Bem-vinda!!

Bem-vinda ao nosso blog!
Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os primeiros mil dias da criança e a importância dos pais!

Um assunto que sempre chama a minha atenção é a importância dos laços afetivos para a formação emocional saudável de uma criança. Há menos de um ano tive o privilégio de ler um livro que fala justamente sobre isto. Escrito por uma psicanalista e psicoterapeuta de Oxford chamada Sue Gerhardt, ele demonstra através da ciência como as primeiras interações psíquicas e sociais de um bebê afetam a constituição fisiológica do seu cérebro em desenvolvimento. Não é um livro de cunho cristão e acredito que ele ainda não tenha sido traduzido para o português - em inglês o título é Why Love Matters - How Affection Shapes a Baby's Brain - mas se você lê em inglês eu fortemente recomendo a leitura. Ele apresenta evidências científicas interessantíssimas confirmando o que fica cada vez mais claro para mim: a diferença que faz para a educação dos filhos a presença amorosa e diretiva dos pais no dia-a-dia.

Sem querer julgar ninguém por suas escolhas pessoais, até porque vejo que é antes de tudo um problema de políticas públicas, eu admito que tenho dificuldade de engolir o argumento de que o único fator que importa é a qualidade de tempo que se dedica aos filhos. Sim, claro que a qualidade é essencial, mas ela é intimamente ligada ao fator 'tempo'. Como é possível ter qualidade de tempo sem quantidade?? Eu acho bem difícil, ainda mais nos primeiros anos, quando o cérebro da criança ainda está em formação e sendo literalmente marcado para a vida toda, como mostra a autora.

Por isso, hoje venho compartilhar as sábias palavras do pediatra e ex-reitor da UNICAMP, José Martins Filho, que "discute a atual licença-maternidade no Brasil e defende uma mudança na legislação que permita à mãe ficar mais próxima de seu filho nos primeiros anos de vida, sem que tenha que abrir mão do trabalho" (conforme a descrição publicada pelo Instituto Alana no Youtube).

São menos de 4 minutos de entrevista que espero que a ajudem a refletir sobre o seu papel como mãe. Desejo que você seja inspirada ao vislumbrar a diferença que a sua presença faz na vida dos seus pequenos, hoje e amanhã, e o impacto que isto fará na construção de um mundo melhor! E, finalmente, que encontre forças em Deus para não desistir de ficar mais perto deles hoje, apesar das inúmeras dificuldades e resistência que talvez você encontre pelo caminho.



Antes de terminar e seguindo esta mesma linha da importância dos vínculos familiares para a vida social bem sucedida do ser humano, existe um outro livro, escrito pelo psicólogo canadense Gordon Neufeld e o médico húngaro Gabor Maté, que eu também estou muito interessada em ler.  O título é Hold On to Your Kids: Why Parents Need to Matter More Than Peers. Na verdade, eu assisti a uma entrevista de 2004 em que o Dr. Gordon Neufeld denuncia a falsa suposição de que quanto mais cedo a criança entrar na escola melhor. Ele mostra que o contrário é verdadeiro e aponta para o perigo da formação precoce de vínculos com os pares (crianças da mesma idade), em vez de com os pais, numa idade em que o que a criança precisa é de amor incondicional e de direção de um adulto. Afinal, salvo minorias exceções de pais abusivos, quem melhor do que mãe e pai para suprir esta necessidade da criança?! Veja a entrevista toda, se souber inglês, e compartilhe com seus amigos. Garanto que serão 26 minutos muito bem investidos!

Aproveito o assunto de hoje para também direcioná-los à leitura de outros posts em que já falei sobre o assunto de maternidade, família, creche e políticas públicas.

Basta clicar nos links abaixo para lê-los.

Creche noturna beneficia a sociedade?
Você concorda com o aumento da jornada escolar?
Eu largar o emprego e depender financeiramente do meu marido? Você só pode estar louca!
Meu bebê nasceu e logo termina minha licença. O que eu faço agora?

Um grande abraço,
Talita

domingo, 15 de dezembro de 2013

Uma mulher e três experiências: uma cesariana, um parto normal hospitalar e um parto domiciliar - PARTE 2

(Este post é continuação do de ontem. Para lê-lo clique aqui!).

Relato do Parto da Giulia

O positivo
A Giulia veio inesperadamente. Parei com o anticoncepcional por causa das dores pós-parto do Lorenzo. A solução da médica para acabar com meu problema era aumentar os níveis de estrogênio. Ou eu parava a pílula e via se meu organismo reagia sozinho ou eu tomava uma pílula tradicional e corria o risco com a amamentação. Como eu já tinha tentado de tudo para acabar com o problema, resolvi tentar parar com o anticoncepcional já que correr risco com a amamentação estava fora de cogitação.

Em outubro, já tinha passado da data da minha menstruação vir e resolvi fazer um teste. Negativo. Passou mais uma semana e nada da minha menstruação, fiz outro teste e a segunda linha apareceu bem fraquinha. Comprei um terceiro teste, mais confiável, e repeti dois dias depois. A lista estava lá, bem nítida. Eu estava grávida, de novo... Feliz por um lado, mas em pânico por outro.

A gravidez
Eu liguei em todas as clínicas da minha cidade e não consegui nenhuma vaga para fazer pré-natal. Grávida de umas 6 ou 7 semanas e ninguém tinha vaga?? Começou meu desespero. Também liguei nas duas casas de parto possíveis e me inscrevi na fila de espera sem nenhuma esperança. Em uma última tentativa consegui um médico para o início de dezembro. O problema é que eu verifiquei as referências sobre o tal médico na internet e era terrível. Ele tinha usado fórceps e deixado um bebê com sequelas. Decidi que não iria nele de jeito nenhum. Era melhor encarar uma gravidez sem pré-natal.

Decidi então que iria parir em casa com uma parteira tradicional. O problema é que eu precisava de um médico de qualquer maneira. Como ela não era “legal”, não tinha como solicitar exames e em uma emergência, era melhor ter um prontuário aberto em algum hospital. Consegui uma médica na cidade vizinha por indicação de uma conhecida. Ela me sugeriu outra cesárea logo de cara e eu disse que gostaria de tentar de novo. Ela disse que me ajudaria. Sai de lá confiante. Pelo menos, se eu precisasse de médico, ela parecia ser uma opção razoável.

Novas consultas e novas emoções. Meu exame de urina acusou presença de strepto B. A médica, muito calma, disse que eu tomaria antibiótico durante o TP e pronto. E como eu faria com o antibiótico em um PD? Além disso, ela me disse que provavelmente começaríamos uma indução às 37 semanas para evitar que o bebê nascesse muito grande. Começou meu desespero de novo. Somado a tudo isso, horas de espera por uma consulta de 5 minutos.

Com 20 semanas eu decidi que não iria mais para as consultas. O prontuário já estava aberto e eu decidi que ir ao médico era tortura desnecessária. Toda vez que eu tinha consulta eu me sentia mal antes, durante e depois. Na mesma semana que eu tomei este decisão, a casa de parto me ligou e tinham uma vaga para mim!

O pré-natal na casa de parto foi excelente. Consultas de 1h, muito carinho, tiravam todas as minhas dúvidas, me davam informações e nada foi imposto. Todos os procedimentos foram discutidos comigo e cabia a mim decidir se eu queria ou não (inclusive o antibiótico para o strepto B). E eu poderia parir em casa se eu quisesse! Tirando a questão do strepto que me atormentou a gravidez toda, a partir deste momento eu me senti em paz.

Eu não vi a gravidez passar até que comecei a sentir contrações demais (por volta de umas 32 semanas) e a parteira me pediu para “repousar” o máximo que eu conseguisse para não nascer prematuro, se não, eu teria de ir para o hospital.

O parto
De domingo para segunda-feira (17/06 – com quase 38 semanas), os meninos quiseram dormir com a gente. Por volta das 6h da manhã, Lorenzo acordou querendo mamar. Eu estava amamentando-o quando veio uma contração e eu senti um pouco de líquido escorrer. Levantei-me e vi que realmente tinha vazado líquido, além do tampão também ter saído.

Arrumei os meninos para a escola, avisei minha amiga e ela veio ficar comigo. Saímos para a casa de parto já era quase hora do almoço e nada de contrações ou pelo menos nada diferente do que eu já vinha sentindo. O mais estranho é que o líquido parou de vazar. A parteira me examinou, fez dois testes e disse que provavelmente não era líquido, só lubrificação comum do final da gravidez.
Voltei para casa, o marido foi para o trabalho de bicicleta e eu fiquei de buscar as crianças. Passamos uma tarde agradável. Eu fiquei na bola, forramos a cama e resolvi deixar as roupas dos meninos separadas para uma emergência. Minha amiga ainda ficou tirando um barato do meu alarme falso. No final da tarde, eu comecei a sentir as contrações mais fortes, mas ainda sem ritmo e não me preocupei. Fui ao supermercado, preparei as coisas para a minha reunião e busquei os meninos na escola. Eu estava meio indisposta, mas atribui ao cansaço já que tinha dormido mal. Falei com a minha mãe no skype e ela me perguntou o que estava acontecendo porque minha cara estava estranha. Eu disse que não era nada, só cansaço mesmo e como estava calor, eu estava um pouco indisposta. Engraçado como eu não percebi que as contrações tinham mudado e minha mãe, do outro lado do mundo, era capaz de perceber que algo estava diferente. Eu cheguei a me esconder na cozinha em uma das contrações para minha mãe não me ver!

Fui para a reunião por volta das 19h e comecei a cronometrar as contrações. Elas duravam no mínimo uns 45 segundos e vinham a cada 15 minutos. Tentei me distrair o máximo que eu pude, mas eu simplesmente não conseguia disfarçar, nem me mexer na hora da contração. Mandei uma mensagem para meu marido perguntando se não era melhor eu ligar pra parteira de novo, mas ele achou que ainda não precisava, que era cedo. Por volta das 22h, esperei passar uma contração, peguei o carro e vim pra casa. Deu tempo certinho de eu estacionar e veio outra.

Chegando em casa, pedi para o meu marido colocar as crianças para dormir e ele acabou dormindo também. Fui para o banho com a bola. Enquanto eu tomava banho eu quis desistir. Fiquei pensando onde eu estava com a cabeça quando resolvi ter esse bebê. Eu devia ter decidido por outra cesárea porque passar 3 dias com estas dores e ainda aguentar o TP (trabalho de parto) todo não ia ser moleza (eu estava me baseando no TP do Lorenzo). O bom é que esse desânimo passou rápido. Conversei com meu bebê e disse que se ele quisesse vir, eu estava esperando e pronto, que a gente ia conseguir. Por incrível que pareça saí do chuveiro mais calma. Era um pouco antes das 23h. Tentei acordar meu marido, mas ele disse que ia descansar porque eu podia precisar dele no outro dia e ele estava muito cansado.

