Bem-vinda!!

Bem-vinda ao nosso blog!
Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O treinamento é importante, mas lembre-se de desfrutar!

Querida leitora,

Traduzi esse texto do blog Childwise Chat porque ele é simplesmente lindo! Se você é mamãe em tempo integral sabe bem quão exaustivos e frustrantes seus dias em casa podem ser. E também já deve ter experimentado o desejo de que o dia passe logo para você poder esticar um pouco as pernas e descansar sem nada para fazer. Eu sinto isso durante alguns dias - fico desejando ter um tempo só para mim, pra poder ler um livro, bater papo com alguma amiga, enfim, fazer coisas que me dão prazer e poder relaxar. Mas as palavras da Charisa me emocionaram e cheguei ao fim da leitura com um nó na garganta e lágrima nos olhos!

Espero que as palavras dela a abençoem, encorajem e inspirem!

E que em 2013 você faça o propósito de beijar e abraçar muito mais os seus filhos. Que você possa brincar e curti-los ainda mais do que fez no ano que passou! Criar filhos dá trabalho, mas tem começo, meio e fim. Depois que eles crescerem, só restarão as memórias.

Um forte abraço, Talita


Lembre-se de desfrutar (para ler o original, clique em Remember to Cherish)

São 15:00 e o efeito da cafeína já está passando. Está tarde demais para coar mais um cafezinho e eu fico imaginando de onde vou tirar energias para aguentar até a hora de dormir. Começo a me perguntar porque não coloquei o horário de dormir para 18:00 ao invés das 20:00 quando elas eram menores. Se tivesse, estaria duas horas mais próxima de colocar esses pacotinhos cheios de energia na cama.

Agora são 16:00 e apenas uma hora se passou desde a última vez que olhei no relógio. Como posso ainda estar tão longe do horário de dormir e da paz e do silêncio? Agora são 17:00 e finalmente posso começar a preparar o jantar. Isso há de preencher o tempo! São 19:30 e é hora de começar a preparação para ir pra cama. Rápido, rápido, rápido e levo-as para deitar. Finalmente, são 20:00 e tudo vai bem. As crianças estão na cama e agora eu posso ter um pouco de paz e silêncio.

Se você é como eu, talvez alguns dos seus dias sejam assim. É tão fácil querermos pular os momentos difíceis da vida para chegar nos mais fáceis. Mas que ganho há nisso? Já ouvimos tantas vezes que os tempos difíceis tornam os tempos bons mais doces. Isso é verdade para muitas coisas. Por exemplo, pense no seu trabalho de parto. As contrações, os suspiros e gemidos, e a espera. Agora lembre-se do momento em que você viu pela primeira vez aquele rostinho fofo todo amassado. Perninhas, bracinhos, dedinhos e a cabecinha balançando e berrando no seu peito. A dor valeu a pena.

Agora acelere o filme até os dias de hoje. Seu toddler fica literalmente no seu pé o dia todo. Braços e pernas agarrados em você e ela não larga por nada. Sua criança em idade pré-escolar está fazendo uma centena de perguntas ou simplesmente narrando o seu dia. Seu bebê está em pico de crescimento e quer comer a cada hora. Dói? Bem, talvez não doa, mas definitivamente cansa. Limpar baba da boca, limpar bumbum, limpar catarro de nariz, limpar superfícies, limpar melecas da janela... meus dias às vezes são assim. Quando chega 15:00 ou 16:00, eu já estou um bagaço.

Eu sinceramente tento treinar minhas filhas para serem adultas responsáveis. Este é o meu alvo e o meu objetivo. Às vezes em meio ao trabalho de treinamento eu me esqueço de desfrutá-las. Pra ser honesta, às vezes em meio ao trabalho eu me esqueço até de treiná-las! Eu sei que é importante ensinar minhas filhas a obedecerem imediatamente. É tão importante ensiná-las que se querem usar a canetinha rosa basta apenas pedir e não montar em cima da irmã para pegá-la. São lições que precisam ser ensinadas e os momentos propícios para isso frequentemente são no dia-a-dia da vida. Ser mãe é difícil. Eu sei que é. Posso me ausentar e ficar apenas de corpo presente ou me concentrar em olhar no relógio (que imediatamente pára de funcionar) esperando a hora de dormir. Meu ponto é que há muitas distrações que nos distanciam das alegrias de termos filhos. A alegria que eu tenho de ser mãe pode facilmente ser abafada pelo caos da vida.

Uma amiga já me disse inúmeras vezes que "os dias são longos, mas os anos são curtos". E eu digo isso para você também. Beije aquelas cabeças fofas mais uma vez, desfrute daqueles bumbunzinhos aos seus pés e ouça a enxurrada de palavras que sai da boca de sua amada criança.

Lembre-se que é um privilégio fazer parte dessas vidinhas. O seu trabalho é duro. É exaustivo, mas não dura para sempre. Os anos voam e não restará nada além de memórias. Não haverá mais menininhas implorando para você fazer cocegazinhas nelas. Não haverá mais menininhos querendo pular nas suas costas. Não haverá mais chás da tarde com as bonecas ou cabaninhas de lençol.

Eu olho para o rosto de minha filha mais nova e eu fico de boca aberta. Ela cresceu tanto nos últimos três anos. Minha outra filha de quase 5 anos está ficando cada dia mais madura e complexa. Eu sinto saudade da época que ela falava "Tatêtchi" em vez de "Tá quente". Ela tem metade da minha altura e eu mal consigo carregá-la mais. Quando senta no meu colo, não sobra nenhum pedacinho vazio.

