Bem-vinda!!

Bem-vinda ao nosso blog!
Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O incrível mundo dos "toddlers"!

Você conhece a expressão toddler? Em seu livro, "On Becoming Toddlerwise", Gary Ezzo e Robert Buckman tratam justamente dessa fase, o 2º e 3º anos de vida da criança, mais particularmente dos 12 a 24 meses. Todderlhood refere-se àquela fase de vida em que nossos bebês deixam de ser bebês stricto senso, e começam andar, falar e explorar tudo ao seu redor! A Alícia se encaixa exatamente nesta fase (completou 1 ano e 3 meses esta semana). É uma fase deliciosa, mas também - sem dúvida - muito cansativa. Por isso, resolvi mergulhar novamente na leitura deste livro porque senti que estava precisando relembrar alguns conceitos e princípios para poder me inspirar e me focar novamente!

Hoje quero compartilhar somente alguns dos conceitos que os autores trabalham nos dois primeiros capítulos do livro. Apenas como pano de fundo para quem nunca ouviu falar desta série, este é o 4º livro do "On Becoming Series" (também conhecida como "The Wise Series") e este livro, em particular, não chegou a ser traduzido para o português. Há muitos anos, a Editora Mundo Cristão traduziu o 2º e 3º livros da mesma série e intitulou-os "Nana Nenê" e "Além do Nana Nenê" (em inglês os títulos originais são "On Becoming Babywise" e "On Becoming Babywise II"). Caso você seja nova por aqui talvez não saiba que foram estes dois livros que nos impulsionaram a começar o blog! Outro detalhe é que existe também o 1º livro da série que não foi publicado no Brasil, chama-se "On Becoming Birthwise". Eu soube recentemente que a Universidade da Família oferece um curso pautado justamente nos princípios deste material. Se você está grávida ou conhece alguém que esteja, eu recomendo o curso "Preparação para a Chegada do Bebê"!

Recomendo mesmo! Como minha amiga Cristine perguntou num post, você não acha curioso que enquanto sociedade achamos necessário estudar anos e anos para nos formarmos nas mais variadas profissões, mas quando se trata de nos prepararmos para sermos mães ou pais, não lemos um livro sequer e não buscamos qualquer conhecimento na área? Nos contentamos com o senso comum e com o que vemos as pessoas ao redor fazerem. A maioria de nós não se interessa em se inteirar sobre as diferentes filosofias de educação de bebês e crianças, não procura refletir sobre como quer criar o próprio filho e, o que me deixa ainda mais preocupada, não discute nada disso com o cônjuge, o principal parceiro e influenciador direto desta criança que está pra nascer!! Na minha opinião, se preocupar excessivamente com a decoração do quarto do bebê, com as roupinhas e todos os itens e apetrechos que não podem faltar, por mais delicioso que seja fazer isso durante a gestação, é esquecer do que é mais importante na maternidade: a educação dos nossos filhos, a qualidade da relações dentro do lar e o tipo de pessoas queremos que eles se desenvolvam para ser!

Dito tudo isso, agora sim vamos a um pequeno resumo do começo do livro. = )

Capítulo 1 - O que tem dentro do pacote
O livro começa comparando o trabalho de um pai e o de uma mãe ao de um jardineiro. O jardineiro não cria suas plantas, ele não tem o poder da vida e nem o da beleza que cada flor irradia. Mas ele conhece o ambiente, sabe quanto de luz solar e umidade são necessários para que todo tipo de planta desabroche e se desenvolva. Assim como o jardineiro, os pais não são os arquitetos e nem a fonte da vida dos filhos, mas são os guardiões dela, são os responsáveis por cuidar dos filhos, protegê-los, ensiná-los, estimulá-los, etc.

O livro continua falando das principais influências que contribuem para moldar quem esta criança se tornará. Ele cita uma frase de H.H. Horne, em seu livro "Idealism in Education", que diz: "Genética determina a capacidade, o ambiente proporciona a oportunidade e a personalidade reconhece a capacidade e melhora a oportunidade" (tradução e ênfase minha).

Genética
Para reconhecer e otimizar os talentos de cada filho (seus dons naturais, recebidos geneticamente), os autores sugerem que é necessário três posturas por parte dos pais. A primeira postura diz respeito à própria percepção deles ao observar e considerar características marcantes de pessoas da família que podem ter sido passadas geneticamente aos filhos. Por exemplo, se houver casos de pessoas talentosas musicalmente na família é bem possível que este dom tenha sido passado geneticamente à criança também, então seria uma boa ideia colocá-la para aprender a tocar algum instrumento musical e descobrir se esta facilidade foi herdada. Um dado que achei interessante pensar é que 1/2 (ou 50%) da genética de cada pessoa é herdada dos pais, 1/4 (ou 25%) herdada dos quatro avós e 1/8 (12,5%) herdada dos oito bisavós?! A segunda postura apontada é a necessidade dos pais pensarem numa educação global (em inglês: "parent the whole child"). Ou seja, que adianta seu filho ter potencial para ser um gênio, se ele não sabe brincar sozinho? Ou então ter talento para ser um super atleta, mas não ter delicadeza para brincar com a irmãzinha? Nas palavras dos autores, "Muito embora qualquer atitude desfavorável por parte dos pais possa trazer prejuízos ruins para a criança, a atitude que mais prejudica e tem efeitos mais duradouros é o conceito de produzir o filho dos sonhos" (p. 16 - tradução minha), ou seja, forçá-la a se encaixar no seu perfil ideal de filho pode prejudicar o potencial genético do seu filho à medida em que gera pressão emocional excessiva nele e o impede de viver uma série de experiências normais para a infância. A terceira postura diz respeito ao fato de que nenhuma característica genética, por mais brilhante que seja, pode ser amadurecida e desenvolvida sem as disciplinas básicas da vida. Ser um excelente escritor vai ser impossível se o seu filho não desenvolver a capacidade de sentar e ficar quieto para poder concentrar-se para ler. Aulas de piano se tornarão uma batalha sem fim se o seu filho não desenvolver paciência e perseverança para praticar. Mesmo um atleta excepcional não chega ao topo apenas porque é habilidoso, e sim porque aprendeu a ouvir e seguir instruções de seus mentores. Aprender a ouvir uma instrução já é meio caminho andado no processo de educar os filhos - quanto seu filho hoje já é capaz de ouvir suas instruções e obedecê-las?