Fiquei na sala sozinha com minha bola e eu tentava arrumar uma posição cada vez que vinha a contração, mas todas as posições eram péssimas e eu comecei a sentir muito sono. Deitei no sofá e tentei dormir. Eu dormia exatos 10 minutos e lá vinha a contração. Eu tinha que levantar porque deitada era tortura demais. Fiquei assim um pouco mais de uma hora quando comecei a sentir frio também. Vesti meu pijama e minhas meias de inverno porque me deu até tremedeira e fui deitar na minha cama. Eu tive umas duas ou três contrações na cama com um intervalo de uns 7-8 minutos. De repente, outra contração e eu resolvi ficar de quatro. A bolsa estourou, mas estourou mesmo. Fez barulho e saiu muita água. Molhou a cama, o chão, tudo. Meu marido me ajudou a ir para o chuveiro e do banheiro mesmo ligamos para a parteira e para a doula. Era um pouco mais de 12h30.

Elas falaram que já estavam vindo, mas eu já não conseguia nem falar nesta hora. As contrações vinham a cada 2 minutos e duravam mais de 1 minuto cada. Mal dava tempo de eu respirar entre elas. A casa estava uma zona. Imaginem que meu marido tinha ficado sozinho com as crianças por 3h. Tinha brinquedo espalhado por tudo, a pia cheia de louça, um caos. Ele me deixou no banheiro e foi arrumar um pouco a bagunça. Ah, e ainda pediu pra eu passar uma água nas minhas roupas pra tirar a meleca...

Eu fiquei no chuveiro com a bola até a primeira parteira chegar. Ela tentou ouvir o coração do bebê umas 3x entre as contrações, mas não conseguiu e pediu pra eu sair só um pouco para ela ouvi-lo e eu poderia voltar. Eu nem sei como cheguei até a minha cama. Ela ouviu o coração e perguntou se poderia me examinar. Eu deixei morrendo de medo de não estar dilatada com toda aquela dor (traumas do Lorenzo ainda), mas eu estava com 9 cm!

Eu fiquei tão feliz, pelo menos faltava pouco e eu não ia ficar com aquela dor 3 dias como eu estava imaginando. Logo em seguida a outra parteira e a doula chegaram e eu já comecei a sentir os puxos. Foi muito rápido. Eu não tive nem coragem de mexer e fiquei deitada de lado na cama, do jeito que eu estava. Veio aquela vontade de fazer força e eu me segurei. Eu confesso que fiquei morrendo de medo de rasgar tudo de novo. A doula me deu a mão e me lembrou que eu não precisava ter medo, que se eu quisesse podia colocar a mão pra ajudar, assim, eu sentiria o bebê nascendo. Foi ótimo, me deu o maior ânimo colocar a mão e sentir o bebê coroando. A contração veio e eu não fiz muita força, fiz força o suficiente só para a cabeça não voltar pra dentro. Senti queimar e depois a cabecinha saindo. Me deu um alívio tão grande! Ninguém puxou minha bebê e nem me apressou para ela terminar de sair. A parteira viu se não tinha circular de cordão e esperou. Quando a contração veio de novo, eu empurrei o corpinho e senti ela saindo inteirinha. Peguei ela e a abracei. Tão linda! Toda cheia de vernix e sem sangue!!!!

Ninguém viu o sexo. Puseram um paninho sobre ela para aquecer e fui eu que vi que era uma menina! Peguei no cordão também, senti ele pulsar, a textura. O marido que cortou o cordão e decidimos guardar a placenta para plantarmos mais pra frente.

A primeira parteira chegou em casa por volta da 1h30 e a Giulia nasceu à 1h48 da manhã do dia 18/06/2013, com 51cm e 3125g. Ela não sofreu nenhuma intervenção. Não teve colírio, vitamina K, antibiótico, nada. Nasceu na hora e da maneira que ela quis e eu não tive nenhuma laceração (oba!).

Realmente cada parto e cada bebê é único. Foi tudo muito diferente do que eu imaginei e não podia ser mais perfeito. Foi um caminho longo, onde pude contar com pessoas especiais (obrigada!!!) e que curou muitas das minhas feridas. Espero que a minha história sirva de inspiração para outras mulheres e que elas se sintam realizadas assim como eu!

Nascimento do Pietro - Cesariana eletiva no Brasil.

Nascimento do Lorenzo - Parto normal hospitalar no Canadá.

Nascimento da Giulia - Parto natural domiciliar no Canadá.

Uma mulher e três experiências: uma cesariana, um parto normal hospitalar e um parto domiciliar - PARTE 1

Amanda Naldi tem 32 anos, é casada com Daniel e mãe de Pietro (5 anos), Lorenzo (2 anos) e Giulia (5 meses). Natural de São Paulo, ela imigrou para o Canadá há pouco mais de 3 anos. Eu a conheci num grupo de brasileiros pelo Facebook quando li seu comentário de que havia ganhado bebê em casa, aqui no Canadá. Fiquei curiosa para saber mais e pedi que ela contasse como foram suas experiências de parto para eu compartilhar aqui com vocês.

Foram três experiências de parto completamente diferentes! Primeiro, uma cesariana eletiva tranquila em São Paulo, depois um parto normal hospitalar traumático seguido de um parto domiciliar dos sonhos, ambos aqui no Canadá. Uma história que vale a pena ler!

Relato de parto – VBAC no Canadá

História
Eu cresci ouvindo minha mãe falar barbaridades de parto normal. Ela sofreu muito no meu parto, tentaram de tudo, inclusive fórceps e eu acabei nascendo através de uma cesárea, toda machucada (quase fiquei cega e uso óculos até hoje por causa disso). O diagnóstico: DCP (desproporção cefalo-pélvica). Minha mãe ficou traumatizada e influenciou toda a família. Meu irmão mais novo nasceu através de uma cesárea eletiva, assim como todas as minhas primas e os filhos das minhas primas também. Logo, depois das minhas avós, todas na minha família tiveram os filhos através de cesáreas.

Meu primeiro filho nasceu no Brasil, através de uma cesárea eletiva sem nenhuma indicação. Ele nasceu no dia que completamos 40 semanas. Eu não fui amarrada, todos foram muito gentis comigo e o amamentei assim que terminaram de me costurar e examiná-lo (ele sofreu todas as intervenções de rotina). Pra mim aquilo era o normal e eu estava dando o melhor para o meu filho. Na época, eu inclusive achei a recuperação excelente. Tive dor por alguns dias, mas eu conseguia cuidar do meu filho sozinha e estava encantada com a maternidade.
 

No entanto, amamentar doía e eu vivia com meu seio machucado. Minha família começou a pressionar para eu dar mamadeira porque era o “normal”. Minha mãe me dizia que logo eu voltaria a trabalhar e seria melhor assim. Nesta época eu ficava bastante tempo na internet e decidi pesquisar sobre amamentação e descobri outro mundo. Eu decidi tomar as rédeas da situação e fazer as coisas do meu jeito. O grupo GVA (Grupo Virtual de Amamentação) no Orkut me salvou. Eu não apenas amamentei exclusivamente meu filho até os 6 meses, como ele foi amamentado por quase 3 anos mesmo eu trabalhando em tempo integral. Não foi fácil, mas toda vez que eu penso nisso fico orgulhosa de nós dois. Junto com a pesquisa sobre amamentação acabei lendo muito sobre educação de crianças, parto, etc. A maternidade em geral. Isso me tornou outra pessoa. Acho que neste momento eu sai da “matrix”.
 

Decidi que quando eu tivesse outro filho tudo seria diferente. O tempo foi passando, minha vida deu uma reviravolta e decidimos imigrar para o Canadá. Largamos emprego, família, casa e viemos para o Canadá sem nada. Meu filho estava com 2 anos e 4 meses na época. Uns 4 meses depois, época de Natal eu me senti mal, desmaiei e fui parar no hospital com um sangramento que eu pensava ser minha menstruação querendo voltar (eu ainda não tinha ficado menstruada depois do nascimento do meu filho). Como a data da minha última menstruação era de 2007 decidiram fazer um ultrassom. Eu descobri então que eu estava grávida de 8 semanas!
 

Foi um período muito difícil. Estávamos sem emprego, num país novo e tendo que se comunicar em uma língua que não dominávamos (francês). Desespero total!
 

Passado o susto inicial, marquei consulta pra fazer o pré-natal e comecei a procurar uma doula. Meu marido concordou comigo que seria um investimento válido mesmo a situação financeira sendo complicada. Procurei na internet e, no fim, alguém me indicou uma doula brasileira.
 

Entrei em contato com a doula. Na época eu estava com 13 semanas mais ou menos. Ela se mostrou interessada e logo depois marcamos um encontro. Ela foi em casa e conversamos bastante. Neste encontro conversamos um pouco sobre a cesárea eletiva do Pietro, sobre não ter tido nenhum tipo de intercorrência na gravidez, sobre a recuperação "perfeita" que eu tive mesmo sendo uma cirurgia, sobre os meus medos (episiotomia e fórceps), a história da minha mãe e do meu nascimento, minha vontade de tentar um parto natural desta vez, entre outras coisas.
 

Ela me explicou que ela fez um curso de doula e que ela ainda era "estagiária". Por esta razão ela poderia me acompanhar se eu quisesse e não haveria custo nenhum. Além disso, ela buscaria respostas com suas professoras caso fosse necessário. O único porém era que não teria uma substituta caso ela não pudesse comparecer no parto. Confesso que eu fiquei muito feliz depois desse encontro. Eu acreditava ter tirado a sorte grande! Era tudo de que eu precisava!
 

Com uns 7 meses de gravidez, as coisas começaram a complicar. O médico que me acompanhava no pré-natal começou a me dar fortes indícios de que ele queria fazer outra cesárea. Solicitou um exame que mediria a altura da cicatriz uterina para ver se eu poderia tentar um VBAC (Vaginal Birth After Cesarean). Disse que não seria seguro porque minha cesárea foi costurada em apenas um plano (conforme o papel que minha médica do Brasil forneceu, explicando como foi feita minha cesárea e atestando que era seguro um VBAC), enquanto que o padrão dos EUA e no Canadá (mais seguro) seria de costurar em dois planos. Cada consulta que eu tinha com ele era uma aflição. Menos de 5 minutos de consulta e ele conseguia me deixar insegura!
 