Às vezes para conseguir desfrutar do meu tempo com as minhas meninas, eu preciso agir com estratégia. Faço questão de anotar todas as coisas engraçadinhas que elas dizem. Fico atenta ao que elas falam. Percebo que seu eu fizer questão de anotar uma ou duas coisas fofas por dia, eu escuto mais dessas fofuras. E ao ouvir mais, eu  passo a apreciar mais. Fico mais sintonizada com elas. Eu também faço questão de abraçá-las e de beijá-las toda vez que estou por perto. É simplesmente o que eu faço. Outra coisa é pular e brincar com elas durante o dia em pequenas partes. Eu aumento o volume do rádio e danço com elas na sala de estar, ou apenas sento-me no chão perto delas e faço perguntas. Pequenas ações, mas que me ajudam a direcionar o meu tempo para curtir minhas meninas. Que tipo de coisas você faz para ajudá-la a parar o que está fazendo e cheirar o chulé daqueles pezinhos?

O treinamento é importante. O jantar à mesa é importante, e as roupas limpas também. Mas ainda mais importantes são aquelas preciosas crianças. Elas não vão continuar assim para sempre. Elas vão crescer mesmo que você não se lembre que elas o farão. Elas estão numa estrada agitada de mão única pela qual nunca passarão novamente.

Então beije aquelas bochechas fofas. Dê mais abraços. Jogue mais uma partida. Lembre-se de desfrutá-las.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 4

Finalmente, eis a última parte dessa série de vídeos sobre assistência humanizada ao parto!

Eu queria ter vindo publicá-la antes (aposto como muitas não esperaram e assistiram aos vídeos direto pelo youtube, rs), mas estou aproveitando as férias para colocar um monte de coisa em ordem aqui em casa, dentre elas renovarmos a pintura das paredes externas da casa. Pois é, muita coragem e muito trabalho! = )

Para quem perdeu, seguem os links para as últimas postagens sobre o assunto de hoje.

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 1
Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 2
Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 3

Para variar, gostaria de fazer alguns comentários sobre o conteúdo da terceira parte!

1 - Vocês perceberam qual foi a principal estratégia da obstetra para aquela moça que teve uma bebê de 4,300 kg sem episiotomia e nenhuma laceração? "Exercícios para relaxar e suporte contínuo". Fiquei até com inveja dela, rs! Quem já passou por uma experiência de assistência não humanizada ao parto que o diga, não é mesmo? Sei que corro o risco de me tornar chata ao repetir o tempo todo como foram horríveis aquelas muitas horas que passei presa à cama de hospital antes da Alícia nascer, mas é que simplesmente não me conformo que não queriam me deixar levantar da cama para caminhar ou fazer xixi. Por quê? Porque recolocar o cardiotoco daria trabalho pra enfermeira (ela não disse com essas palavras, mas ficou implícito quando a funcionária do hospital me mandou fazer xixi na comadre). Oras, onde já se viu! Essa mesma funcionária também demonstrou má vontade quando eu falei que a minha médica tinha dito para eu caminhar para ver se o TP evoluía melhor. Ela não quis me desconectar do soro e não dava para caminhar arrastando aquele equipamento numa sala pequena. Simplesmente ridículo. O Hospital e Maternidade Santa Joana tem uma equipe de pós-venda que entra em contato para fazer uma pesquisa de satisfação do serviço prestado, e depois do parto da Alícia eu reclamei da equipe noturna que me atendeu (depois da troca de turno às 7:00 parecia outro hospital). Falei como tinha me sentido e a pessoa ficou até sem graça do outro lado da linha, mudando de assunto rapidamente. Olha, nada como orientação adequada quanto a exercícios para relaxar e suporte contínuo para nos ajudar física e emocionalmente nessa hora!

2 - Correndo o risco de chover no molhado, vocês viram bem qual é o segundo passo para atenção humanizada ao parto? Monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher durante o trabalho de parto! E a doutora ainda acrescentou: ver se ela está hidratada, ver se ela está indo ao banheiro... e nada de métodos extremamente sofisticados, como a cardiotocografia, para fazer a monitorização fetal porque a simples ausculta fetal a cada 30 min basta! Pois é, mas deixar o cardiotoco na barriga da gestante e sumir da sala é muito mais fácil, considerando que era de madrugada, né minha gente! E o que falar do bem-estar físico? Tive um quadro de 9 meses de enjoo e mal-estar nas 2 gestações (vomitava bile se não comesse frequentemente). No parto da Alícia, fui muito categórica com a minha médica quanto a isso (porque no parto da Nicole eu vomitei no fim do trabalho de parto!) e, por isso, ela liberou uma dieta leve pra mim. Mas ela estava cambaleando de sono e não ficou conosco na sala. Nem ela, nem a enfermeira, nem a auxiliar, nem ninguém. Ficamos apenas eu e meu marido. Senti que faltou orientação do que fazer, como fazer, porque fazer, etc. Eu queria explicações do que estava acontecendo e direção! Se fosse hoje, imagino que teria liberado a minha médica pra ir pra casa dormir e solicitado o plantonista do hospital só para poder ter uma pessoa inteira lá comigo, alguém que pudesse me dar orientação e apoio contínuo. Aliás, teria já combinado isso de antemão com a doutora (que ela não precisaria ir se fosse de madrugada e estivesse podre de cansaço) só pra não ficar um negócio chato de eu dizer que não precisava dela, né! Mas vamos combinar: médicos também são seres humanos e precisam de descanso. E, se por um lado, a gente quer privacidade, por outro ficar abandonada (o oposto) também é péssimo. E na minha segunda experiência de parto, por ser de madrugada, foi assim. A enfermeira do turno apareceu na sala somente duas vezes do momento da internação até a Alícia nascer (praticamente 8 horas): para colocar e recolocar o cardiotoco depois que eu insisti que estava muito apertada e não conseguiria fazer xixi na comadre! E a auxiliar só vinha quando eu apertava o botão vermelho pra chamá-la, e vinha com muita má vontade. Será que a equipe da noite daquele hospital aproveita para dormir em horário de trabalho?! Desconfio que sim.