O resumo da ópera é este: a criança não vai aprender enquanto ela não estiver pronta para aprender e ela não vai conseguir dominar nenhuma habilidade sem o importante recurso do "auto-controle". Isto significa que, independente de quais sejam as aptidões naturais do seu filho, elas deverão ser cultivadas e trabalhadas dentro do contexto natural da infância e do treinamento infantil. Como na jardinagem, sementes boas plantadas em solo ruim não produzirão plantas saudáveis - as sementes podem até germinar e crescer rapidamente, mas logo irão murchar por falta de fertilizantes adequados!

Ambiente
Você já parou para pensar que o ambiente de educação que você proporciona aos seus filhos (os tipos de estímulos, os valores impregnados nas decisões que você toma, os critérios que você usa quando diz 'sim' ou 'não', etc.) moldam os hábitos do coração deles? Nas palavras dos autores, "As decisões que você toma hoje, as crenças que impulsionam suas decisões e os pressupostos de educação que você valoriza podem e irão afetar as gerações futuras" (p. 17 - tradução minha).

Personalidade
Normalmente há uma confusão com o significado do termo personalidade e muita gente crê que personalidade é algo que não muda, que a pessoa é assim e pronto. Porém, na definição dos autores, personalidade é a soma de três variáveis: genética, ambiente e temperamento. Desta forma, temperamento é a variável da personalidade do ser humano que outras pessoas não podem mudar. Você pode procurar conhecer e entender o temperamento do seu filho, e pode até tomar atitudes que cooperem com este determinado temperamento, porém você não pode alterá-lo. Você também não pode alterar as influências genéticas sobre os seus filhos, mas pode minimizar propensões negativas, fortalecer as positivas, etc. Das três variáveis citadas acima, advinha qual é a única área sobre a qual você, como pai, tem enorme influência na formação da personalidade dos seus filhos? Isto mesmo, o ambiente! E isto tem tudo a ver com estímulos para o aprendizado. E que aqui fique claro que não estamos falando de escolarização, pois educação e escolarização não são a mesma coisa. A educação de que estamos falando aqui diz respeito a três áreas vitais em que nos esforçamos para ensinar nossos filhos: moralidade, saúde & segurança e habilidades para a vida. Veremos abaixo alguns exemplos a que se refere cada uma.

Moralidade - Ensiná-lo a ser bondoso, generoso, paciente, responsável, etc.
Saúde & Segurança - Ensiná-lo a escovar os dentes, tomar banho, cuidar da higiene pessoal, etc.
Habilidades para a Vida - Ensiná-lo a raciocinar e usar a lógica para tomar boas decisões, etc.

Capítulo 2 - A criança falante, que anda e é curiosa
Neste capítulo, os autores focam nas múltiplas possibilidades que se apresentam à criança quando ela começa a andar. Eles lembram que a mobilidade é um dos marcos mais importantes dessa fase e ressaltam ainda que a união da mobilidade com a curiosidade são a essência do toddlerhood. Sim, todo toddler é uma criança curiosa e exploradora! E a mãe do toddler, bem... uma mulher cansada (hehe, me sinto assim!). Com novas perspectivas de exploração para a criança, a mãe do toddler logo perceberá que nenhuma outra fase da sua vida exigirá tanto tempo, energia e paciência. Aqui vale copiar um trecho que achei engraçado do livro: "Se deixado solto, sem preocupação com questões morais ou de segurança, essa pequena criaturinha consegue em segundos esvaziar um estante inteira de livros, fazer uma chamada para Hong Kong pelo celular do pai, beber água do prato do passarinho, espirrar água de dentro do vaso sanitário, beber as últimas gotas da latinha de refrigerante, sair correndo da cozinha com uma faca nas mãos, ou tirar um cochilo na casinha do cachorro - que, considerando todos as outras façanhas, seria algo positivo (...) A energia emocional e física necessárias para supervisionar uma criançazinha ligada no 220 conseguem drenar as energias até daquela mãe que está super em forma. E se seu toddler for um menino, acrescente outros 50% de energia. Nunca uma criança fica tão bonita para sua mãe exausta do que quando está de olhos fechados dormindo " (p. 23 - tradução minha)! Hilário, não? Se você está vivendo a exata situação descrita em cima, em vez de sentar e chorar, sorria - você tem um toddler em casa! E como todas as outras, esta fase passa. Então procure conhecer as variáveis em questão e tirar o melhor proveito delas, até porque eu acredito que como você lidar com a situação agora implicará na qualidade da fase seguinte.