Obs: Aqui não é fácil trocar de médico, nem escolher o hospital em que você vai ser atendida. O sistema de saúde é bem diferente do Brasil. Além disso, eu não conhecia muita coisa e tinha dificuldades com o idioma, o que tornou as coisas ainda mais complicadas.
 

Alguns pontos que eu gostaria de registrar porque eram coisas muito importantes para mim ou eventos que me marcaram nesta época:
 

1) O exame. Eu fiquei 2 meses esperando o hospital me ligar para eu ir fazer o tal exame e eles nunca me ligaram! Fiquei 2 meses tensa por nada!
 

2) O médico do pré-natal. Na última consulta que eu tive com o médico que fez meu pré-natal, ele simplesmente passou uma requisição para o hospital solicitando uma segunda opinião sobre meu VBAC (já que eu não fiz o exame) e me informou que ele sairia de férias por 4 semanas (eu estaria entre 37 e 41 semanas de gravidez neste período). Se ele voltasse de férias e o bebê não tivesse nascido, ele faria outra cesárea porque seria perigoso demais uma indução no meu caso. Ele não quis nem olhar meu plano de parto! Ele disse para mim, você mostre isso no hospital quando ele for nascer, eu não vou olhar porque não sou eu quem vai fazer seu parto! Se for eu, será uma cesárea e pronto. Saí da consulta atordoada. Conversei com a doula e ela me disse que eu poderia ter tido sorte dele sair de férias, afinal ele estava com todo jeito de querer fazer outra cesárea.
 

3) A anestesia. Eu não queria tomar anestesia de jeito nenhum. Eu fiz meu marido prometer que se eu ficasse com muita dor e começasse a pedir anestesia, não era pra deixar me darem. Ele ficou inseguro, mas aceitou meu pedido: ele não deixaria me darem anestesia. Até que este assunto surgiu em um dos encontros com a doula... Ela foi veementemente contra! Ela nos disse que só eu saberia o limite da minha dor e que ele não poderia tomar esta decisão por mim, afinal o corpo e a percepção da dor eram meus. Ele estaria lá pra me apoiar, mas que a decisão no momento deveria ser apenas minha.
 

4) A posição para parir. Eu não queria parir deitada de jeito nenhum. Deixei isso bem claro em todos os momentos. Eu odeio deitar de barriga pra cima em qualquer momento, imagine na hora do parto, com dor e ainda por cima depois de ler tanta evidência científica dizendo que essa posição é péssima, só é fácil para o médico mesmo.
 

5) Episio e fórceps. Eu tinha muito medo de episio e fórceps. Cresci ouvindo minha mãe me contar do pesadelo do meu nascimento. Eu conversei sobre isso com a doula e com meu marido. Aqui não fazem episio de rotina e, portanto, mesmo que acontecesse uma laceração, ela não seria muito “grande”. Era fazer exercícios e preparar o períneo. Assim com 34 semanas eu comecei a massagem e os exercícios regularmente.

Pródromos e Parto
Tudo começou no sábado pela manhã ((39+3sem). Todos saíram e eu fiquei sozinha em casa. Do nada fiquei apertada para ir no banheiro fazer xixi. Quando me limpei tinha uma borra com sangue. Achei que era o tampão. Passei o dia todo com essa borrinha com sangue e sem dor nenhuma. De noite percebi que estava com contrações. Fiquei me remexendo, levantei, andei... Resolvi marcar e as contrações estavam de 15 em 15 minutos, às vezes de 10 em 10 minutos. Finalmente a manhã chegou e com a claridade elas se foram completamente! Como em um passe de mágica elas desapareceram.
 
Domingo acabei passando o dia bastante ansiosa, com muito poucas contrações e muito irregulares. O dia foi embora e eu fiquei com medo do que me esperava a noite... Dito e feito, bastou eu dormir para as contrações começarem de novo. Passei a noite toda me remexendo na cama e anotando as contrações que vinham a cada exatos 15 minutos. Fiz isso das 12h as 4h e adivinha? Passaram completamente depois disso. Resolvi desencanar de marcar os intervalos.
 

Na segunda-feira pela manhã eu falei com a doula de novo e combinamos que se acontecesse de novo na próxima noite que ao invés de ficar parada eu iria me movimentar.
 
Quando escureceu eu comecei a sentir algumas contrações novamente. Eu resolvi tomar um banho e jantar (comi um pão o dia todo e no fim não consegui jantar). Enquanto eu mexia na geladeira veio uma contração e eu senti escorrer um pouco de líquido. Resolvi me abaixar e na primeira acocorada eu senti escorrer um monte de líquido. Eu tive certeza que a bolsa tinha estourado!
 

Liguei pra doula e contei o que tinha acontecido. Ela pediu pra eu tomar um banho e aguardar um pouco porque como eu não estava com contrações era melhor tentar fazer o trabalho de parto engrenar um pouco antes de ir pro hospital. Como não podia induzir, se eu fosse pro hospital sem contrações a chance de ter que fazer cesárea seria maior. Fiquei de ligar pra ela dentro de 2h pra dizer como iam as coisas.
 

Tomei um banho e as contrações começaram com força total. Sentei no computador pra usar o contador de contrações porque contar a duração com dor era impossível. Marquei por uns 30 min e resolvi ligar pra doula porque elas estavam de 5 em 5 minutos, às vezes de 4 em 4. Ela falou pra gente ir pro hospital que ela nos encontraria lá.
 

Vesti minha roupa e terminei de arrumar as coisas pra maternidade. Eu já estava com tanta contração que pra descer as escadas e chegar na rua eu devo ter demorado uns 15 minutos. Cada dois passos eu tinha que parar e esperar a contração passar. Chegamos no hospital e eu ainda consegui rir porque eu não conseguia chegar até o elevador!
 

A entrada na maternidade foi bem fácil e sem nenhuma burocracia. Entreguei a carteirinha e o plano de parto e já me levaram pra sala de parto. Em menos de 5 minutos eu já estava na sala de parto, que mais parecia um quarto mesmo, com a enfermeira instalando o monitor fetal e fazendo o acesso no meu braço. Na hora fiquei feliz porque não iam me amarrar em lugar nenhum, eu ia ficar sem soro e poderia andar se eu quisesse. Logo depois disso a enfermeira me examinou e a primeira decepção. Só tinha 3cm de dilatação! Tudo aquilo de dor e 3cm??? Fiquei apavorada. Ela saiu e deixou nós três sozinhos.
 

Isso eram umas 22h (eu acho). Ficamos nós três na sala, a doula me fazendo massagem e me ajudando com as contrações. Apagamos a luz, ficamos bem confortáveis. Eu não conseguia nem ficar em pé de tanta dor, quanto mais andar. A melhor posição era sentada na beirada da cama mesmo. Eu tentava fazer as respirações que aprendi na yoga, me acalmar, mas nada funcionava. Eu imaginei que ia sentir dor, mas nunca imaginei que as contrações ficavam tão próximas umas das outras tão rápido e faltando tanto pra chegar no final. Quando eram umas 2h eu não aguentava mais de dor. As contrações vinham de 2 em 2 minutos e duravam mais de 1 minuto cada uma. Eu queria vomitar de tanta dor, tentei tudo quanto é posição e nada me ajudava. Não dava tempo nem de respirar e já vinha outra contração. Eu já estava num mundo à parte mesmo. Eu gritava, ficava de 4, esperneava, não estava nem aí pra nada. A enfermeira veio me examinar de novo e a dilatação ainda estava em 5 cm. Nesta hora eu entrei em desespero mesmo, ainda faltava metade e eu já estava com muita dor desde as 20h quando a bolsa rompeu! 6 horas de dor e apenas 5 com de dilatação... A enfermeira sugeriu a banheira e eu aceitei, mas não cheguei a ir até a banheira. Comecei a pedir a anestesia. Meu marido me perguntou se era isso mesmo que eu queria, se eu não preferia ir pra banheira primeiro e eu disse que não, que queria a anestesia. A doula não abriu a boca. Segundo meu marido, ele olhou para ela e ela o apoiou, como quem diz: ela que decide, você não pode fazer nada.
 

Fui no banheiro, tirei minha roupa e coloquei a camisolinha do hospital. Nesta hora, eu quis chorar, de dor, de medo, de ter fracassado tão rápido. Respirei fundo e pensei que talvez não tivesse outro jeito mesmo, pelo menos eu estava tentando o máximo que podia.
 

O anestesista chegou um pouco depois e eu tomei a epidural. Ele falou que demorava uns 10 minutos para fazer efeito, mas acho que foi mais rápido que isso, porque eu senti mais algumas contrações e passou. Nossa, como eu agradeci a quem inventou a anestesia. Me deu um alívio tão grande na hora. Pena que o alívio durou tão pouco tempo. Em segundos eu senti alguém me deitando e me colocando a máscara de oxigênio. Eu não via nada direito, só sei que tinha um monte de gente na sala. Não estava conseguindo entender nada. Só vi a médica falando pra mim que os batimentos cardíacos do bebê tinham caído muito (estavam menores que 80) e que se não voltassem em menos de 10 minutos ela teria que fazer uma cesárea de emergência.
 

Os batimentos estabilizaram. A médica me explicou que isso podia ter acontecido porque o bebê pressionou o cordão umbilical, mas que não dava para garantir e que ele podia estar ficando cansado. Graças a isso, foi instalado um monitor fetal na cabeça do bebê e eu não podia mais me mexer... A médica disse que não podia arriscar perder os batimentos cardíacos depois do que aconteceu e que se baixasse de novo, era cesárea na certa. Assim que tudo se acalmou e ficamos sozinhos de novo, a primeira coisa que a doula me disse foi: "Você sabe que agora você vai ter que parir deitada né?" Eu nem questionei o porquê, eu me odeio por causa disso. Na minha cabeça ela sabia mais do que eu. E pior, nem foi o médico ou a enfermeira que me disse isso, foi minha doula!
 

Depois disso, a doula e meu marido foram descansar e eu fiquei lá imóvel, respirando fundo e observando o monitor de batimentos cardíacos. Fiquei neurótica, não conseguia relaxar. A enfermeira vinha de tempos em tempos conversar comigo, me dizer que estava tudo bem e que eu poderia tentar descansar que ela estava verificando o monitor pra mim, mas eu simplesmente não consegui!
 

Sei que ficamos muitas horas assim. Pela manhã a enfermeira veio ver a dilatação de novo e ainda estava em 7cm... Ela e a doula ficaram impressionadas com a quantidade de contrações que eu tinha e por tanto tempo pra dilatação ainda estar em 7cm. Pouco tempo depois eu comecei a sentir uma vontade de empurrar o monitor fetal pra fora de mim. Falei isso com a doula e ela disse que provavelmente eu já estava quase dilatando tudo e a hora do expulsivo chegando. Ela chamou a enfermeira e a dilatação estava em 9 cm. Faltava uma tal rebarba de um lado. A vontade de empurrar só piorava e agora eu já estava com muita dor de novo. Uma dor diferente das contrações, que vinha junto com uma vontade louca de empurrar.
 

