A primeira foi à tarde quando inventei de sair sozinha com as duas para enviar um presente pelo correio. Foi uma saída conturbada, a começar porque tivemos de estacionar o carro longe e depois atravessar uma avenida perigosa a pé. O estabelecimento estava cheio e assim que entramos lá a Nicole embestou a querer correr e brincar, com a irmãzinha de 1 ano e 5 meses atrás imitando suas peripécias. Ela logo se engraçou com duas pessoas que aguardavam sentadas e começou a brincar de "achou" com elas, rindo e dando gritinhos de alegria a cada poucos instantes, enquanto eu preocupada tentava não perdê-las de vista e ao mesmo tempo preencher o endereço no envelope e fazer o pagamento. Saímos de lá e, conforme eu havia prometido, fomos conhecer a escola de balé que fica perto da nossa casa. Faz tempo que a Nicole quer fazer balé. Ela tem uma amiguinha mais velha que passou para ela um colã rosa de bailarina e a ensinou a ficar na ponta do pé, a girar com as mãos sobre a cabeça, essas coisas. Era uma visita muito aguardada por ela, mas para a minha decepção a Nicole se comportou muito mal. Ao chegarmos no portão, a pessoa que nos atendeu, uma senhora espalhafatosa e simpática, ficou elogiando exageradamente as meninas. A Nicole não gostou. Fechou a cara na hora e me fez passar o maior carão!! Uma atitude oposta a que ela tivera momentos antes na loja dos correios em que ela foi sociável, sorrindo espontaneamente para as pessoas, etc. Uma mudança da água para o vinho. Eu não sabia onde colocar a cara. A recepcionista e professora de balé ficaram tentando conversar com ela, sendo gentis, mas nada de a Nicole colaborar, de dar um sorriso ou mesmo de responder a sequer uma pergunta. Ficou o tempo todo séria, ignorando as palavras que eram dirigidas a ela. E quando eu disse "Ué, você não quer mais fazer aula de balé?", ela simplesmente fez 'não' com a cabeça. Foi muito constrangedor!
A outra saia justa foi à noite quando meu marido me buscou na faculdade. Normalmente as meninas não acordam, mas ontem a Nicole acordou e achamos melhor eu levá-la ao banheiro antes de voltarmos para casa. Ela estava toda tagarela e empolgada pra conhecer "a escola da mamãe" porque sempre quer ir comigo para a faculdade quando saio de casa à noite. Quando as duas já tínhamos feito xixi, lavado as mãos e estávamos prontinhas pra sair, a porta do banheiro se abre e entram quatro ou mais estudantes conversando animadamente. Algumas delas fizeram algumas disciplinas comigo e quando viram a Nicole logo se lembraram de alguns comentários que eu havia feito em aula sobre as minhas filhas. As meninas começaram a fazer elogios e sorridentes tentaram interagir com a Nicole. E advinhem? Ela fez cara feia de novo!! Segundos antes estava toda feliz e conversando e agora se recusava a responder qualquer pergunta e a dar um sorrisinho sequer. Nem "obrigada" pelo "Como você é bonita!" ela deu. Muito feio! = (
Eu fiquei muito frustrada e sem entender porque ela agiu assim. Afinal, treinamos tanto em casa e ela sabe exatamente como é esperado que ela se comporte em público! Voltando ao carro dei a maior bronca nela. Disse que ela tinha deixado a mamãe com vergonha porque foi mal-educada com as pessoas que tentaram ser gentis com ela e que isso é muito feio. A princípio ela continuou com a cara séria e parecia me ignorar, mas instantes depois ela abaixou a cabeça e começou a chorar, querendo me abraçar. Eu a abracei de volta e disse que a consequência seria que ela não poderia mais fazer balé e nem visitar a escola da mamãe porque ela não tinha tratado as pessoas com respeito. Ela chorou ainda mais e falou que queria fazer balé sim e também visitar a escola da mamãe de novo. O Douglas disse para ela pedir perdão para a mamãe e não fazer mais isso. Eu disse que a perdoava e que a amava, mas que conversaríamos sobre isso de novo outra hora. Estava tarde e na hora de ir embora, todos estávamos muito cansados.