Por conta da curiosidade natural para esta fase, muitos conflitos de vontade entre mãe e filho (qual prevalecerá?) acontecerão. E é aqui que o cerco estreita! A curiosidade é necessária porque ela é a propulsora para a imaginação da criança. Entre os 2 e 3 anos, a curiosidade ficará menos forte e será a imaginação que ganhará força. Isto significa que a curiosidade não deve ser reprimida! Por outro lado, precisamos entender - conforme explicam os autores - que a curiosidade não é um fim em si mesmo e que, além disso, ela não tem proveito sem supervisão de um adulto. Ou seja, a ação dos pais não deve ser a de negar ou reprimir a curiosidade da criança, mas de administrá-la. Os autores defendem veementemente que conceder liberdades ilimitadas à criança como forma de estimular sua curiosidade não é uma administração proveitosa - pelo contrário, é uma forma negativa de cultivar a mente da criança.

A curiosidade é apenas o primeiro passo para o processo infantil da descoberta. Associada a ela estão a concentração e a investigação. Todas as três são necessárias para o aprendizado. O processo é mais ou menos este: a curiosidade atrai a criança para determinado objeto, a concentração mantém sua atenção voltada para ele, e a investigação permite a ela a euforia e alegria da descoberta e do aprendizado. Como se percebe, a curiosidade em si não é a professora da criança - ela é a propulsora, ou o veículo que o conduz, ao ambiente com o potencial para o aprendizado. E aqui uma explicação se faz necessária para compreendermos ainda melhor todo este processo da descoberta: a principal característica do estímulo que atrai a curiosidade da criança é a novidade. Isso significa que depois que determinado brinquedo ou objeto deixou de ser novidade, ou seja, quando não há mais desafio porque ficou fácil manuseá-lo, por exemplo, o interesse da criança (a curiosidade) se dissipa. Use esta característica para sua vantagem! Como?

Como administrar situações potencialmente perigosas ou não saudáveis para a criança? Em vez de reprimir a curiosidade da criança ou procurar distraí-la, a sugestão é ir pelo caminho da substituição. Os autores dão vários exemplos práticos. Um deles é como matar a curiosidade da criança que quer brincar de abrir e fechar o tampo do vaso sanitário e bater as mãozinhas na água, se molhando no processo. Uma cena de deixar qualquer mãe de cabelo em pé! Neste caso, o local é secundário para a criança (mas primário para a mãe!), então por que não encher de água um recipiente com tampa e colocar no quintal para ela brincar?

O capítulo encerra com o lembrete de que em todo o processo de guiar e orientar nossos filhos, a chave será sempre o equilíbrio. O desafio é não ir para nenhum dos dois extremos - proibir tudo ou permitir tudo. Nas palavras dos autores, "Você não vai conseguir evitar que seu filho se desaponte, e nem deve pensar que é sua responsabilidade fazê-lo. Pelo contrário, deve treinar seu filho para lidar com os desapontamentos. É impossível criar ambientes livres de conflito porque a natureza da criança, seus padrões de crescimento e as expectativas dos pais irão criar conflitos. Aprenda a lidar com eles. Entre os 12 e 24 meses, os conflitos devem ser administrados, não censurados" (p. 28 - tradução minha).

Bem, pessoal, por hoje é só. À medida que eu for relendo os próximos capítulos, voltarei aqui para publicar mais. Espero que as reflexões acima tenham sido norteadoras para você, mamãe de um toddler!!

sábado, 15 de setembro de 2012

Creche noturna beneficia a sociedade?!

Estamos em época de eleição e por toda a cidade vemos e recebemos panfletos de candidatos que querem o nosso voto. Não vou me deter no fato deles poluírem e enfeiarem nossa cidade, espalhando excessivos cartazes, cavaletes e folhetos pelas praças, calçadas e ruas... e isto em parte, evidentemente, com dinheiro público (meu e seu!) que é destinado aos partidos e que financiam as campanhas políticas. Pois bem, chegando à USP, aproximadamente 10 dias atrás, recebi de um estudante à entrada da minha unidade de ensino (Faculdade de Educação) um material impresso fazendo propaganda para dois candidatos do PSOL, um à prefeito e outro à vereador. Apesar de não gostar de discutir política (talvez por considerar que eu não conheço o suficiente para tanto), sei o quanto é importante lermos materiais como esses e nos inteirarmos sobre as ideias que cada partido e candidato defende para o seu plano de governo, principalmente nesta época de eleição. Somente assim saberemos quem merece ou não o nosso voto e poderemos votar com mais consciência. Bem, foi lendo na íntegra quais eram as propostas de governo desses dois candidatos, que tive a mais absoluta certeza de que NÃO queria votar neles!

Dentre as ideias que me causaram repulsa (como o objetivo, por exemplo, de apoiar as demandas da população LGBT), havia a seguinte proposta de política pública para uma "educação de qualidade" e que me deixou completamente perplexa: "Implantação do período noturno nas creches, valorizando especialmente as mães trabalhadoras e estudantes".