Dilatação completa! Cada vez que vinha uma contração eu tinha que segurar nos meus joelhos e fazer força. O meu pesadelo vinha se concretizando. Eu não queria parir em posição de frango assado nem nos meus piores pesadelos e lá eu estava, nesta posição e segurando meus joelhos. Cada contração eu conseguia fazer 3 forças. Pegaram um espelho pra eu olhar e eu via a cabecinha do meu filho vindo. Isso era muito legal, me dava forças pra respirar fundo, aguentar a próxima e empurrar. Enquanto eu descansava entre as contrações, o médico fazia massagem no períneo, meu marido e a doula conversavam comigo. Eu tinha certeza de que ia conseguir, já estava quase acabando.
 

Mais de duas horas depois e nada do bebê nascer. A médica me diz que o bebê não estava conseguindo se recuperar entre as contrações. Que eu estava fazendo tudo certinho, que a força estava correta, tudo ótimo, mas que ele estava entrando em sofrimento fetal. A médica me disse que ele teria de sair na próxima contração de qualquer jeito e que ela ajudaria com o fórceps. Me disse que eu precisava fazer a maior força que eu conseguisse. A contração veio e eu fiz muita força. Eu senti o bebê saindo, escorregando inteirinho, mas senti tudo rasgando também. Ele saiu inteirinho e de uma vez só.
 

Assim que ele saiu já o colocaram em cima de mim, doía tanto que eu nem conseguia segurá-lo, fiquei com medo dele cair até. Logo em seguida, meu marido cortou o cordão umbilical e eu fiquei tentando colocá-lo no seio pra mamar. Ele gritava tanto, mas tanto que nunca vi coisa igual. Acho que ele gritou sem parar por quase uma hora! Ele nasceu com 3,5kg, 54cm, apgar 10/10/10.
 

A placenta saiu rapidinho em seguida. A médica me mostrou a placenta e o saco onde ele ficava, me disse que eu tive uma laceração de quarto grau, deu anestesia local (estava doendo muito) e costurou. Eu fiquei com meu bebê o tempo todo. Meu marido sentou na poltrona e abaixou a cabeça nas mãos. Eu me sentia atortoada, perdi muito sangue. Ninguém me explicou nada. Assim que fomos para o quarto, a doula foi embora. Foi a última vez que a vi.
 

Essa parte foi muito doída, doída no psicológico, no emocional mesmo. A última coisa que eu queria era parir que nem frango assado e precisar de fórceps. Fora a laceração grave! Além da dor, eu ainda comecei a sofrer com medo das conseqüências dela (incontinência principalmente). Minha mãe fez campanha a favor da cesárea minha vida toda justamente por causa do fórceps e meu parto dos sonhos terminou com o uso dele. Muito frustrante, não dá pra negar. Meu bebê nasceu um pouco machucadinho por causa do fórceps e com uma bossa gigante que sumiu quase um mês depois.
 

A doula me ligou uns 2 dias depois do parto para saber como nós estávamos. Uma conversa de uns 10 minutos na qual eu chorei bastante e disse que estava com muita dor. Ela me orientou a fazer compressas geladas. Ficou de nos visitar no final de semana, no máximo no outro. Esta visita nunca aconteceu. Pior ainda, ela desapareceu. Eu mandei diversos e-mails, tentei ligar diversas vezes, deixei recados e nada. Quatro meses depois do parto, eu decidi fazer um teste e liguei para ela de um número desconhecido. Ela atendeu o celular na primeira tentativa que eu fiz. Eu desliguei sem falar nada. Eu não tive forças pra pronunciar nenhuma palavra. Logo em seguida recebi um e-mail dela dizendo que ela estava muito ocupada e que poderíamos nos encontrar no início do próximo ano. Eu ainda estou esperando...
 

Eu confesso que me senti realmente abandonada depois do parto. Nunca fui examinada pra saber se estava tudo bem (na minha consulta pós-parto, o médico, aquele que queria fazer cesárea por causa da cicatriz, me disse que se não estivesse saindo fezes pela minha vagina era porque estava tudo certo). Chamou meu marido em outra sala e disse que eu estava com DPP (depressão pós-parto). Receitou antidepressivo por um ano sem acompanhamento (eu nunca os comprei). Os pontos demoraram 2 meses pra cicatrizar e eu senti dor durante mais de 6 meses. Eu não tive apoio nenhum. Depois de ir atrás de informações na internet, decidi procurar uma fisioterapeuta e uma psicóloga. Elas foram essenciais para a minha melhora física e emocional. Não tenho mais seqüelas físicas do parto, nem meu bebê, mas até hoje eu ainda não consegui aceitar as coisas direito.

Para ler a continuação deste post, clique aqui.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Homeschooling e tarefas domésticas: relato de um pai que fica em casa!

Como comentei no último post, meu marido é quem está ficando em casa com as meninas neste semestre. Por isso, pedi para ele escrever sua experiência de fazer as tarefas domésticas enquanto cuida/ensina as crianças ao mesmo tempo. E eis abaixo o resultado!

Hora de lavar a roupa!

Neste período aqui no Canadá estou tendo a oportunidade de desempenhar meu papel de pai em tempo integral. Eu assumi parte das tarefas da casa e do cuidado e ensino das nossas filhas, principalmente nos horários em que minha esposa está estudando.

O que temos entendido sobre homeschooling é que não basta apenas trazer a escola para dentro de casa, é preciso trazer as crianças para dentro das tarefas da casa. Uma coisa que fascina as crianças é ver um adulto fazendo uma tarefa. O mais comum é a criança pedir para ajudar. Mas o que temos a tendência de fazer é "enxotar" a criança para que ela não nos atrapalhe. É difícil (e por vezes perigoso) cozinhar com uma criança por perto. É complicado limpar a casa com elas no meio do caminho. Então, como trazer as crianças para perto? Como envolver seus filhos nas atividades cotidianas da casa? Isso é parte de sociabilizar uma pessoa, é ensinar a viver.

A tarefa que deu mais trabalho para eu aprender, pois eu também nunca tinha ficado com essa responsabilidade, foi lavar a roupa suja. A parte fácil é que no prédio já tem máquina de lavar e secar. A parte difícil é que o tanque é muito ruim e a lavanderia fica 2 andares abaixo do meu.

Então, como envolver as crianças na tarefa, uma vez que não dá para deixá-las sozinhas em casa e descer para lavar roupa? A primeira vez eu peguei os dois cestos de roupa suja, o cartão e desci com elas. Subi novamente, pois tinha esquecido o sabão, amaciante e o tira-manchas. São 28 degraus com duas crianças. Mas vamos lá. Começamos colocando a roupa na máquina e eu separei as que tinha que esfregar para tirar as manchas. Fiquei uns 20 minutos fazendo isso. Imagina como já estava a paciência das meninas? E eu também já estava ficando louco. Finalmente conseguimos colocar toda a roupa na máquina, passamos o cartão, escolhemos o modo de lavagem e apertamos o botão verder de ligar. Já tinham nos dado a dica de deixar a roupa lavando e voltar 30 minutos depois e foi exatamente isso que fiz. Coloquei um alarme para tocar e na hora certa descemos novamente. Tiramos a roupa da lavadora e a colocamos na secadora. Mesmo procedimento e 60 minutos depois estávamos de volta para tirar a roupa da secadora, dobrar e trazer de volta para casa. O duro é tirar a roupa da secadora e já dobrar com duas crianças desfazendo todo o seu trabalho (pois com a roupa quente não precisa nem passar, se dobrar direito). Foi bem sofrido das primeiras vezes até eu conseguir uma forma de envolver de verdade as meninas.

Veja o passo a passo depois das mudanças que fiz para elas poderem realmente ajudar.
1. Eu primeiro esfrego as roupas com manchas (na banheira) para já descer e só colocar tudo na máquina.

2. Pegamos o cartão, os cestos de roupa suja, os produtos químicos de lavagem e descemos.

3. Coloco as duas em cima da máquina e um cesto atrás de cada uma e elas vão colocando toda a roupa dentro da máquina enquanto eu vou arrumando.


4. A Nicole (4 anos) coloca o cartão na máquina, eu escolho o programa e a Alícia (2 anos) aperta o botão para ligar.

5. Subimos todos para casa e fazemos alguma atividade nos 30 minutos. Eu geralmente lavo a louça do café da manhã.

6. Eu tiro a roupa da lavadora e coloco dentro do nosso cesto que está na frente da entrada da máquina de secar. As meninas rapidamente pegam a roupa e a jogam para dentro da secadora. Depois de colocar toda a roupa, seguimos o mesmo procedimento para ligar a secadora.

7. Uma hora depois é hora de tirar a roupa da secadora. O desafio de envolvê-las aqui foi vencido fazendo com que elas separassem a roupa que estão tirando de dentro da secadora. Eu coloco dois cestos, um para panos, toalhas, cuecas, meias, sutiãns e calcinhas e outro para eu dobrar a roupa. Elas têm a responsabilidade de separar onde vai cada peça que tiram da máquina. Assim funcionou pois me dá tempo de dobrar a roupa razoavelmente bem e sem ninguém desfazendo o que eu faço.
Minha mãe é ótima com as tarefas da casa e me ensinou muitas coisas, mas antes de casar, o cesto de roupa sempre foi algo mágico para mim. Era só colocar a roupa nojenta lá dentro e alguns dias depois ela estava de volta limpinha dentro do armário. De mágico passa para trágico quando você vê que não sabe fazer algo tão básico como cuidar da própria roupa. Isso serve para todas as áreas da nossa vida. Passamos tanto tempo na escola aprendendo as ciências, as letras e números, depois vamos para a faculdade e aprendemos uma profissão, depois nos aperfeiçoamos com cursos, línguas etc. Mas para as coisas mais básicas da existência humana, como cuidar de si mesmo, ter um relacionamento amoroso sadio, aprender a lidar com a ansiedade, ira e outros sentimentos, cuidar das suas próprias finanças, entre outras coisas, dedicamos pouquíssimo tempo pensando ou estudando sobre isso. 

Homeschooling pode ser mais do que trazer a escola para dentro de casa. Pode ser encarado como uma proposta de formar o indivíduo como um todo, em todas as áreas da sua vida.

Douglas Marsola

domingo, 20 de outubro de 2013

Mudança de país e adaptações!