3 - A ausculta com a mulher deitada pode ter falso positivo? Nunca tinha ouvido falar disso. Em todo o meu pré-natal e em todos os médicos que fui a ausculta era feita comigo deitada! E com vocês?

4 - Mulheres que já fizeram o toque, existe algo pior?! Sim, quando é feito por um profissional cansado (com movimentos letárgicos e mais desgovernados) fica bem pior!

5 - Eu achei interessante a informação de que o ideal é que a mulher se acomode num ambiente com privacidade para evitar um estímulo muito acentuado do neocortex nessa hora. Eu lembro que no parto da Nicole eu até me assustei com o número de pessoas que de repente entrou na sala, foi aquela muvuca de gente pra lá e pra cá! Mas é claro que eu estava tão focada em fazer força que não chegou a atrapalhar.

6 - Em nenhum dos meus partos foi me dada a liberdade de caminhar e muito menos oferecidos métodos não farmacológicos de alívio da dor. Bom saber que existem outras formas de alívio além da anestesia! Eu já tinha ouvido falar que a água quente ajudava e eu lembro de ter comentado com a minha médica no pré-natal da Nicole sobre parto na banheira. A resposta dela foi apenas que no Hospital e Maternidade Santa Joana eu não teria essa opção. Pôxa, mais uma ducha já teria ajudado tanto!! E olha que no dia em que a Nicole nasceu estava muito quente e eu lembro que pedi muito para tomar um banho pra tirar o suor, rsrs.


Parte 4 - 6:11 min

7º Oferecer líquidos via oral durante o trabalho de parto e parto - O jejum prolongado, a hipoglicemia, podem levar a sofrimento fetal, além de desgastar muito a mulher durante o trabalho de parto. A preocupação era que se a mulher precisar de uma anestesia geral e tiver comido, ela tem um maior risco de aspirar o conteúdo gástrico. Entretanto, a chance de uma mulher hoje em dia precisar de uma anestesia geral durante o trabalho de parto é muito remota.

Denise Amorim - Neonatologista

8º Permitir o contato pele a pele entre mãe e bebê e o aleitamento materno precoce - Os recém-nascidos que nascem com choro, chorando forte, respirando espontaneamente, que você olha e ele tem um tônus muscular adequado, que não têm cianose central não precisam de manobras agressivas de reanimação. Começa com o contato pele a pele com a mãe. Esse contato pele a pele vai favorecer uma interação maior entre a mãe e o bebê. Depois disso, você vai secar o bebê e favorecer o contato com do bebê com o peito. Mesmo que ele não consiga sugar naquela primeira meia hora de vida.

Laquear o cordão apenas quando ele parar de pulsar, em torno de 30 a 120 segundos. Esse retardo de você clampear o cordão vai favorecer um volume extra de sangue circulante. Além disso, ele leva também à uma prevenção de anemia, prevenção de hemorragia peri-intraventricular e, no futuro também, há uma prevenção de anemia na criança mais velha.

Melania Amorim - Obstetra e Ginecologista

A OMS recomenda atualmente que toda mulher depois do parto receba profilactamente ocitocina por via intramuscular ou por via intravenosa pra prevenção de hemorragia pós-parto. A gente não tem feito de rotina no pós-parto porque a gente acha que a maior liberação de ocitocina para prevenir hemorragia pós-parto é contato precoce pele a pele, bebê sugando, na sala de parto. Então a gente tem feito um pouquinho diferente da OMS e feito a ocitocina somente em situações de risco pra hemorragia uterina.

9º Possuir normas e procedimentos claramente definidos e utilizar Partograma - O Partograma é um sistema de registro gráfico do trabalho de parto que permite que a gente acompanhe a dilatação, a descida da apresentação, a evolução do padrão de contrações uterinas, e que serve tanto para indicar precocemente alguma intervenção necessária como para evitar procedimentos e intervenções desnecessárias. A revisão sistemática da Biblioteca Cochrane também mostra que o uso do Partograma em países de baixa renda reduz a necessidade de cesariana. Todas as maternidades deveriam ter normas para evitar que cada um aja de sua maneira. O ideal é que a maternidade dissesse: “Não, o que se deve privilegiar são isso, não se deve fazer episiotomia, só agir quando há um consenso ou quando há um indicação respaldada por evidências”.

10º Oferecer Alojamento Conjunto - Mãe e bebê juntos, permanecendo em alojamento conjunto. Aleitamento materno sob livre demanda. Evitar que bebês saudáveis fiquem no berçário, sendo apenas trazidos até suas mães. Faz parte da humanização que a gente ofereça alojamento conjunto, não separar o binômio mãe-bebê depois do nascimento.

De 22/07/2007 a 02/05/2009
176 gestantes e 190 nascimentos (4 pares de gêmeos)

Partos normais - 87,3%
Partos com fórceps - 4,6%

Pre-eclampsia severa (13): 6,6%
2 cesarianas e 11 partos normais

Lacerações maternas pós-parto:
Nenhuma laceração pós-parto: 50,8%
Não necessidade de sutura: 70,8%
Episiotomia: nenhuma (0%)

Cesárias: 8,1%
Total de partos normais: 91,9%

Analgesia no parto: 5,1%
Satisfação materna: mais de 95%

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

1 ano e 6 meses de Alícia!