Gente, mais alguém fica transtornado com isto?? Desde quando incentivar a mulher, neste caso evidentemente a mãe trabalhadora não-escolarizada e de baixa renda do nosso país, a colocar mais um peso de obrigação sobre seus ombros (ter de estudar, além de trabalhar, ao ponto de exaustão, ou seja, ficando o DIA TODO fora de casa e longe da família) é valorizá-la? E o que dizer de seus filhos já que sofrem tantas mazelas no dia-a-dia? Já não basta que em nossa cidade muitas crianças, em idade pré-escolar e de classe média inclusive, passam praticamente 12 horas por dia fora de casa? O quê? Estão sugerindo agora que elas fiquem na creche no período noturno também? Não dá para acreditar que chamam isso de valorizar as mães! E sabem o que é mais incrível? Ontem, numa discussão de grupo na faculdade, comentávamos acerca da desumanização que é a educação básica privada se preocupar tanto em preparar os alunos somente para passarem no vestibular, mas que, apesar disto, nenhum de nós provavelmente teria coragem de colocar o próprio filho numa escola pública já que, por mais que crêssemos no potencial da educação, a educação pública no Brasil estava falida. Daí, uma colega de classe defendeu que desde que havia se mudado da capital para o interior (município de Cotia) percebeu alguns pontos positivos nas escolas públicas de lá, um deles sendo a oferta de vagas na creche noturna. Fiquei pasma! Uma estudante de Pedagogia, casada, mãe de um menino de 8 anos (que estuda em escola particular, que fique bem claro) realmente acredita que a creche noturna pode ajudar o país a ir para frente!

Para mim está cada vez mais claro que a educação em geral, mas principalmente a pública, se tornou um "depósito de crianças" para que os pais possam trabalhar e estudar. E os resultados disso, na minha opinião, são trágicos! O Estado se esforça cada vez mais em enfraquecer a família e tirar das mãos dos pais a responsabilidade (e o direito!) de educarem os próprios filhos, segundo seus próprios valores e crenças pessoais - e não conforme a ideologia política do seu país.

Se você acompanha este blog, deve ter lido o texto "Apagão da família" que saiu no Jornal do Estado de São Paulo em 20 de agosto de 2012. Recomendo a leitura. O li e reli algumas vezes e posso dizer que  concordo com cada palavra que o colunista Carlos Alberto di Franco escreveu! Ao tentar compreender o porquê de tanta violência, brutalidade e crimes bárbaros a que temos tido notícia diariamente, ele observa um elo comum a todas essas tragédias. Advinha qual? Justamente a desestruturação (ou falência) da família! E ela se dá de várias formas, dentre elas o esgarçamento das relações familiares, a ausência de limites, a crise da autoridade, o prazer como regra absoluta, o marketing do consumo alucinado e a desumanização das relações familiares.

Ao descrever especificamente a triste realidade de muitos jovens da classe média, ele fala aquilo que todos nós de certo modo já sabemos: falta carinho, falta diálogo, faltam referências morais e âncoras afetivas. Estamos falando de jovens que recebem boas mesadas, carros, viagens, mas que "certamente trocariam tudo isto pela presença dos pais. Sua resposta é uma explosiva combinação de revolta e ódio". Embora a fala do autor seja especificamente sobre a realidade da classe média brasileira, creio que o mesmo princípio da ausência paternal (e, se depender de alguns políticos, cada vez mais da ausência maternal também) vale para a classe baixa. Em vez de lutarem a favor da família, no intuito de fortalecê-la, as políticas públicas a destroem. Os valores estão invertidos e muitos ainda não se deram conta disso!

Já percebeu como pregam cada vez mais a diminuição do tempo em que ficamos com a família e nos apresentam isso como algo bom, como o passaporte para uma vida social feliz e bem ajustada? Você já reparou que aumentaram o tempo em que, desde a mais tenra idade, precisamos passar com os nossos pares (pessoas da mesma idade), chamaram isto de "socialização" e apresentaram-na como a forma ideal de convívio em sociedade? Não, isto está errado. E a tragédia a gente vê e sente na pele, nas palavras de Di Franco: "Cada vez mais pais não conhecem seus filhos e filhos não se interessam por seus pais e avós".

Na discussão de ontem, me segurei para não falar tudo o que eu pensava (pois não era o momento), mas o elogio da minha colega de classe para a iniciativa da creche noturna como algo benéfico e a solução para muitos problemas da sociedade (e famílias em geral) não me sai da cabeça! Creche noturna não é solução, é apenas desencadeadora de novos problemas, novos conflitos e mais crise para a população. É uma falsa libertação, pois na verdade prende, esfola, tortura e escraviza a sociedade. Como Di Franco tão bem colocou, quando especialistas e pedagogos formulam suas políticas, eles falam de tudo, menos da crise da família e da ausência de limites. Aliás, em toda minha formação universitária, o que mais ouvi até agora foi um culto à autonomia da criança e isto, infelizmente, às custas da morte da autoridade de pais e educadores. Penso que os pedagogos do nosso tempo entenderam tudo errado! A autoridade, os limites e o exercício do auto-controle não tolem a criança, pelo contrário a libertam para se desenvolver plenamente - física, mental e espiritualmente. Concordo com Di Franco quando ele defende que "a forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio".