Olá a todos e a todas!

Eu amo escrever no blog. Amo mesmo, tudo o que leio de interessante e que me faz refletir ou o que aprendo no dia-a-dia fico com muita vontade de vir correndo aqui compartilhar. Se eu pudesse faria de "blogueira" a minha profissão, hehe. Mas esta não é a minha realidade no momento, então eu preciso fazer um esforço imenso para arrumar tempo pra escrever. Principalmente com as mudanças na minha vida nos últimos tempos, minha vontade de escrever o que vivo e aprendo com a maternidade precisou ficar em segundo plano. E explico o porquê: nós mudamos de país!! Estamos morando no Canadá. 

Chegamos, eu e a Nicole, há exatos 1 mês e 17 dias. O Douglas e a Alícia, infelizmente, chegaram somente uma semana depois por causa da demora para a liberação dos vistos. Tínhamos nos preparado e sonhado tanto com essa viagem em família e, no fim, viemos separados. Ah, antes disso, passamos duas semanas morando na casa dos meus pais (o Douglas e a Alícia uma semana a mais!) porque a nossa casa já estava alugada. Eu viajei primeiro porque minhas aulas na universidade começariam no dia seguinte e eu não podia mais esperar. Vim com uma das filhas (em vez de sozinha) por causa da bagagem - seria muito complicado para um só viajar com duas crianças pequenas e ainda tantas malas. Obs: Me arrependi amargamente de ter trazido malas tão pesadas, passei altos apuros por causa disso!

Agora imaginem vocês que era fim de tarde de uma segunda-feira de feriado quando eu cheguei no nosso apartamento vazio, após passar a noite anterior toda dentro de um avião e boa parte do dia dentro de um trem. Detalhe: com uma criança de 4 anos! Foi física e emocionalmente cansativo, pra dizer o mínimo, principalmente porque a Nicole estava muito teimosa e isso deixa qualquer pai à beira dos nervos. Os mercados estavam todos fechados e na primeira noite comemos comida congelada comprada numa farmácia 24 horas. Começar a vida quase do zero é muito difícil! E percebi que o que dizem é verdade: a gente tende a não dar valor a certas coisas até que não as temos - no nosso caso, eram desde coisas bem básicas do dia-a-dia, como panelas, pratos e, sim, um abridor de latas (tive de fazer macarrão alho e óleo um dia porque comprei o molho de tomate, mas não é que me esqueci do abridor?) até as maiores, como mesa, cadeiras, sofá e cama!! 

Isso sem falar do choque cultural de não saber o idioma (francês) quando alguém lhe dirige a palavra ou então do exercício mental que é ficar freneticamente tentando entender o significado de palavras novas (praticamente todas!). No outro dia de manhã e em todos os dias que seguiram até o meu marido chegar pra ficar com as meninas, eu levei a Nicole comigo para as aulas e também para resolver as inúmeras pendências de alguém que acaba de chegar numa cidade nova - linha telefônica e internet para o celular, seguro de saúde-viagem, carteirinha de estudante, bilhete de ônibus/metrô, livros obrigatórios, mercado, etc. Na universidade, a minha estratégia foi colocar desenhos no netflix para ela assistir (com fones de ouvido, claro) e, felizmente, deu muito certo. Até recebi elogios sobre o quão bem ela havia se comportado... ufa. De todos os desafios, este nós tiramos de letra. :)

Mas o sufoco dos dias/semanas iniciais passou! E hoje já estamos bem melhor adaptados - fazendo amizades, conhecendo as redondezas, aprendendo sobre a cultura, o idioma, nos ajustando à nova rotina, ao clima... enfim, são muitas as mudanças e quero compartilhar um pouquinho disso tudo com vocês, na esperança de que vocês sejam edificados com as reflexões que faço daquilo que tenho vivido.

Mas antes, conheçam o nosso novo carro vermelho!



Acho que a nossa família tem uma atração especial pela cor vermelha. Engraçado pensar isso. A pintura externa da nossa casa no Brasil é vermelha e todos os carros que nós já compramos até hoje (se bem que só foram dois) eram vermelhos. Bem, é uma cor forte e chamativa e acho que combina bem com a nossa família. Este "wagon" não é diferente - nós o compramos há apenas 10 dias e ele já fez muito sucesso aqui no bairro! Decidimos comprá-lo porque estava ficando difícil e complicado carregar as meninas no colo quando saíamos. Criança é assim, anda um pouquinho e já cansa e quer colo (só para brincar é que não cansam!). E como aqui nós não temos um automóvel, fazemos muitas coisas a pé. Andamos até o ponto de ônibus, até o mercado, até o parquinho, até o centro comunitário, etc. Então este "wagon" está sendo extremamente útil. Quero ver como vamos nos virar com ele na neve!

Agora vamos às mudanças e adaptações.

Nossa Casa
Amamos o bairro em que moramos. O nosso apartamento fica numa pequena ilha, perto o suficiente do centro de Montreal e ideal para famílias que estão chegando na cidade. É um lugar especial, tem lago, muitas árvores, gramado e esquilos. No outono agora a paisagem estava espetacular! Me apaixonei pelos diferentes tons de vermelho, laranja e amarelo das folhas. É igualzinho a gente vê nos filmes. Agora o frio está aumentando e as árvores já estão ficando peladas. O inverno está se aproximando (ai que medo!). Aqui é muito tranquilo e gostoso para morar, com diversas opções de parques para as crianças brincarem e se divertirem. É um bairro onde vivem muitos imigrantes (acredite quando eu digo muitos!) e eu me senti bem acolhida, as pessoas que eu conheci foram receptivas e dispostas a ajudar. Fiz amizades muito rápido e com pessoas de lugares do mundo que eu mal saberia apontar no mapa!

Moramos num apartamento que fica no último andar de um prédio de três andares e que não tem elevador. São apenas quatro lances de escada porque o primeiro andar é o térreo, mesmo assim para nós já é uma mudança: subir ou descer os 28 degraus de escadas toda vez que saímos ou chegamos. Os apartamentos do prédio não têm área de serviço privativo, então a novidade para nós é usar uma lavanderia em comum (com um tanque bem esquisito e ruim de usar). Na lavanderia, a gente tem de pagar para usar a máquina de lavar e a máquina de secar roupas. Não é como no Brasil onde a gente estende as roupas para secar no varal. O ponto ruim é que não temos ferro de passar e nem cabides o suficiente para pendurar todas as roupas da família, então mesmo dobrando as roupas ainda quentes, a maioria fica bem amassada. Mas como as pessoas aqui parecem não ligar pra isso, tudo bem, rsrs.

Uma vantagem é que os apartamentos de aluguel já vêm com fogão, geladeira, armários (nos quartos, na cozinha e no banheiro) e também água quente (inclusos no aluguel, que não é barato, mas o "menos caro" que conseguimos encontrar por aqui). Pagaremos somente a conta de luz que vem de 2 em 2 meses (algo que eu achei curioso). A cozinha do nosso apartamento é bem pequena. Bem mesmo. Primeiro eu achei que seria ruim ter uma cozinha tão minúscula desse jeito (um terço do tamanho da nossa casa no Brasil), mas agora já estou gostando! Antes, quando a cozinha estava "de pernas para o ar" depois de uma refeição, eu tinha a sensação de que a casa toda bagunçada e não ficava feliz enquanto ela não estava arrumadinha de novo. Agora a louça por lavar não me incomoda tanto!! E também acho super prático colocar a mesa ou guardar as coisas porque está tudo ali tão pertinho.

Uma desvantagem é que, com exceção do banheiro, da cozinha e da copa, não há lâmpadas no teto, A iluminação é feita via luminárias e/ou abajures e não é a mesma coisa. A casa fica escura, o que me incomoda, principalmente quando preciso ler alguma coisa. Gosto da claridade e quero ver como vamos nos adaptar no inverno já que nos disseram que o dia escurece às 16:30.

O banheiro também é um pouco diferente do que estávamos acostumados. Primeiro, porque ele é um só (e para uma família de quatro pessoas, eu acho pouco!) e porque ele também é pequeno. O banheiro tem um exaustor barulhento (que liga quando você acende as luzes) e lâmpadas bem quentes. Eu não gosto porque fica muito calor, eu sento no vaso e tenho a sensação de estar tomando sol (porque o teto, ainda por cima, é mais baixo). Mas talvez seja uma daquelas coisas que eu vou dar graças a Deus de ter quando estiver um frio de menos 30 graus, não é mesmo?! O lado bom é que temos uma banheira!! Para o tamanho do meu marido ela é pequena e apertada, mas para mim e para as meninas ela é ótima! Eu apenas gostaria de ter uma mangueira com chuveirinho porque acho que facilitaria muito pra dar banho nelas.

Outra mudança é que aqui as meninas dormem numa cama de casal que foi deixada no apartamento pelos moradores anteriores. Tivemos alguns episódios delas caírem da cama no começo (opps!), mas agora que empurramos a cama contra a quina da parede o problema foi solucionado! Colocamos um cobertor no meio pra dividir o espaço e não tivemos grandes problemas delas dividirem a cama. Se bem que às vezes um de nós precisa sim ficar voltando lá pra mandar a Alícia colocar a cabeça de volta no travesseiro dela (ela gosta de mexer com a irmã). Mas isso não é novidade, acontecia em SP também.

Nossa Rotina
Minha rotina mudou muito e ainda não sei dizer se para melhor ou pior. Eu vim com "permissão para estudo" porque vamos ficar por 1 ano, mas o visto do meu marido e o das meninas é de turista. Faz um mês que o Douglas fez o requerimento para obter a "permissão para o trabalho" e enquanto ela não chega, ele fica em casa e passa a maior parte do tempo com as meninas enquanto eu saio para estudar. No Brasil eu também estudava, mas o que mudou mesmo foram os horários. Antes eu ia para a universidade à noite e passava o dia com as meninas homeschooling (e, claro, limpando, cozinhando, lavando, ha!) enquanto o Douglas trabalhava fora. Agora invertemos as tarefas e eu ainda estou me acostumando com a ideia. E as meninas também, principalmente a Alícia que é quem percebo que está mais sentindo essa troca. Eu chego em casa e ela fica louca tentando chamar a minha atenção, pede para eu fazer as coisas no lugar do pai (colocar comida no prato dela, levá-la pra fazer xixi, etc.).

Como os meus horários de aula são variados e eu sou o que a universidade chama de "estudante em tempo integral" (significa que eu faço 4 disciplinas e, em tese, preciso dedicar nove horas semanais de estudo extra-classe por disciplina), nos dias em que tenho aula normalmente passo muitas horas fora. A parte boa é que meu marido é quem ficou com a parte realmente difícil - cuidar da casa, da roupa, da comida e das meninas. Eu não lavei roupa nenhuma vez ainda, rs. Ele está fazendo tudo!