Amanhã a Alícia completa 1 ano e 6 meses e resolvi me adiantar e postar as novidades!


Dentição e Alimentação
Além dos 2 dentinhos debaixo, agora ela tem mais 3 dentinhos, todos em cima. Tadinha, ela sofreu muito porque os três saíram praticamente ao mesmo tempo! E dá-lhe Nene Dent para aliviar a coceira e dor. Em compensação, agora que tem 5 dentinhos ela vai poder morder e mastigar melhor alimentos mais duros. Não que antes ela não já comesse de tudo. Alguns alimentos - como o tomate - ela chupava até amolecer e conseguia engolir (mas deixava a casca). Já outros - como a uva passa - ela simplesmente engolia inteiro e depois eliminava no cocô. Outra vantagem é que à medida que ela cresce e consegue comer sozinha as coisas vão ficando mais fáceis para mim. Já se imaginou tentando alimentar duas pequenas e comer ao mesmo tempo? É o que eu tento fazer, não é à toa que estou sempre ouvindo "Como você emagreceu". Eu até consigo colocar algumas garfadas rapidamente na boca entre ajudar uma e outra, mas não é como se sentar à mesa para saborear a refeição! Isso quando a Nicole não pede para fazer o nº 2 bem no meio da refeição, aí complica ainda mais. E quando elas finalmente terminam, eu vejo a bagunça de bandeja melecada, chão sujo, pratos para lavar, etc. e minha mente neurótica logo pensa: "Preciso arrumar logo tudo isso". Daí qualquer vontade que eu tinha de pegar mais um pouquinho vai embora!

Rotina e Horários
Até muito recentemente, as sonecas da Alícia pela manhã estavam sendo bem longas. Tinha dias em que eu a colocava para dormir 8:30 ou 9:00 e ela só acordava - isso porque eu abria porta e janela para entrar claridade - às 11:30, quando eu já estava com almoço preparado e prontinha para sair para buscar a Nicole na escola. Era muito bom, por um lado, porque eu tinha a manhã toda pra mim! Eu aproveitei para fazer meus trabalhos de faculdade e até consegui escrever uma boa média de posts por mês, vocês repararam? Por outro lado, com o tempo fui vendo que dormir tanto pela manhã tinha dois "contras". O primeiro é que eu desperdiçava um tempo individual que eu poderia ter com ela enquanto a irmã estava fora. Falo mais sobre isso no tópico abaixo. E o segundo é que a soneca da tarde começou a ficar cada vez mais curta. E como não são todas as tardes que a Nicole tira soneca, tinha dias em que as duas "pintavam o terror" no quarto! Como nenhuma das duas estavam com muito sono, era um estresse só eu entrar toda hora no quarto para falar que elas precisavam ficar quietas, parar de brincar, conversar, gargalhar, etc. porque era a hora do descanso. Ou seja, em vez de eu relaxar, ficava só o pó e não via a hora do maridão chegar logo em casa no fim do dia para assumir o turno dele!

Por isso, a partir de ontem, tomei a decisão de que vamos eliminar a soneca da manhã. Vou fazer atividade dirigida com as duas pela manhã (se bem que esses dias estou pegando bem leve porque é época de férias e todo mundo merece não ter nada pra fazer, hehe!) e à tarde passaremos à rotina da Alícia tirar uma única soneca longa (de 3 horas) por dia. E enquanto a Alícia dormir, a Nicole vai fazer tempo de brincar independente para eu poder ter meus momentos de paz durante o dia. Depois eu conto se deu certo!

Linguagem e Comunicação
Ufa, a Alícia está começando a repetir melhor os sons. Sabe que eu estava ficando preocupada e cheguei a pensar em levá-la numa fonoaudióloga para saber se ela tinha algum problema?! Eita, mamãe neurótica. Eu sei, eu sei, o bom senso diz que cada criança tem seu ritmo, que vai falar, andar, etc. no seu próprio tempo. Mas, convenhamos, É TÃO DIFÍCIL não comparar!! E eu lembro que a Nicole falava um monte de coisas com 1 ano e 5 meses (está certo, eu não lembro... mas li o post em que registrei isso) e a Alícia não repetia direito as palavras, o som saía muito diferente. A coisa só começou a andar quando mudei a estratégia - do inglês para o português. E não é que ela falou "mamãe" e "papai" direitinho? Em inglês não saía! E agora ela está um papagaiozinho repetindo as palavras. A pronúncia dela está melhorando.

Dessa experiência extraio duas lições importantes (que estão interligadas). A primeira é que estava sendo exigente demais com um nível que eu achava que ela deveria ter. E a segunda é que eu a estimulei muito pouco para esse nível! Compreendi que quando a gente tem um filho só a nossa atenção em casa é quase que 100% dedicada a ele. Eu estimulava a Nicole a todo momento, ela era uma esponjinha e ia absorvendo tudo! De verdade, eu não dava um segundo de trégua pra ela, era na hora de comer, na hora do banho, de fazer xixi no vaso, de brincar lá fora ou aqui dentro. Eu estava o tempo todo ensinando alguma coisa, conversando com ela, pedindo para ela repetir alguma palavra, cantando, mostrando os livros, enfim, era um curso de imersão, rs. Já com a Alícia... tadinha, há momentos em que ela precisa praticamente pular na minha frente ou agarrar as minhas pernas para conseguir minha atenção! E quando eu pego um livrinho pra ler com ela e faço alguma pergunta (por exemplo, "What animal is this?" ou "What color is this?"), advinha quem responde no mesmo segundo? Isso mesmo, a Nicole! A Alícia não tem a menor chance e por isso ela logo se desinteressa. Como no ano que vem, eu vou "homeschool" as meninas ao mesmo tempo, estou pensando numa estratégia para atender às necessidades individuais de cada uma.