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Apagão da família

Texto de Carlos Alberto di Franco, publicado em 20 de agosto de 2012 no Estadão.
Link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,apagao--da-familia-,918978,0.htm 

A sociedade assiste, assombrada, a uma escalada de crimes cometidos no âmbito de famílias de classe média. Transformou-se o crime familiar em pauta ordinária das editorias de polícia. O inimigo já não está somente nas esquinas e vielas da cidade sem rosto, mas dentro dos lares. Mudam os personagens, mas as histórias de famílias destruídas pelo ódio e pelas drogas se repetem. A violência não se oculta sob a máscara anônima da marginalidade. Surpreendentemente, vítimas e criminosos assinam o mesmo sobrenome e estão unidos pela indissolubilidade do DNA.

A multiplicação dos crimes em família tem deixado a opinião pública em estado de choque. Paira no ar a mesma pergunta que Federico Fellini pôs na boca de um dos personagens do seu filme Ensaio de Orquestra, quando, ao contemplar o caos que tomara conta dos músicos depois da destituição do maestro, pergunta, perplexo: "Como é que chegamos a isto?". A interrogação está subjacente nas reações de todos nós, caros leitores, que, atordoados, tentamos encontrar resposta para a escalada de maldade que tomou conta do cotidiano.

A tragédia que tem fustigado algumas famílias aparece tingida por marcas típicas da atual crônica policial: uso de drogas, dissolução da família e crise da autoridade. Não sou juiz de ninguém. Mas minha experiência profissional indica a presença de um elo que dá unidade aos crimes que destruíram inúmeros lares: o esgarçamento das relações familiares. Há exceções, é claro. Desequilíbrios e patologias independem da boa vontade de pais e filhos. A regra, no entanto, indica que o crime hediondo costuma ser o dramático corolário de um silogismo que se fundamenta nas premissas do egoísmo e da ausência, sobretudo paterna. A desestruturação da família está, de fato, na raiz da tragédia.

Se a crescente falange de jovens criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os seus filhos - e filhos também não se interessam por seus pais e avós. Na falta do carinho e do diálogo, os jovens crescem sem referências morais e âncoras afetivas. Recebem boas mesadas, carros e viagens. Mas, certamente, trocariam tudo isso pela presença dos pais. Sua resposta é uma explosiva combinação de revolta e ódio.

Psiquiatras, inúmeros, tentam encontrar explicações nos meandros das patologias mentais. Podem ter razão. Mas nem sempre. Independentemente dos possíveis surtos psicóticos, causa imediata de crimes brutais, a grande doença dos nossos dias tem um nome menos técnico, porém mais cruel: a desumanização das relações familiares. O crime intra e extralar medra no terreno fertilizado pela ausência. O uso das drogas, verdadeiro estopim da loucura final, é, frequentemente, o resultado da falência da família.

A ausência de limites e a crise da autoridade estão na outra ponta do problema. Transformou-se o prazer em regra absoluta. O sacrifício, a renúncia e o sofrimento, realidades inerentes ao cotidiano de todos nós, foram excomungados pelo marketing do consumismo alucinado. Decretada a demissão dos limites e suprimido qualquer assomo de autoridade - dos pais, da escola e do Estado -, sobra a barbárie. A responsabilidade, consequência direta e imediata dos atos humanos, simplesmente evaporou-se. Em todos os campos. O político ladrão e aético não vai para a cadeia. Renuncia ao mandato. O delinquente juvenil não responde por seus atos. É "de menor".

Certas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que fizeram uma opção preferencial pela permissividade, também estão apresentando um amargo resultado. Uma legião de desajustados, crescida à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando a sua face perversa.

Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch (autor do livro A Rebelião das Elites) sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: "Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas". O saldo é uma geração desorientada e vazia.

A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.

O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento também têm importante parcela de responsabilidade nesse quadro. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas de televisão crescem à sombra da exploração das paixões humanas.

As análises dos especialistas e as políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família e da demissão da autoridade. Mas o nó está aí. Se não tivermos a coragem e a firmeza de desatá-lo, assistiremos a uma espiral de crueldade sem precedentes. É apenas uma questão de tempo.

Já estamos ouvindo as primeiras explosões do barril de pólvora. O horror dos lares destruídos pelo ódio não está nas telas dos cinemas. Está batendo às portas das casas de um Brasil que precisa resgatar a cordialidade captada pela poderosa lente de Sérgio Buarque de Holanda (o pai do Chico) no seu memorável Raízes do Brasil.

*Carlos Alberto Di Franco é Doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor do Departametno de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais.

domingo, 2 de setembro de 2012

3 anos de Nicole!


A Nicole completou 3 anos esta semana e eu vim contar como estão as coisas já que o último update sobre ela foi publicado há seis meses. Primeiramente, queria dizer que está sendo uma fase deliciosa para mim! As outras também foram, claro, mas parece que esta está ainda mais especial. Deve ser porque sempre que eu imaginava como seria ter filhos, me via justamente com crianças mais ou menos desta idade em que a Nicole está hoje. E aqui vou fazer uma confissão: acreditem se quiser, mas eu nunca sonhei muito com ter e cuidar de um bebezinho recém-nascido, haha! Eu não era como as mulheres que se derretem toda quando veem um bebê e já querem logo pegá-lo no colo. Engraçado, né? Principalmente porque hoje escrevo num blog sobre maternidade que começou com este foco de treinar o bebê desde o primeiro dia!

