso surgiu de conversas que tive com pessoas conhecidas que educam seus filhos em casa. A princípio, a intenção era mais questionar mesmo. Eu queria entender porque cargas d´água alguém iria preferir ensinar em casa em vez de mandar os filhos para a escola. Para mim era coisa de louco, rsrs. Curiosamente, quanto mais lia a respeito do assunto mais fui gostando da ideia. Até meu marido, que no começo também foi muito contrário, foi contagiado pelos pressupostos por trás dessa filosofia e começou a me incentivar. É uma filosofia de vida apaixonante e, eu creio, bíblica. Mas não posso negar que exige muito do pai ou mãe educador!! É preciso abdicar de algumas coisas para conseguir ter êxito nessa empreitada. Por isso, por esse ano vamos fazer o teste. Na realidade, nem dá para dizer que é homeschooling porque, como já disse, minha filha não está em idade escolar, mas a ideia é eu sentir como seria minha vida (e a delas) caso a gente adotasse a educação domiciliar.

Nosso desejo sempre foi matricular nossas filhas no colégio onde eu estudei. É um colégio cristão internacional, mas é caro e não temos condições financeiras para pagar as mensalidades. Para nós é essencial que as meninas estudem perto de casa e o colégio onde a Nicole estava atende a esse requisito, além de ser pequeno e bem organizado. Mas, confesso, que ainda não estava muito em paz com algumas questões. A principal foi a feira cultural do 2º. semestre. O tema era anos 60, 70, 80 e 90 e os pais foram convidados para ir à escola num sábado e assistir às apresentações dos alunos - desde o mini-maternal até o 8º. ano.  Pra começar, o mini-maternal (turminha da minha filha) e o maternal dançaram a música "Biquíni de bolinha amarelinho". Precoce, não? E depois teve de tudo, desde casais de menino e menina de sainha curta dançando lambada no palco até meninas vestidas à moda "é o tchan" dançando ao som de "depois de nove meses você vê o resultado", fazendo sinal de barriga de grávida. Cultural eu concordo que é, mas não consigo entender como isso pode ser educativo! E nem estou entrando no mérito de ser cristão ou não (porque eu sabia que não estava matriculando-a numa escola cristã), estou falando de algo ser benéfico moralmente. Não sei se foram os professores ou os alunos quem selecionaram as músicas (no caso da turminha da minha filha, com certeza não foram as crianças), mas se a escola não soube peneirar o que é moralmente benéfico para uma criança menor ver ou ouvir (no caso, a apresentação dos maiores), então tem algo de muito errado. Que outras influências enganosas / perigosas ela pode estar recebendo numa idade em que se encontra indefesa? Porque, afinal, eu não estou lá para ver e ouvir os princípios por trás dos ensinamentos passados para poder interpretá-los por ela e direcioná-la a como pensar, concordam?

Na minha faculdade (FEUSP) provavelmente diriam diferente. Por lá eles acreditam que a imposição de qualquer ensinamento, principalmente religioso, numa criança é violência contra ela. Obviamente eu não concordo e já saí injuriada de muitas aulas depois de ouvir o que pra mim são absurdos. Numa aula de Metodologia do Ensino de Educação Física, por exemplo, estavam discutindo se o conteúdo de músicas estilo funk (com forte conotação sexual, bem vulgar) era interessante de ser trabalhado com crianças de educação infantil (0 a 5 anos) e ensino fundamental (1ª a 4ª série). A discussão pegou fogo e pelas reações exaltadas de alguns quando certo aluno se opôs, quem era conservador preferiu ficar calado para não ser ridicularizado. Esse aluno demonstrou preocupação de colocar crianças tão novas para ouvir uma música que dizia "senta no meu pau" porque não convinha explicar para elas o que isso significava, e uma aluna respondeu que para criança não tem esse negócio de conotação sexual como para os adultos, que ela tinha dançado "é o tchan" quando criança e que nem por isso hoje ela entra rebolando na sala de aula! Ou seja, eles defendem que um dos papeis da escola é valorizar a cultura dos alunos uma vez que muitos já ouvem esse tipo de música em casa ou no bairro onde moram e, no caso dos alunos que não ouvem funk e o ridicularizam, o fazem por desconhecê-lo e não reconhecê-lo como produção cultural, sendo papel da escola trabalhar o assunto com os alunos no sentido de erradicar os preconceitos sociais para que eles aprendam a conviver com a diversidade (de gênero, sexual e religiosa).

Do ponto de vista cristão, sei que existe toda uma polêmica sobre estarmos no mundo, mas não sermos do mundo e que, portanto, não devemos criar nossos filhos numa bolha, alheios ao que acontece no mundo real sem Deus. Por outro lado, creio que a minha responsabilidade para com a minha filha HOJE é protegê-la de perigos físicos, emocionais e espirituais e fazer as escolhas por ela. Não me sinto à vontade em expô-la, nessa idade, a músicas como essa e esperar que ela tenha maturidade para refletir e distinguir o certo do errado. Ninguém ensina um bebê a nadar jogando-o numa piscina e esperando que ele bata as pernas sozinho, não é mesmo? Do mesmo modo, não acredito que seja inofensivo (ou prudente) jogá-la em situações assim e esperar que ela saia dela ilesa uma vez que ela está em seus anos de formação!

De qualquer modo, fiquei com o coração apertado porque sei o quanto a Nicole gosta dessa escola, das tias e dos coleguinhas. No ano passado quando ela mudou de escola foi a mesma história: fiquei me sentindo culpada um tempão pois sabia o quanto ela gostava da primeira escola e, pra ajudar, ela passou boa parte das férias falando da tia Fabi. No fim das contas, hoje ela nem lembra mais. Esse ano a história se repete, com a diferença de que ela está mais velha e entende melhor. Por ser perto, quando passamos em frente ela aponta o prédio azul e diz feliz que aquela é a escola dela. Qualquer presentinho que ela ganha, ela fala de levar para a escola para mostrar para a tia Kelly. Num passeio que fizemos ao Sesc algumas semanas atrás, eu mostrei duas embalagens vazias de suquinho que estavam em cima da grama e sugeri que as pegássemos e jogássemos no lixo. Ensinei que era muito feio quando as pessoas jogam lixo no chão e que a gente não deveria fazer isso para não estragar a natureza. Sabe o que ela me respondeu? Que eu tinha de falar para a tia Kelly quem foi para ela dar uma bronca na pessoa que fez isso!

Meu marido e eu temos explicado que a escola dela agora vai ser em casa, com a mamãe, e ressaltamos que vai ser muito legal. Não sei até que ponto ela consegue compreender, no fim eu acho que ela pensa que esse tempo em casa com a mamãe vai ser só durante as férias e que depois ela vai pra escola de novo. Independente dos meus sentimentos de insegurança, creio que foi o Senhor que nos conduziu a essa decisão. Portanto, confio que Ele nos dará sabedoria para lidar com a situação da melhor maneira possível!