Perto de casa tem um centro comunitário, com biblioteca e inúmeras atividades legais para adultos e crianças. A maioria são pagas, mas é um suporte bem legal que eles dão para os pais do bairro. Nos inscrevemos em algumas aulas. Na 2a feira à tarde as meninas estão fazendo dança (hip hop) e esta é a única atividade que elas fazem sozinhas. Nas demais a mãe, pai ou responsável pela criança tem de participar junto (é uma aula em conjunto). Na 3a feira, por exemplo, eu e a meninas participamos do "Quack-Quack". É um grupo de aprox. 20-25 mães e filhos que brincam juntos por duas horas. A educadora responsável monta uma brinquedoteca, com mesas de atividades diferentes (como massa de modelar, pintura e artesanato), e toda vez faz um curto momento dirigido de leitura e músicas, para bebês e crianças até 5 anos. E, na 6a feira de manhã, a gente faz música e depois aula de cerâmica.

Aqui cabem duas observações. Uma delas é a tentação do "hiperscheduling". Quase caí nessa armadilha, mas consegui perceber a tempo e parei pra analisar no que eu estava me metendo. Mãe tem dessas às vezes, né? A gente quer ver o(s) filho(s) desenvolvendo o máximo do seu potencial o mais cedo possível e sem perceber comete excessos, reduzindo demais o tempo da criança em casa que é tão bom e deve ser curtido e valorizado!! Não é porque a criança está fora de casa o tempo todo, fazendo mil e uma atividades "pedagógicas", que ela está realmente aprendendo e desenvolvendo alguma coisa. Ela pode estar vendo um monte de gente em diversos lugares, mas nem por isso está se sociabilizando adequadamente ou tirando proveito desses momentos fora. A lição que fica aqui é o célebre "menos é mais". E a outra observação que quero fazer segue uma linha bem próxima, o engano de que a gente precisa logo "passar a bola" para outro (o "especialista") que sabe ensinar nosso(s) filho(s) porque não temos capacidade de fazê-lo. Está aí uma mentira deslavada! Quem é que conhece o filho melhor do que mãe e pai? Com criatividade e disposição para aprender, é lógico que eles podem sim estimular pedagogicamente os filhos, fazendo um trabalho de excelência e, se quiserem, com certeza bem melhor do que o de um(a) educador(a) infantil pago para isso. Mas é muito mais fácil acreditar no contrário e, pasmem, me deu bobeira aqui e eu estava quase indo por esse caminho. Vou contar como foi.

Uma das preocupações quando cheguei aqui era saber se quando o Douglas conseguisse um emprego nós teríamos o benefício que o governo dá de subsídio em "garderie" (palavra francesa para creche). Não que eu fizesse questão de que as meninas fossem pra creche (claro que não!!), mas pensei que seria uma oportunidade boa para elas aprenderem o francês. Afinal, não é sempre que a gente passa um ano em outro país. Eu nem pretendia enviá-las todos os dias, mas queria organizar minhas aulas na universidade para coincidir com elas irem algumas vezes por semana, em meio-período, por exemplo. Nessa de eu tentar me informar e perguntar para as pessoas daqui como é que funciona o reembolso do governo, descobri que as "garderies" têm uma lista de espera absurdamente longa. As mães colocam o nome do filho quando ainda estão grávidas e chegam a esperar 3 ou 4 anos por uma vaga (e a gente que pensou que esse problema só existia no Brasil, hein??). Daí as pessoas foram me indicando "garderies priveé" (as particulares), mas os preços são altos demais e não teríamos condições de pagar. Até que fiquei sabendo de um "pre-school program" de dois dias por semana (3 horas por dia, ou seja, bem mais puxado do que as atividades que fazemos hoje), que estava com um preço bom e me empolguei. Detalhes importantes que eu deixei passar: 1) ele era em outro bairro (eu precisaria pegar ônibus, metrô e ainda andar um quarteirão inteiro com as meninas, já pensou fazer isso nos meses de neve?), 2) o foco era preparar crianças de 2 a 5 anos para entrar na escola (hein? eu não preciso disso, estou pensando em "homeschool" minhas filhas!), e 3) o programa era todo em inglês (peraí, o objetivo não era aprender francês?). Ou seja, já tinha saído totalmente do meu propósito e eu nem percebi. Haha! Engraçado como uma coisa puxa a outra. Se o seu objetivo não estiver muito claro, são dois palitos para perder o foco. Foi o que aconteceu. Cheguei a ir até lá pra conhecer, paguei a inscrição e estava "tudo certo" para começarem na semana seguinte. Mas daí percebi a tempo a besteira que eu estava prestes a fazer, voltei atrás e optei pelas atividades mais curtas aqui no centro comunitário perto da minha casa mesmo.

Pensando agora, talvez o que mais tenha me chamado a atenção nesse "pre-school program"(e o que me fez ficar tão empolgada) foi o fato de eu perceber que este era um programa claramente educativo. Sim, porque uma coisa que me chamou a atenção (negativamente) foi ter visto dois grupinhos de "garderie en milieu familial" (creche em ambiente familiar) fazendo passeio num parque aqui perto de casa. Achei muito estranho e jamais teria coragem de colocar as meninas numa "garderie" dessas! Para resumir, a postura da "garderienne" era de cuidadora (e olhe lá) e uma delas ficou o tempo todo no celular. O semblante das crianças era de tristeza e apatia, me deixou com a pulga atrás da orelha! Compartilhei o que vi num grupo de facebook de mães/pais brasileiros que moram no Canadá e o assunto rendeu. A minha conclusão é: Se o "ambiente familiar" é assim ao ar livre, que dirá dentro de quatro paredes onde nenhum outro adulto vê? Eu, hein... Tô fora!

Mas o meu ponto inicial era dizer como é importante e gostoso ficar em casa! Não só para as crianças, mas para mim também. O lar é um lugar propício para ensinar as crianças, fazer atividades divertidas e educativas, ficar à vontade na companhia de quem a gente ama, se alimentar bem, enfim... é o lugar ideal para as crianças pequenas, principalmente, crescerem e se desenvolverem. Elas não precisam ir para escola todo dia para isso, não sei porque às vezes temos a mania de pensar o contrário e achar que, porque estamos em casa, não estamos fazendo nada de bom ou de importante.

Nossa Alimentação
Para o meu paladar, a comida daqui é ruim: acho-a picante e gordurosa.

Na verdade, ainda não sei exatamente qual é a culinária canadense, só sei que quando estamos na rua é difícil achar um lugar para comer bem. E por "bem", claro que me refiro à comida saudável e gostosa, sabe? Tipo um arroz, feijão, mistura e salada, rsrs. Ah, e sim, um suco natural para acompanhar. :)

Outra observação é que a diversidade cultural é tamanha que há restaurantes de comidas típicas de vários lugares, principalmente comidas asiáticas e árabes. Para nós é muito esquisito ainda e não sei se/quando vou me acostumar. Vou pra universidade e, quando não consigo levar o meu próprio lanche, passo o dia à base de Tim Hortons ou Pizza Bella, pois além de CARA, a comida aqui não me apetece.

Em casa, é claro, estamos tentando fazer a nossa comidinha de sempre. A única coisa que ainda não conseguimos fazer com regularidade são os sucos naturais, mas como faço muita questão (porque não sou fã de sucos industrializados!) já estamos dando um jeito, hehe.

Bem, pessoal, escrever esse post foi quase como ter um parto.... demorou, mas saiu!

Beijos e até uma próxima.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Relato de Gravidez e Parto Natural - parte 2

Após uma gravidez tranquila com um pré-natal um pouco diferente do que tive com meus primeiros dois filhos no Brasil, estava mais do que pronta para ter a Natalia! Parece que a minha paciência com a barriga gigante foi diminuindo com cada gestaçao. No final desta, eu já não estava mais aguentando ter que cuidar de 2 filhos (um de 5 e uma de 3 anos) com um barrigão!

Já que o parto da Larissa, minha segunda, foi tão rápido e 1 semana antes do esperado, fiquei imaginando que o parto da Natalia também seria parecido. Veja o relato dos outros dois partos aqui. Com a Larissa, na consulta de 38 semanas eu já estava com 2 para 3 cm de dilatação, e na consulta de 38 semanas da Natalia eu também estava com 3 cm. Estava sentindo contrações fracas alguns dias e sabia que estava dilatando aos poucos. Fiquei animada e confiante que o parto seria rápido como da Larissa, e, conversando com minha médica, decidimos que seria melhor eu ir para a maternidade quando estivesse tendo contrações cada 10 minutos (já que com a Larissa minhas contrações vinham a cada 8 e já estava com 9cm de dilatação).

Na consulta de 39 semanas eu estava com quase 4cm de dilatação e minha médica perguntou se eu queria que ela descolasse minha bolsa (algo que as médicas fizeram também nas outras duas gravidez, do Tiago com 40 semanas e 1 dia, e na da Larissa com 39 semanas). Lembrei que com os outros dois havia dado certo esse método de estimular as contrações, mas não sei o que deu em mim que, apesar da vontade de ter logo a Natalia, acabei falando "não, vou esperar." Na verdade, não mudou nada...porque na mesma madrugada comecei a sentir contrações.

As 2 da manhã comecei a sentir contrações leves. Com um aplicativo do meu celular, comecei a monitorar o intervalo entre cada e vi que estavam vindo cada 10 minutos. Apesar de ter combinado com a médica que iria para a maternidade com intervalos de 10 minutos, senti que as contrações não eram fortes o suficiente para ir. Continuei monitorando e tirando cochilos entre cada contração. As 5 da manhã levantei e tomei banho, as contrações ainda vinham cada 10 minutos. Mandei mensagem para o meu pai avisando que estava em trabalho de parto! Ele já ficou super preocupado que eu deveria ir para a maternidade,  mas eu sentia que não. Esperei mais um pouco e acordei o Marcos com a notícia. Ele ficou animado! Desci e fiz café e logo meus pais chegaram para ficar com meus outros dois filhos que ainda estavam dormindo. Decidimos ir para a maternidade!