Vou tentar fazer um breve relato, por partes, daquilo que acho que vale ressaltar:

Sono
As noites têm sido tranquilas (11 horas de sono ininterrupto pelo menos, aproximadamente das 19:00 às 6:00) e, de alguns meses para cá, a frequência das sonecas da tarde diminuiu de todo dia para 4 ou 5 vezes por semana. Há dias em que eu a deixo "pular a soneca" (das 13:00 às 15:00 ou 16:00) e fazer alguma outra atividade mais "tranquila" durante esse período (como assistir a um desenho, ler seus livrinhos, desenhar), pois tenho percebido que ela não está mais precisando dormir tanto. Na maioria das vezes, quando ela insiste muito que não quer dormir, eu estabeleço que ela tem de ficar deitadinha descansando na cama por 40 min a 1 hora e, mesmo que ela não durma, sei que esse tempinho é bom para ela renovar as energias. Como disse acima, isto não acontece sempre, apenas 2 ou 3 vezes por semana (incluindo os domingos).

Alimentação
Ela está se alimentando bem! Com uma mistura de alívio e orgulho em vista do progresso nos últimos 18 meses, arrisco dizer que praticamente superamos a fase "picky eater" da Nicole!! Se quiser saber sobre os problemas que tivemos, leia o post Alimentação a partir dos 12 meses - aprendendo com os erros. Ela continua sendo uma criança relativamente pequena e magra, mas ela come de tudo - legumes e verduras, inclusive (não necessariamente de bom grado toda vez, rs). Uma observação importante é que ela come devagar, beeem devagar, sem pressa alguma! Se deixar, ela fica com a comida na boca sem mastigar um tempão e por isso ainda estamos trabalhando esta dificuldade com ela. Porém, o mais importante e o que eu valorizo muito é que ela conseguiu superar muito de seus "pré conceitos" com relação a qualquer alimento que não seja o arroz/feijão/carne (que ela adora) de todo dia! Sério, ela fazia cara de nojo para qualquer outro tipo de refeição que não fosse essa composição habitual, não gostava de massas, pães, enfim, não queria nem experimentar. Sinto que está cada vez mais facil para ela aceitar (sem reclamar) de que precisa comer um pouquinho de tudo o que eu preparar (isto mesmo: todos os legumes ou verduras/saladas também). Já as frutas nunca foram um problema para ela. Ela come fruta no café da manhã, leva fruta de lanche para a escola e, às vezes, come também de lanche da tarde. Ela gosta de todas!

Comportamento
Meu marido já comentou muitas vezes no último ano como a Nicole não parecia ter somente pouco mais de 2 anos de idade. Há momentos em que ela é tão madura, amável e obediente!! E isto fica ainda mais saliente agora que podemos comparar o seu comportamento com o da irmã (de apenas 1 ano e 2 meses) que está no início deste processo de disciplina e correção (e que resiste a submeter-se à autoridade dos pais). Não posso deixar de pensar como o fato dela ser obediente em 80% (ou mais) do tempo contribui MUITO para curtirmos não somente nossos momentos juntas como mãe e filha - mas, principalmente, os momentos em família e no relacionamento com outras pessoas quando estamos em público. Fico cada vez mais convencida da sabedoria que há nas Escrituras, como o texto de Provérbios 29:15. Sei por experiência o que é passar vergonha em público por algum mau comportamento dela (por exemplo, virar o rosto quando alguém vem todo simpático cumprimentá-la!), mas também já experimentei as alegrias que perseverar em corrigi-la com a vara da disciplina, em amor, trazem! Um dos segredos, sem dúvidas, é aplicar a "educação diretiva", compreendendo o conceito de "criar dentro do funil" (Ezzos). Até hoje, por exemplo, a Nicole não tem permissão de sair da cama sozinha ao acordar. As liberdades nós damos à medida em que ela está pronta para usá-las com responsabilidade, ou seja, quando desenvolveu um nível satisfatório de autocontrole (para ler mais sobre este assunto, clique nos posts: Desenvolvimento do autocontrole, Eduque, não reeduque! e Comportamento e Mobilidade).

Hoje em dia uma das minhas maiores ALEGRIAS como mãe é colher os frutos das boas sementes plantadas (arduamente, devo acrescentar) até aqui! E, acredite, arduamente mesmo! Ser uma mãe proativa é remar contra a correnteza do mais cômodo, é tomar uma postura contra a inércia, é antecipar, prever, planejar. É não ficar parada esperando e apenas reagindo às situações que aparecem. Sim, é um processo árduo, mas também muito recompensador porque não é apenas a criança que se desenvolve e aprende, nós também crescemos e nos tornamos pessoas melhores. Por isso, aqui venho encarecidamente pedir a você, mamãe leitora, de não cair no engano (que é muito comum) de pensar "Ai, como ela é sortuda: a filha dela é boazinha e obedece" ou "Se meu filho também fosse assim seria muito fácil, mas eu não tive a mesma sorte". Não é sorte!! Em vez de pensar assim, corra atrás de conhecimento que possa auxiliá-la na sua tarefa de educar. É difícil, eu sei, mas Deus honra os nossos esforços, renova as nossas forças e nos dá novas estratégias para cada situação porque, afinal, Ele é o maior interessado de nos ver prosperar neste intento de criar filhos segundo o Seu coração e edificar uma família unida. Quem acompanha o blog há mais tempo com certeza já percebeu que eu sou fã do livro do Tedd Tripp chamado "Pastoreando o Coração da Criança" (você encontra resumos dele neste blog) e sabe que eu também recomendo o curso "Educação de Filhos À Maneira de Deus" (que é oferecido pela UDF - saiba mais)!