Ainda sobre linguagem, uma amiga leitora desse blog descobriu um site muito legal sobre linguagem de sinais para bebês! Chama-se "My Smart Hands". Depois que assisti ao vídeo da bebezinha de apenas 1 ano fazendo um monte de sinais, vi que estava perdendo tempo com as minhas filhas e que poderia estimulá-las para além das poucas palavras que as havia ensinado ("obrigada", "por favor", "banheiro", "desculpe", "mais" e "terminei"). As crianças têm muita capacidade de aprender novos idiomas. Quanto mais novas, mais fácil e rapidamente aprendem. O problema é que sou limitada quanto à linguagem de sinais em si, mas meu marido fez curso de LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) anos atrás e ainda tem a apostila. Combinamos que ele vai tentar ir relembrando algumas coisas e a família toda vai aprender junto. Não quis seguir o site My Smart Hands porque os sinais que ela ensina não são de LIBRAS, mas de ASL (American Sign Language) e achei que não seria muito útil para a comunicação com surdos aqui no Brasil.

Toilet-training
Semana passada resolvi tirar a Alícia das fraldas! O tempo estava quente, eu de férias, enfim, tudo propício. Usei as dicas do material dos Ezzos dessa vez (e não mais apenas a da Encantadora como fiz com a Nicole, numa outra oportunidade explicarei melhor) que, como vocês verão, são de linha behaviorista (com muito condicionamento e reforço positivo). Deixei-a apenas de calcinha durante o dia e deixei carregar uma garrafinha de água que ela gosta muito pra lá e pra cá. A ideia era aumentar a ingestão de líquidos e oportunidades para ensiná-la a diferença entre "seco" e "molhado". Programei o alarme do meu celular para tocar a cada 17 a 22 min. Cada vez que ele disparava, eu dizia toda animada que estava na hora de fazer xixi. Porém, antes de colocá-la para sentar no vaso (usamos uma adaptador especial para o bumbum dela), eu pedia para ela colocar a mão na calcinha e sentir se estava seca. Se estivesse, eu fazia a maior festa e ela ganhava chocolate confete (que ela ama e também outra oportunidade de praticarmos as cores)! Só então sentávamos para fazer xixi. Primeiro eu, depois a Nicole, às vezes alguma boneca dela e, finalmente, a própria Alícia. Enquanto ficava ali sentada, eu aproveitava para tirar o atraso e ler alguns livrinhos com ela. Programava o despertador para tocar dali 5 a 7 min para indicar que estava na hora de sair (para ela não ficar tempo demais e a brincadeira perder a graça).

Bem, como já deu pra perceber, toilet-training é muito trabalhoso. Exige paciência. E muita disposição porque você passa o seu dia em função disso! E tem de fazer o ritualzinho com muita animação. Nesses 5 dias que acrescentamos "sentar no vaso" à rotina da Alícia, eu não fiz outra coisa durante o dia. Sério, cansa muito. A nossa média de acidentes estava entre 3 a 4 por dia, o que é pouco até e não tão interessante para quem tem o objetivo de alcançar o objetivo logo! Os acidentes (=erros) são oportunidades brilhantes pra ensinar à criança o que fazer e o que não fazer. Muitas vezes acertamos o cocô - que ela fez direitinho dentro do vaso e que era largamente comemorado - mas com o xixi não tivemos êxito nenhuma vez. Não sei porque ela segurava tanto o xixi! Mesmo bebendo muito líquido (porque o chocolate também dá sede). Acabava encharcando a fralda durante as sonecas. Quando ela não fazia, eu programava o despertador para tocar dentro de 12 a 17 min. Se ela não fizesse de novo, eu diminuía ainda mais o intervalo na esperança de que ela não se aguentasse de vontade e fizesse "sem querer" no vaso. Eu lembrei algo que eu fazia com a Nicole para ajudá-la entender o que tinha de fazer quando estava ali sentada. Como tudo para eles nessa idade tem de ser divertido, eu segurava as mãozinhas dela, contava 1-2-3 e "uhhh", contorcia meu rosto como se estivesse fazendo força.. Ela achava engraçado e me imitava. Mas com a Alícia não deu certo nenhuma vez! Uma vez 2 min depois de sair do vaso, ela fez xixi na calcinha.

O resumo da ópera é que só conseguimos fazer isso por uma semana porque logo o tempo virou. Faz 5 dias que suspendemos o toilet-training por causa do tempo chuvoso. Quando o tempo melhorar e o calor firmar de novo, retomaremos os esforços do toilet-training!

Limites e Obediência
O nosso maior desafio com relação à Alícia nos últimos tempos tem sido não ceder às birras dela e insistir em ensiná-la a obedecer. Ela já entendeu o "That's a no-no" e até me imita mexendo o dedo indicador (confirmando que aquilo não pode), mas ela tenta nos enganar! Espera a gente virar as costas para fazer ou tenta fazer mesmo com a gente olhando firme pra ela. Acho que pra ver o que acontece ou confirmar se este é o limite meeesmo? Provavelmente! E aqui entra aquele princípio de educar, não reeducar. De se esforçar para pagar à vista e não em muitas dolorosas parcelas, porque... olha, educar dá trabalho!!