Quando cheguei fiquei preocupada porque minhas contrações pareciam não estar vindo tão intensas e nem tão perto uma da outra. Passei pela recepção onde se faz internações e falei que estava em trabalho de parto. Um enfermeira me levou para a sala de parto, onde me troquei e colocaram o aparelho para monitorar o batimento cardíaco do bebê e minhas contrações.
Só porque estava lá, prontinha e animada, minhas contrações começaram a diminuir. A enfermeira veio e achou que eu não estava em trabalho de parto, mas por causa do meu histórico de parto rápido e com contrações espaçadas, ela falou que iria esperar 1 hora, monitorando, para vermos. Quando ela me examinou não conseguia "achar" o cervix (não entendi essa!) e forçando muito para achar (doeu!) achou estranho minha médica ter falado no dia anterior que eu estava com quase 4! Falou que eu estava com 2 ou 3! Fiquei completamente desapontada e com medo de mandarem eu voltar pra casa! Orei e pedi para Deus fazer o trabalho de parto ir adiante!

Esperamos mais uma hora e ela voltou. Viu a frequencia das minhas contrações e achou que talvez eu teria que voltar pra casa mesmo. Ela era muito legal, mas realmente estava achando que não estava na hora ainda...mas não queria ter que me mandar pra casa. Eu então perguntei se a obstetra de plantão não poderia descolar minha bolsa para ver se a coisa ia pra frente. Ela falou que iria conversar com ela. Orei novamente!

Depois de um tempo a enfermeira voltou, junto com a médica que resolveu me examinar mais uma vez. Desta vez, ela mal começou o exame já sentiu o cervix e falou que eu estva com 5cm! A enfermeira ficou espantada e feliz em não ter que me mandar pra casa, e ficou confusa em relação ao exame de toque dela! Achei muito estranho também! Como que ela teve tanta dificuldade em achar meu cervix e sentiu apenas 2 ou 3 cm de dilatação? Algo deu errado!

A médica ficou animada e falou que voltaria em breve para estourar minha bolsa e que então ela nasceria rapidinho. A enfermeira correu para deixar tudo pronto e perguntou se eu ia querer anestesia. Falei que por causa do parto da Larissa, achava que este seria rápido e tranquilo também e que achava que não precisaria de nada mas fiquei pronta para receber anestesia caso mudasse ideia.

No parto da Larissa eu cheguei na maternidade já com 9cm, e tendo contrações cada 8 minutos. Me deram um pouco de anestesia (apesar de eu falar que estava super bem e achava que não precisava), empurrei umas 3 vezes e ela nasceu! Foi fácil demais! Desta vez, porém, eu dilatei um pouco mais devagar. Mas cada vez que a enfermeira vinha me ver, eu estava super contente, super bem, e ela ficava chocada! Até chamou uma outra para vir me ver! Quando eu tinha contrações o quadro mudava, mas estavam completamente suportáveis e eu estava até rindo, com a ajuda do meu marido e do meu pai, que estavam no quarto comigo e me faziam rir toda hora. As risadas aliviavam as contrações!

Logo as contrações começaram a ficar mais fortes e eu comecei e ficar com medo! Apesar de ter falado pra enfermeira que ia tentar fazer tudo natural, eu não havia me preparado muito bem para tal. Fiquei imaginando que se fosse fácil como da Larissa, não ia precisar de preparo nenhum. Mas não estava sendo tão fácil quanto da Larissa, as contrações estavam ficando mais fortes e mais frequentes e eu comecei a imaginar como seria para empurrar sem ter anestesia. Comentei com meu marido e meu pai que estava ficando com medo. Mesmo assim, quando a enfermeira veio me ver acabei não falando que queria um pouco de anestesia. Fiquei pensando "se já cheguei até aqui, vou até o final". Queria poder ter a experiência de um parto natural, mas hoje vejo que deveria ter me preparado melhor e, ja que não me preparei, deveria ter pedido anestesia.

Uns 20 minutos antes dela nascer comecei a ficar desesperada. As contrações eram insuportáveis e minha sensação de que não fosse aguentar mais um segundo daquilo começou a me dar pânico. Queria que ela saisse imediatamente! Queria tanto empurrar, não conseguia entender porque não podia empurrar mesmo sem estar sentindo vontade! Elas me falavam que eu ia saber quando fosse hora de empurrar, porque não ia conseguir "não empurrar". Mas com a Larissa não cheguei a sentir essa vontade incontrolável de empurrar. Simplesmente dilatei tudo e me falaram que eu podia empurrar, empurrei e ela nasceu! Eu queria que a Natalia saisse e ponto final! Meu pai, nessas horas estava do outro lado da cortina, sentado no sofá escutando tudo. E eu sentia dó dele estar me ouvindo sofrer tanto. Estava sentindo um calor absurdo e estava em pânico com aquela dor. Pedia para o Marcos assoprar em mim e vi que a enfermeira uma hora perguntou se ele estava bem. De tanto assoprar em mim e ver minha dor ele estava sentindo que pudesse desmaiar. Mas passou.

De repente a coisa apertou e eu fiquei desesperada, a enfermeira olhou e viu que a Natalia ia nascer e chamou a médica com bastante urgência em sua voz. Quase não deu tempo da médica fazer o parto!
Senti a tal vontade incontrolável de empurrar e comecei a empurrar e a gritar do fundo da alma. Nessas horas, perdi controle do meu corpo e no desespero para que ela saísse fiquei empurrando mesmo sem a contração. Depois descobri que isso deve ter causado as dilacerações que tive (por isso devia ter me preparado melhor para um parto natural!). Enquanto eu gritava (não tinha controle sobre isso) pensava que deveria estar traumatizando meu pai para sempre! rsrs. Não lembro quantas vezes empurrei, mas não foram muitas, talvez umas 3 ou 4 vezes. Só sei que foram os momentos mais intensos da minha vida, onde a dor superou minha capacidade de suportar, e eu perdi controle de mim mesma. Escutava a médica falando sobre a Natalia, pedido para eu ver como a mãozinha dela estava saindo junto com a cabeça e que ela estava fazendo tchauzinho, e só conseguia pensar "tira logo ela de mim!!" Hehe. E enfim, as 14:18 (7 horas depois de chegar na maternidade)... o alívio. Alívio maravilhoso seguido de um rostinho lindo de um pequeno ser no meu colo. Uma menininha tão pequeninha, minha filha. Quanta emoção e quanto alívio. Já disse que estava aliviada? rsrs.

Depois de um tempinho no me colo, limparam ela, pesaram, etc...  2.950 kilos e 49.5cm (meu maior bebê até então!) e dei mamar. :)

Acho lindo como um parto pode ter as emoções mais intensas de uma vida. A emoção de uma dor incontrolável que milagrosamente em questão de segundos se torna a emoção indescritível de olhar pela primeira vez para o rosto de uma nova vida que você já ama absurdamente. Penso que a vida as vezes é assim. As vezes sentimos dor e sofremos aqui neste mundo, mas quando chegarmos no colo do Pai, tudo isso será esquecido e sentiremos alegria indescritível. :)

Desculpa se deixei alguém com medo de parto! Os meus sentimentos mais sinceros em relação a este parto são de que (1) - Para ter um parto natural, deveria ter me preparado melhor (para lidar com a dor e como empurrar, etc), (2) - já que não me preparei, deveria ter pedido sim um pouco de anestesia (o parto da Larissa foi tão emocionante quanto mas sem eu ter precisado passar pela dor insuportável). (3) - Eu não faço questão de ter um parto natural. Normal, sim, mas natural, não vejo por que. Pra mim é como se me dessem a opção de fazer uma cirurgia com ou sem anestesia. Vamos combinar que anestesia, neste caso, é uma bençao de Deus? Graça divina por permitir que o ser humano inventasse/descobrisse tal intervenção? A dor do parto não foi uma maldição dada por Deus após o pecado de Eva e Adão? Então a anestesia é pura graça de Deus! rsrs. Eu sei que muita gente discorda e pensa diferente, mas como disse antes, essa é minha opinião sincera. Gostei muito do parto da Larissa que foi todo natural mas com um pouco de anestesia no final (na parte mais difícil), senti as mesmas emoções (a não ser o alívio absurdo!).

Concluindo, meus conselhors para as grávidas (depois de 3 partos):

  • Parto normal é lindo, emocionante, saudável, benéfico para mamãe e bebê e não deve ser tão assustador aos olhos das mulheres.
  • Cesária é uma benção de Deus, quando existem complicações!
  • Geralmente não é necessário ajuda de ocitocina! Isso é mais para o médico poder ir pra casa logo. Então, a não ser que esteja demorando MUITO e o parto não está progredindo, não é necessário! E por muito, não quero dizer poucas horinhas.  Com o Tiago já logo me colocaram na ocitocina para a coisa ir rápido e a cada hora que a médica me examinava aumentava a ocitocina, e eu pensava que ia morrer. A dor das contrações fica muito pior. Aqui nos EUA muitas mulheres ficam 15, 20 horas em trabalho de parto (as vezes mais!)...como conseguem? Não estão sendo apressadas com ocitocina! O trabalho de parto em si, sem ajuda da ocitocina, é suportável. No parto das duas meninas não tive ocitocina e o trabalho de parto foi supoertável...apenas os últimos 45 minutos do parto da Natalia que foram insuportáveis. Já o trabalho de parto do Tiago foi todo insuportável...e só o final foi tranquilo porque recebi anestesia epidural.
  • O desconforto das 3 dilaceraões de segundo grau que tive foi MENOR do que da episio que tive nos partos do Tiago e da Larissa.
  • É MUITO importante ter apoio junto com você! Infelizmente, muitas das enfermeiras nas maternidades do Brasil não tem muita experiência em ajudar uma mulher passando por um trabalho de parto (pelo menos me parece assim). Aqui, elas tem muita! Foi muito importante para mim ouvir a enfermeira me falar "pode gritar, Cristine, pode fazer o que você quiser!":)

O mais engraçado foi ouvir do meu pai nos dias seguintes que enquanto ele orava por mim, aflito em ouvir minha dor, teve a idéia de gravar com o iphone o som do primeiro chorinho da Natalia quando ela saísse. Só que com isso acabou gravando meus gritos! Será que tenho coragem de ouvir?

De acordo com ele...será uma ferramente útil no futuro, quando ela for adolescente e duvidar do meu amor por ela (espero que não! rsrs). Aí poderei mostrar o quando sofri por ela! Hehe.





Relato de Gravidez e Parto Natural - parte 1

Aqui é a Cristine! Depois de muito tempo ausente aqui do blog vim contar sobre a gravidez e o parto da Natália, minha terceira filha que nasce quatro meses atrás!