Linguagem
A fluência da Nicole nos dois idiomas - português e inglês - melhorou muito. Bem, pelo menos na minha concepção, ela fala os dois idiomas muito bem! Estou muito contente por isto. Lembro-me de que, exatamente um ano atrás, eu me sentia desorientada com relação a este processo todo da aquisição de fluência, temendo que ela não fosse aprender direito nem um nem outro porque eu misturava os dois idiomas em casa. Mas não, ela sabe distinguir os dois e já entendeu, inconscientemente, que na igreja e em casa nós nos comunicamos em inglês, mas que na escola e em outros ambientes nós nos comunicamos em português. Isto é especialmente bom porque o fato dela falar bem o inglês vai me ajudar a ensiná-lo à Alícia também.

Como professora de inglês por vocação, esta é uma área que me fascina! Até a chegada das meninas, minha experiência de ensinar inglês sempre fora com o público adulto. Embora esteja sendo uma experiência inusitada para mim, estou descobrindo muitas semelhanças no processo de aquisição da fluência da Nicole e dos alunos com quem tive contato durante os meus quase 15 anos de experiência nesta área! Por isto, apenas para fins de curiosidade, vou registrar alguns erros de estrutura em inglês (e também em português) que a vejo cometer.
  • Não conseguir conjugar os verbos no passado muito bem ainda e confudir os pronomes "he/him" e "she/her". Quando ela quer me dizer que a irmã levantou do berço, por exemplo, em vez de dizer: "She got up", ela diz "Her get up". Eu acho que erros deste tipo (de conjugação) são bem comuns entre crianças que estão aprendendo a falar. E ela faz isto em português também, outro dia mesmo disse: "Eu já bebei, mãe" e esta manhã perguntou: "Onde você fazeu isso, pai?".
  • Ainda falando em pronomes, houve uma época em que, em português, todas as pessoas para ela eram "ELE". Muito curioso! Ela não conhecia ou sabia usar os outros pronomes em português. Quando ela fazia isso, eu brincava que ela era minha "gringazinha", rs.
  • Em inglês percebo que isso ainda acontece quando ela quer dizer "sozinha" e, em vez de dizer "by myself", ela fala "by yourself" (que pra ela serve para todas as pessoas). Deduzo que isto acontece como resultado dela automaticamente reproduzir aquilo que me ouve dizer - por exemplo, quando eu digo "Can you do it by yourself?"- e ela não sabe que tem de mudar a pessoa na hora de responder.
  • Acho muito curioso que quando ela quer dizer "Não consigo fazer" em inglês, ela fala "No can do it" e o "Não quero isso" dela fica "I no want it"! Esses erros seguem a mesma lógica de tradução de alguém que já tem a estrutura da língua bem sendimentada em português usa quando está aprendendo o inglês, rs! Seguindo essa tendência de traduzir ao 'pé da letra', ela diz "Give for me" em vez de "Give it to me". E, ainda, usa o "yet" significando "ainda" no lugar de "still" em frases afirmativas (por exemplo, "I'm eating yet"). Minha teoria é que ela costumeiramente me ouviu fazer perguntas com o "yet" - como por exemplo "Did you finish yet?" - e deduziu que "yet" é "ainda" e pronto.
  • Já em relação à vocabulário, ela sabe bastante coisa e aprende com facilidade - está sempre nos surpreendendo com palavras novas! Geralmente meu marido e eu nos entreolhamos como quem diz "Uau, ela sabe isto!", haha. :) Há outras estruturas que ela domina bem, como o uso do gerúndio e da 3a pessoa no presente (no afirmativo apenas, já ela não domina o uso do auxiliar ainda), o que não deixa de ser algo fantástico.
Emoções
Como já comentei, a fase em que a Nicole está hoje é muito gostosa porque ela consegue conversar e interagir com as pessoas e entende muito mais o que acontece ao seu redor. Acho a lógica do pensamento infantil extraordinária! Quem não se diverte com as perguntas inteligentes ou frases engraçadas que criança nesta idade diz?! Estou amando acompanhar de perto como a capacidade de raciocínio dela se desenvolve, responder às suas muitas dúvidas (ela é uma tagarela!!), perceber quais são suas curiosidades, seus medos, sua relação afetiva com as pessoas, ensiná-la sobre os princípios de Deus para o convívio em sociedade, a bênção da submissão, do respeito e da honra, enfim, ter o privilégio de pastorear o seu coração (suas emoções), ajudando a compreender o que sente e como lidar com todas essas emoções.