Fui para cama muito chateada ontem à noite por conta desses dois acontecimentos, me perguntando onde eu tinha errado. Em minha mente fiquei lembrando de outros episódios em que ela agiu mal e que me motivaram a ser mais proativa em simular situações em casa para ela praticar como reagir em público. Como disse acima, normalmente ela vai bem, mas não sei porque há certas pessoas com quem ela "cisma" em ser deselegante. Há cerca de 1 ano, quando visitávamos a igreja de que hoje somos membros, uma pessoa toda sorridente e amável veio nos cumprimentar e recepcionar. A Nicole deu vexame ao virar o rosto para a mulher que tentou brincar com ela e eu fiquei toda sem graça, sem saber como reagir. Outra vez, numa visita recente à casa de amiguinhos dela, a avó das crianças chegou e a Nicole fez a mesma coisa, virou o rosto, não quis cumprimentá-la e ficou emburrada no canto dela. O difícil dessas situações é saber como agir porque é constrangedor demais para a pessoa rejeitada ser cumprimentada sob ameaças, né?
Lembrei que por um tempo a Nicole também teve essas cismas com a minha avó de 83 anos (hoje falecida). Tinha dias que ela não queria beijá-la ou abraçá-la de jeito nenhum! Como eu sabia que isso deixava minha avó extremamente magoada, eu chamava a Nicole de canto, segurava seu rosto para ela olhar dentro dos meus olhos e fazia minhas ameaças em inglês para a minha avó não entender, rs. Eu dizia que ela tinha de ter respeito pela bisa e ir lá cumprimentá-la com educação. Ela obedecia a contra-gosto, mas pelo menos beijava, até que com o tempo se acostumou a fazê-lo e isso deixou de ser um problema. Com o meu pai também teve alguns momentos de tensão no início. Quando chegávamos na casa dele, ele vinha todo empolgado para fazer bagunça com a neta querida mas ela não gostava. Ficava arredia e não queria saber dele. Hoje eles são super amigos e ela é amorosa com ele. Deu trabalho, mas ele conseguiu conquistá-la (nem vou contar que a brilhante estratégia dele foi suborná-la com balas!!).
Já teve uma época em que a Nicole também foi grossa e não queria cumprimentar duas vizinhas nossas que são sempre doces e amorosas com ela. Outras vezes me fez passar vergonha com estranhos na rua ou dentro do ônibus que foram simpáticos e tentaram brincar com ela. Uma vez ela apontou para um rapaz, fez cara feia e, a troco de nada, simplesmente foi categórica ao dizer em alto e bom tom que não gostava dele. Haha, ainda bem que ela falou em inglês e a pessoa não entendeu (as palavras pelo menos). Claro que eu a repreendi e disse que precisávamos amar e respeitar todas as pessoas porque foi o Papai do Céu quem as tinha criado, e que Ele as amava muito. Tenho aprendido que são em oportunidades como essas que, mais do que simplesmente tentar consertar o comportamento (externo) da minha filha, preciso me preocupar em ajudá-la a compreender o que está dentro do seu coração - uma valiosa lição que o livro "Pastoreando o Coração da Criança" me ensinou e que venho tentando aplicar no dia-a-dia das meninas.
Para finalizar o post, quero compartilhar algumas dicas que aprendi em outro blog sobre educação de filhos, num post chamado "Is shyness an excuse?". Nele a autora orienta os pais a instruírem o filho sobre como agir em situações específicas e explicar quando tais situações podem surgir (antes de sair para um evento social). Se a criança se recusar a falar, ela aconselha ao pai que não justifique o mal comportamento do filho e apenas diga: "Desculpe-me, ainda estamos trabalhando nisso". Na opinião dela, repreender a criança em público apenas tornará as coisas piores. E você, o que acha? Já passou por saias justas parecidas? Como você reagiu?
Conte-nos como foi!
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