Desde a última vez que postei aqui muita coisa mudou na minha vida, e uma delas foi que mudamos para os Estados Unidos! Depois de quase 1 ano morando aqui, meu marido começou a falar em um terceiro! Não imaginei que teria mais um bebê, já que depois do nascimento da Larissa passei por um período muito difícil por causa de um transtorno de ansiedade (leia mais aqui). Naquela época minha vontade de ter mais filhos tinha ido embora, acho que a ansiedade e o medo me deixaram com vontade de simplesmente viver a vida com menos riscos, e amar sempre é um risco! Queria viver a vida de forma segura e previsível (como se isso existisse). Por causa da vontade do meu marido comecei a orar e pedir que Deus trabalhasse no meu coração. Afinal, não queria deixar de viver uma benção por causa de medo. Alguns meses depois acabamos sendo mais relaxados com a prevenção e um belo dia me deparo com duas linhas num teste de gravidez!

Tive uma gravidez tranquila a não ser pelo comecinho...meus primeiros 3 meses sempre são de MUITO, mas MUITO cansaço, sono, fadiga absurda. Me sentia doente, não conseguia levantar do sofá ou ter vontade de fazer qualquer coisa! O pior de tudo é que tudo isso aconteceu bem quando meus sogros e cunhada vieram passar um mês conosco aqui nos EUA...acabei não tendo tanta energia ou disposição para aproveitar tanto eles e também para passear mais. Mas eles ajudaram bastante e, claro, ficaram muito felizes com a notícia de mais um neto ou neta.

O acompanhamento do parto aqui foi bem diferente! Primeiro porque eu pude escolher uma médica para fazer o pre-natal, mas o parto em si seria com o médico da clínica que tivesse de plantão no hospital no momento do parto. Então dentro da clínica que escolhi tive o acompanhamento do pré-natal com uma médica da minha escolha, mas na hora do parto, poderia não ser ela a médica de plantão no hospital onde todos os médicos desta clínica fazem partos. Não fiquei muito chateada com isso porque acho que com o terceiro filho já não temos mais tanta ansiedade em relação ao parto, médico, etc. Pelo menos eu não!

Outra diferença foi a quantidade de ultrasonografias! No Brasil fiz muitas, e aqui apenas fiz com 7 semanas, 12 (este ultrasom e a medição da TN e tudo mais é opcional aqui), 16 e depois só com 35 semanas (porque pedi!!). Achei muito estranho essa falta de ultrasonografias, principalmente no final da gestação. Mas, como também estava super tranquila e já havia descoberto o sexo do bebê no ultrasom de 12 semanas, não senti urgência em fazer ultras. Só pedi o ultrasom com 35 porque queria ver com que tamanho ela estava. No fim, o ultrasom que fizeram foi na sala da consulta mesmo, com um aparelho super simples e uma imagem péssima..não dava pra ver nada!

As consultas a cada mês foram bem simples, pegavam meu peso, mediam minha barriga, conversava um pouco com a médica e pronto. Os exames também pareceram ser os mesmos que no Brasil. Gostei bastante da minha médica mas era bem estranho pensar que talvez nem seria ela a que faria meu parto. Mas tudo bem!

39 semanas e 1 dia (um dia antes do nascimento)
A postura do médico em relação ao parto é bem diferente. Ninguém pergunta se você vai querer parto normal ou cesária, nem se fala em cesária! O parto é normal e ponto final...a não ser que você tenha alguma complicação séria. Pelo que vi, a única situação que exige já logo cedo uma decisão por cesária é quando a mãe já precisou ter uma cesária anteriormente. Aí não se discute, aqui eles fazem outra cesária. No Brasil já tive amigas que tiveram cesária e depois conseguiram ter parto normal!

Meu primeiro filho, o Tiago, e a minha segunda, a Larissa, ambos nasceram de parto normal. Veja o relato do parto deles aqui. Com a Natalia, a terceira, não fiquei ansiosa em relação ao parto e sabia que se tudo fosse bem, seria normal também, ainda mais num país onde se faz de tudo para ser normal! Então quase não conversei com minha médica a respeito do parto.

Veja, no próximo post, o relato de como foi!


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Devo exigir que o meu filho peça perdão? - Por Jen Wilkin

Texto extraído do blog "The Beginning of Wisdom" e originalmente publicado em 21/05/2013. Traduzido por mim com permissão da autora.

FAQ: Should I make my child apologize? - By Jen Wilkin

Pais frequentemente me perguntam se é errado exigir que seus filhos peçam desculpas quando agem com falta de respeito ou desobedecem. Geralmente, a preocupação é que, ao fazê-lo, eles estejam ensinando o filho a mentir. Não seria muito melhor esperar a criança pedir perdão quando ela está realmente arrependida em vez de forçá-la a repetir um pedido de perdão que você a ensinou?

É louvável que você queira que o seu filho fale e aja sempre pelos motivos certos. E sim, obediência segundo o padrão de Deus vai além do que simplesmente dizer as palavras certas - a obediência segundo o padrão de Deus diz respeito a palavras certas com as motivações certas, é fazer o que é correto pelos motivos corretos. É esse tipo de obediência que pais cristãos desejam que seus filhos aprendam.

Mas como esse tipo de obediência é aprendido? Como a obediência segundo o padrão de Deus é assimilada? A resposta pode surpreendê-lo(a). Diferente dos adultos que aprendem pela razão, as crianças pequenas aprendem pela ação. Os adultos precisam ser convencidos de que uma determinada ação é a correta antes de desejarem adotá-la. As crianças, por outro lado, aprendem a fazer o que é certo antes de serem intelectualmente capazes de compreender as razões por trás da ação. Para elas, agir da maneira certa precede o entendimento do porquê é a atitude certa.

Os pais intuitivamente compreendem e aplicam esta "verdade educativa" com crianças pequenas em muitas áreas:

- Ensinando a linguagem dos bons modos antes que elas desejem ser corteses ("por favor" e "com licença").
- Ensinando a linguagem da gratidão antes que elas se sintam gratas ("obrigado(a)").
- Ensinando a linguagem do respeito antes que elas queiram ser respeitosas ("senhor" e "senhora").
- Ensinando a linguagem da oração antes que elas tenham desejo de orar (Deus é bom, o Pai Nosso, etc.).

Em suma, ensinamos para elas as linguagens que elas devem dominar para interagir com as pessoas antes mesmo que compreendam o valor ou o conceito do porquê essas linguagens são necessárias e boas.

Por isso, minha resposta para a pergunta "Devo exigir que o meu filho peça perdão?" é um enfático "Sim". Se nós fielmente já ensinamos as linguagens dos bons modos, da gratidão, do respeito e da oração, então por que não ensinar a linguagem do perdão? Não é uma linguagem igualmente importante que eles saibam? Por que ensiná-los a pedir perdão os encorajaria a mentir, mas a dizer "obrigado(a)" sem estar com o coração grato não? Não seria cruel deixar nossos filhos de mãos vazias numa situação em que o perdão precisa ser buscado?

A criança litúrgica
Crianças são criaturas extremamente litúrgicas: elas amam a repetição. Isso explica a capacidade que elas têm para ouvir a mesma história ou ver o mesmo filme muitas e muitas vezes, o apego que têm a um ritual na hora de dormir ou a um ursinho de pelúcia, a tendência de gritar "De novo, de novo!" quando andam num carrossel. As crianças são programadas para a repetição porque a repetição as ajuda a aprender.

Assim como o pastor de uma igreja que usa liturgia toda semana não presumiria que sua congregação tem fé genuína só porque ela repete o Credo Apostólico, nós pais não presumimos que os nossos filhos estão realmente arrependidos só porque aprenderam a pedir desculpas. Mas nós damos a eles as palavras certas confiando que a motivação correta irá acompanhá-las à medida que eles amadurecem.

Assim como a congregação precisa ver o pastor viver na prática a liturgia que ele usa na ministração, os nossos filhos precisam ver em nossas vidas a verdade das linguagens que lhes ensinamos. Uma criança que vê seus pais, genuinamente arrependidos, pedir perdão quando erram com eles irá rapidamente aprender a fazer o mesmo. Toda vez que pedimos perdão aos nossos filhos, nós damos a eles uma ideia de como é um genuíno e maduro pedido de perdão: "Me desculpe por tê-lo(a) machucado com as minhas palavras. No seu lugar eu ficaria assustado(a) e triste porque a Mamãe gritou com você. Não é certo eu falar assim com você. Você é precioso(a) para mim. Eu o(a) amo muito e não quero fazer isso novamente. Eu não honrei a Deus e eu não honrei você. Eu oro que Deus me ajude a mudar. Você me perdoa?".

Crianças mais velhas e pedidos de perdão
Devemos exigir que crianças mais velhas peçam perdão? À medida que crescem, elas se tornam intelectualmente capazes de associar a motivação correta à ação correta. Elas se tornam aptas a pedir perdão sem serem mandadas e sem palavras decoradas. Uma criança mais velha que já demonstrou genuíno arrependimento (e tem o exemplo dos pais), provavelmente está pronta para uma abordagem diferente quando um pedido de desculpas se faz necessário.

- "Essa foi uma reação exagerada. O que você acha que precisa acontecer agora?" (Eu preciso pedir desculpas). "Sim. Você está pronto(a) para fazer isso agora ou precisa de alguns minutos para pensar no que quer dizer?".
- "Eu acho que você já sabe qual a coisa certa para se fazer agora. Eu oro para que o Espírito Santo lhe mostre que você precisa de perdão. Estaremos prontos para conversar quando você estiver".
- "Você precisa pedir perdão para a sua mãe. Use alguns minutinhos para pensar sobre o que você quer dizer e, quando estiver pronto(a), venha dizer a ela como você se sente sobre o que aconteceu".

E então sim, espere o arrependimento genuíno se manifestar. Se demorar muito a aparecer, talvez sejam necessárias mais conversas sobre como a falta de perdão prejudica os relacionamentos e também estabelecer consequências que deem conta do recado. Mas a criança que está acostumada com um pai que rapidamente se arrepende e perdoa irá tipicamente fazer o mesmo.

Então, sim, exija um pedido de perdão do(a) seu(sua) filho(a) pequeno(a). Não permita que o medo de ensiná-lo(a) a mentir impeça você de educar seus filhos na liturgia do arrependimento. Seja exemplo para eles do que significa arrepender-se segundo o padrão de Deus, eduque-os fielmente na linguagem do perdão e ore para que o Senhor use as suas palavras e o seu exemplo para trazer genuíno arrependimento aos seus pequenos corações.

Jen Wilkin é esposa, mãe de quatro incríveis crianças e defensora de que as mulheres amem a Deus com suas mentes através do fiel estudo da Sua Palavra. Ela escreve, ministra e ensina mulheres sobre a Bíblia. Ela mora em Flower Mound, no Texas, e sua família chama "The Village Church" seu lar. Você pode encontrá-la em www.jenwilkin.blogspot.com.