Um exemplo de sua sensibilidade para com o que acontece ao seu redor aconteceu hoje. Estávamos saindo da igreja e nos dirigindo ao carro para ir pra casa quando vimos uma moradora de rua deitada na calçada. A Nicole olhou para aquela pessoa ali há alguns metros de nós e foi logo me perguntando quem era aquela pessoa e onde estava a mamãe dela! Falei que ela provavelmente havia perdido sua mamãe e que por isto ela estava ali, e ela pensativa se pôs a me fazer mais perguntas (sobre onde era a casa dela, se ela tinha cama pra dormir, etc). O fato da mulher estar ali naquela condição mexeu com ela! Já reparei também como certas cenas de desenho infantil a comovem ou perturbam. Vou citar dois em particular que me lembro agora, ambos do Veggie Tales. Na história sobre Moisés ainda bebê deixado no rio, ela chora quando a correnteza o leva para longe da irmã. Nessa hora eu normalmente tenho de ficar ali perto dela e abraçá-la, ou simplesmente pulo a cena. Em outra história ela se apavora quando o espírito fantasmagórico da avó de um dos personagens sai de um retrato pendurado na parede (é uma visão que o personagem tem)! Ah, acabei de me lembrar outro desenho - um dia ela estava na casa da minha mãe e estava passando Shrek. Não sei qual cena foi, mas minha mãe contou que ela ficou aflita, apontando para a TV e dizendo que estava com medo.

Outro exemplo de sua sensibilidade está no relacionamento com a irmã. E não posso expressar como ver as duas se dando bem enche meu coração de alegria (Salmo 133)! Claro que já houve momentos tensos de conflito entre elas, mas a Nicole (que antes era muito egoísta e não aceitava dividir seus brinquedos) aos poucos tem aprendido a me imitar no tratamento com a Alícia e a ser carinhosa, protetora, companheira, etc. Ela beija, abraça, cuida e se esforça para fazê-la dar gargalhadas - é muito gostoso de ver! Mesmo contrariada às vezes cede algum brinquedo para dar preferência à irmã e pede desculpas com um beijo quando a machuca (direciono-a a fazer as pazes, mesmo que a Alícia não esteja entendendo nada).

Escola
Como mãe tenho enfrentado um dilema com relação a algumas das atividades especiais que a escola da Nicole organiza. Na verdade, não tenho queixas da escola em si, é um lugar organizado e acolhedor e, embora faça uso de propostas pedagógicas consideradas tradicionais, estou muito satisfeita. Porém, não é uma escola cristã e eu não estou sabendo muito bem como lidar com isto ainda (já que eu estudei num colégio cristão minha vida toda e a escola em que ela estudou no ano passado também era cristã). No início do ano, por exemplo, a escola promoveu uma festinha de carnaval para as crianças e a Nicole não participou. Como pais entendemos que, por mais inocente que esta atividade fosse para as crianças nesta idade, não queríamos "naturalizar" a idéia de uma festa tão contrária aos princípios de Deus (e também morais, de culto ao corpo). Achamos que 'não convinha' ela participar e, portanto, comuniquei a escola com antecedência que ela faltaria neste dia. Para compensar, chamei uma amiguinha da mesma escola (só que mais velha) para vir em casa e as duas brincaram na piscina enquanto nós, mamães, conversávamos, rs. A questão é que quando este evento escolar aconteceu a Nicole era tão nova que ir ou não ir não teve a menor importância para ela! Ela não compreendia o suficiente para saber que tinha perdido uma atividade "legal" com os amigos. E, lembrando agora, na verdade quem "sofreu" mais com isto fui eu quando saíram as fotos do evento no site da escola e minha filha não estava nelas, hehe! Isto foi há mais de seis meses e agora a Nicole já entende muito mais.

E um dia desses ela chegou em casa falando do Parque da Xuxa. Eu não gosto nadinha da Xuxa - mais ou menos pelo menos motivo de não achar o carnaval uma festa inocente: na minha opinião, a Xuxa representa um péssimo modelo a ser seguido, admirado ou valorizado por qualquer sociedade que se preze por seus valores morais!! É tão descarado ela incitando as crianças - principalmente as menininhas - à sensualidade que fico boba que muita gente ache isto normal. Enfim, não é apenas por uma questão cristã, mas moral!! A cena daquelas paquitas dançando e vestidas como prostitutas, na minha opinião, deveria assustar qualquer pai e indigná-lo! Nenhuma mãe deveria permitir que seu filho alimente sua mente e coração com essas ´baixarias´, mesmo as veladas. Bem, mas como dizia, achei esquisito a Nicole falar em Parque da Xuxa, mas só entendi mesmo quando li o comunicado na agenda que dizia que a escola está organizando um passeio para lá. E, por isso, agora estamos num dilema cruel! Não queremos prestigiar a Xuxa investindo dinheiro para que ela fique mais rica do que ainda já é, ou ganhe mais notoriedade. Além disso, há tantos outros parques legais na cidade, tinha de ser justo o da Xuxa?! Outro motivo é que vai ser um passeio de um dia inteiro (das 9:00 às 17:30) e acho cansativo demais para uma criança de apenas 3 anos. Mas, apesar disso, não quero que minha filha se sinta mal no dia seguinte ao evento quando os amiguinhos da escola estiverem comentando a experiência, falando dos brinquedos em que foram, o que comeram, o que fizeram, etc!

É tão difícil saber o que fazer em situações como essas, não é? Se você já passou por alguma experiência semelhante, conte-nos como foi. Quem sabe você me dá uma "luz", rs.

Bem, é isto!

Um abraço, Talita