O exemplo mais real dessa vontade de fingir que não viu foram os episódios com o cinto de segurança. Sabem o que aconteceu? Nos cansamos de ficar parando o carro no meio da rua porque ela estava desobedecendo, de colocar os bracinhos dela de volta pra dentro do cinto, de dar bronca e repetir toda hora a mesma coisa! Adotamos outra postura: a de restringir a sua liberdade. Como era de se esperar, a solução está em educá-la dentro do funil! Meu marido teve a brilhante ideia de pegar uma fralda e amarrar os dois lados do cinto bem abaixo do pescoço dela, assim ela não tinha espaço para tentar tirar os braços. Que alívio! Claro que ela ficou brava, chorou, tentou espernear... mas faz parte da lição que ela precisava aprender porque ainda não tinha maturidade para fazer a escolha certa de obedecer. Então ela precisava da nossa ajuda: precisava que colocássemos os limites mais estreitos para ajudá-la a se conformar a eles.

Fizemos isso por bastante tempo e domingo agora a prendemos na cadeirinha sem usar a fralda para apertar o cinto. Ela tirou os bracinhos uma vez apenas durante todo o caminho. Um baita progresso! Quando ela obedeceu, fizemos questão de elogiá-la, para que ela soubesse que havíamos percebido e que estávamos contentes que ela estava desenvolvendo autocontrole. De fato, esse é um enorme desafio nesta idade.

Temperamento
No último post falei sobre o temperamento forte da Alícia. Pois é, essa característica está cada vez mais evidente. Ela é birrenta!! Não cede fácil, chora para manipular, faz cara feia ou vira o rosto brava quando é contrariada, joga os brinquedos, chuta, bate, puxa o cabelo... esse tipo de coisa. Às vezes eu fico com queixo caído com a reação dela e me seguro para não rir das caretas que ela faz. A Nicole tem de ter uma paciência, viu! Porque a Alícia praticamente monta na irmã quando quer um brinquedo que está nas mãos dela ou fica berrando. Estou insistindo que assim ela não vai conseguir nada, que tem o jeito certo de pedir as coisas, que tem de ter paciência e esperar (ah, esse é outro sinal que ela já aprendeu a usar). Ela já está se acostumando também com o ritual de pedir desculpas e de dar um beijo na irmã quando a machuca ou é mal-educada. Um dia desses até fez espontaneamente!

Mas... tem dias que são bem difíceis, sobretudo, quando eu desencano da rotina - não oriento uma atividade (deixo livre demais) ou não garanto que ela durma as horas necessárias para ela ficar bem disposta. É tão importante que ela esteja descansada! O cansaço é contraproducente para ajudar a criança a desenvolver o autocontrole, uma habilidade absolutamente fundamental (para saber mais, leia o post Desenvolvimento do autocontrole). Eu preciso ficar muito atenta à rotina para não deixar as coisas saírem do controle com ela.

E olha que tem dias que ela se rebela e não quer dormir (mesmo morrendo de sono). Chora um tempão sem parar! Li o post da Fabi de ontem falando sobre fazer CIO e pensei: "Nossa, com a Alícia eu faço CIO até hoje". No caso dela, sei que é pura chantagem, ela é determinada e berra mesmo - para protestar. Que Deus me ajude a ensiná-la a lidar com as suas emoções!! Anos atrás traduzi um livro chamado "How To Really Love Your Angry Child" do Dr. Ross Campbell para a Editora Mundo Cristão (leia a sinopse dele em português aqui). O livro é excelente e eu estou começando a pensar que Deus tinha um propósito quando me fez entrar em contato com ele, rsrs. Quando eu conseguir, posso resumi-lo aqui pra vocês!

Outro aspecto que queria acrescentar é que a Alícia também é muito apegada. As emoções dela são para os dois lados. Ela abraça, beija, faz carinho... espontaneamente. É o tipo de criança que gosta de ficar na saia da mãe, sabe? A Nicole não tinha isso - era livre, leve e solta. Já a Alícia, se eu bobear, fica pendurada na minha perna o dia todo, me seguindo pela casa! Na hora de dormir (e ela sabe bem quando é a hora), ela deita a cabecinha no meu ombro e me abraça com tanta força que quase me enforca. Haha! Já se ligaram por quê, né? Então eu a abraço de volta, massageio as costinhas dela e apenas curto o momento, canto uma canção de ninar e fico assim agarradinha com ela um tempinho... porque, afinal, eles crescem tão rápido e é gostoso demais receber um abraço apertadinho desses da minha princesa!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Rotina do Vinícius – 1 a 3 meses – Parte 1: O primeiro mês

Ao ser apresentada aos princípios do Nana Nenê e da Encantadora de Bebês, fiquei simplesmente maravilhada - em especial porque admirava muito a forma como a Tine educava o Tiago – e mal podia esperar a Giovanna nascer para aplicá-los (atualmente com quase três anos de idade).

Contudo, depois de uns meses desenvolvi uma verdadeira repulsa a toda essa literatura, não porque duvidava de sua eficácia, mas simplesmente porque não funcionava como no livro. Acho que esse repúdio se deu porque eu tinha certas expectativas que não foram alcançadas e, para piorar, me sentia culpada por acreditar que isso ocorreu por minha incompetência em aplicar o método. Resultado: somando o temor do primeiro filho, com uma depressão leve pós-parto, mais uma choradeira interminável e um resultado que nunca chegava, acabei frustrada e acuada.
Somente depois de abandonar o CIO (deixar chorar) é que consegui reunir forças novamente para me concentrar na minha bebê e aos poucos fui resolvendo as pendências de um modo mais sereno. Consegui me recuperar e a vida seguiu. Meu desabafo pode ser lido em uma das poucas postagens antigas de minha autoria “A vida sem Ezzo ou Tracy Hogg”.
Aí fiquei grávida do meu segundo filho e tinha que decidir o que fazer. Aplicar os princípios? Não aplicar? O que aplicar?
Tornei a ler boa parte dos livros, dessa vez com outros olhos e sem a pressão de querer ser “a mãe perfeita”. Também li outros textos, principalmente na internet. Conversei com meu marido. Pensei nas experiências de outras mães, adeptas e não adeptas dos Ezzos. Lembrei da minha própria experiência, dessa vez com uma reflexão mais fria, mais crítica.
Abaixo compartilho as opções que fizemos em relação ao Vinícius, dispostos em três partes: Alimentação – Atividade – Sono. A Tracy Hogg chama isso de EASY (eat-activity-sleep-you).
1º mês:  
Alimentação:
O Vinícius nasceu prematuro e por problemas respiratórios teve que ficar internado por duas semanas. Na UTI o colocaram em uma rotina de mamadas de três em três horas rigorosa.
Já havíamos decidido aplicar o princípio da AOP (Alimentação Orientada pelos Pais), presente tanto no Nana Nenê quanto no livro “Encantadora de Bebês”. Acredito muito nesse princípio porque ele te permite compreender melhor o choro da criança. A partir do momento que você sabe que horas o bebê mamou, é possível prever, por exemplo, que um choro meia hora depois dificilmente será fome.
Além disso, a mamada espaçada permite ao bebê mamar quando realmente está com fome (não só para se acalmar, por exemplo), o que fará com que ele sugue até chegar à parte gordurosa do leite.
Também existe o ponto emocional. Não acho saudável fazer a associação de que devemos nos acalmar com comida. Peito é só para refeições e ponto final.
Quando chegamos em casa, aplicamos o princípio de imediato. Embora já estivesse acostumado com as três horas, resolvi baixar esse intervalo para 2 e ½ horas. O motivo? Na UTI eles sabem que o bebê mamou bem, porque depois do peito existe um complemento por sonda ou via oral. Além disso, as fraldas são pesadas e o próprio bebê é pesado diariamente. Sem esses recursos, preferi baixar o intervalo e aderi a uma flexibilidade de 30 minutos, tanto para mais, como para menos.
Atividade:
Depois da mamada, se ele dormisse, eu o deixava ereto por um tempo e depois colocava no berço. Se acordasse, tudo bem. Não insistia no período de atividade – afinal, era para ele estar no meu ventre.
Tirando um ou outro dia, ele praticamente mamou e dormiu por três semanas. A atividade principal era o banho e a troca de fraldas, sendo que optei por realizá-las antes das mamadas, para evitar regurgitações. Com a Gi, eu trocava uns 20 minutos depois das mamadas, porque o EASY da Tracy indicam essa como a principal atividade do bebê. Comparando, eis minhas observações:

1. As fraldas vazaram bem menos. Acho que é porque quando trocamos após a mamada, a barriguinha está mais cheia. Conforme vai esvaziando, a fralda fica menos ajustada e o xixi vaza. Trocando antes da mamada, o ajuste fica melhor.

2. Há menos incidentes de xixi no trocador. Trocando antes da mamada, tudo o que o nenê tinha para fazer já foi feito. No caso da Gi, mesmo trocando depois de um intervalo, era quase certo que ela faria mais durante a troca.

3. Diminuição no número de regurgitações. Esse era o único resultado que eu esperava e realmente se confirmou, principalmente no banho. Conto nos dedos as vezes que isso aconteceu e ele nunca golfou. Ressalto que não tive muito problema com a Gi, mas com o Vini foi quase perfeito nesse quesito.

4. Maior dificuldade para trocar. Foi o único ponto negativo que observei. Justamente por estar com fome, o Vini as vezes chorava e se remexia no trocador, fato que praticamente não aconteceu com a Giovanna (que geralmente desmaiava no trocador). Contudo, essa dificuldade aconteceu mais nas duas primeiras semanas. Depois que o Vini pegou o jeito da coisa, passou a se comportar bem e esperar pela troca, sabendo que em seguida ia mamar.
Sono:
Não deixei chorar, nem para sonecas, nem para o sono noturno. Concentrei-me em criar a rotina do sono e me esforcei para que ele dormisse no berço sozinho. Nessa fase é mais fácil, porque eles literalmente capotam, ainda mais o meu sendo prematuro. Tirando algumas poucas vezes em que foi necessário ninar, em boa parte das sonecas ele desmaiava sem qualquer esforço da minha parte.

Com a Gi (minha primeira filha), passei a deixar chorar dez dias após o nascimento. Foi simplesmente o caos. Fico angustiada só de ler meu diário da época. Definitivamente, com o Vini foi bem mais fácil e não acho que ele “perdeu sono”. Ao contrário, ele dormiu bem melhor que ela, que desperdiçou horas chorando ao invés de dormir.

Especulando (sim, porque não dá para saber com certeza), acho que o sucesso dessa primeira etapa se deu principalmente pela minha postura. Claro que a prematuridade é um fator que favorece o sono. Porém, acredito que as mães passam segurança ou insegurança para os filhos. Quando eu ia colocar a Gi no berço, já começava a ficar tensa, pensando no choro que teria que ouvir. Com o Vini tudo era tranquilo. Eu ia para o quarto dele com paz de espírito. Isso na minha opinião, foi um fator decisivo.
Resumindo:
O primeiro mês do meu filho em casa foi de paz e sossego. Ele comeu bem, dormiu bem e minha família idem. Acredito que para minha personalidade e estilo, esse “mix” de princípios serviu e não acredito que ter adiado o “deixar chorar” foi um empecilho para impor uma rotina adequada nessa primeira etapa da vida do Vini.

Contudo, lembro que há tantos fatores que é difícil prever o que acontecerá em cada caso concreto. Talvez para um terceiro filho essa minha opção de agora não seja adequada. Daí a importância de sempre manter a calma e fazer escolhas que funcionem para SUA família.

Aprendi que esse foi meu erro com a Giovanna: acreditar que se eu não conseguisse aplicar os princípios desde logo, teria mais trabalho em fazer isso mais para frente. Obriguei-me a passar por cima dos meus limites e criei um ambiente tenso na minha casa que redundou no fracasso de tudo. Foi só depois de jogar tudo fora e começar do zero que as coisas deram certo.

CIO é bom. Não descartei e vocês verão que passei a usar nos meses seguintes (aguardem as próximas postagens). Mas com a Gi, sinceramente, não achei que valeu a pena nessa fase. Daí minha opção para agora.

Até a próxima.

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 3

Preparadas para 3a parte do vídeo sobre essa série? Espero que estejam curtindo tanto quanto eu!

Quem não assistiu às últimas duas, por favor, clique abaixo para acompanhar todo o conteúdo.

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 1
Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 2

O vídeo de hoje começa com o parto de uma parturiente que pariu uma bebê de mais de 4kg, sem anestesia, sem episiotomia e sem lacerações - uau, uau, uau! Já pensou?

Mas antes de prosseguir com o assunto novo, queria novamente fazer alguns comentários sobre o que eu aprendi (ou relembrei) na parte dois e fazer a relação com as minhas experiências de parto!

1 - Não sabia que era possível a mãe amamentar o bebê durante a cesária! E nem que era possível abaixar os campos (aqueles panos esterilizados que colocam sobre a paciente) para que ela assista ao nascimento. Eu nunca fiz cesária, mas de repente você fez e pode nos contar se foi ou não uma cesária humanizada?

2 - Ficar muitas horas no hospital prejudica o equilíbrio do trabalho de parto por causa do estresse do ambiente hospital. Sim, é verdade! No parto da Nicole, fui internada com 4 cm de dilatação e contrações fortes (porém toleráveis). Em 3 horas e meia já estava com minha filha nos braços, foi vapt-vupt!! Já no parto da Alícia, fui internada contra a minha vontade depois de já ter passado praticamente 5 horas no "pronto atendimento" do hospital fazendo e aguardando o resultado de uma bateria de exames. Eu estava com pouco mais de 2 cm de dilatação, com intervalo irregular entre as contrações e pouca dor. Era quase meia-noite e eu estava exausta. Àquela hora o que eu mais queria era tomar um banho quente, comer alguma coisa e dormir. Só isso! Mas como não estavam conseguindo contato com a minha médica para saber a opinião dela, optaram por dar entrada na minha internação. O resultado foi exatamente o que a doutora explicou no vídeo: o trabalho de parto não evoluiu satisfatoriamente (leia o relato completo aqui).

3 - Tricotomia não é necessária e pode ser prejudicial?! A informação é totalmente nova para mim e, se eu tivesse lido sobre isso antes, com certeza estaria na minha "lista de perguntas" a fazer no dia da visita à maternidade. Eu teria dado um jeito de evitar esse procedimento desnecessário. A tal da enteróclise, graças a Deus, não fizeram comigo em nenhum dos partos. Mas já ouvi falar que é um procedimento muito constrangedor, sim.

4 - Agora, e os esclarecimentos sobre a episiotomia, mulherada? Mutilação genital feminina sem evidências sólidas de que realmente facilite o momento expulsivo ou alivie a compressão exagerada da cabeça fetal?! Não sei vocês, mas eu fiquei de queixo caído. A minha médica tinha explicado que a episiotomia era um procedimento padrão e eu nem questionei. Afinal, se ela estava dizendo que esse corte era necessário para ampliar o períneo na hora do parto, quem era eu para falar que não? Totalmente leiga, eu nem tinha o que argumentar! No parto da Nicole, após completar a dilatação, me deram a anestesia, estouraram a bolsa e ela fez o corte e depois costurou. Na hora da sutura eu senti dor e ela teve de me dar uma anestesia local. No da Alícia não. Ela bem que tentou fazer o corte, mas eu estava descompensada (muita dor e cansaço) e não deu tempo. Então ela só realizou a sutura depois do nascimento porque houve laceração, mas será que era realmente necessário ou era somente mais um inquestionável procedimento padrão? Pode ser que a laceração tenha sido causada pela "força comprida", ou "força de cocô"? Não sei. O que sei é que, embora eu não tenha tomado anestesia nesse parto, eu não senti dor nenhuma da laceração natural, somente das abomináveis (!!!) contrações depois de ficar horas recebendo ocitocina na veia!!

5 - Amei o conceito de ter como meta períneo íntegro por meio de estratégias não farmacológicas de relaxamento: caminhada, respiração, banho quente, "open glottis" e nada de "força grande" - haha, essa era a frase que a doutora auxiliar repetia o tempo todo para mim durante o parto!! As explicações sobre o porquê de relaxar o períneo e não contrai-lo fazem muito sentido pra mim. Hoje se estivesse grávida, iria com certeza fazer uma listinha com todos esses pontos pra discuti-los com a médica durante o pré-natal.

Bem, vou parar de falar agora e deixar vocês verem a próxima parte do vídeo!


Parte 3 - 7:28 min

Marijéssica - 19 anos de idade
Gestante de 42 semanas e 3 dias

Sobre a Marijéssica:
A Marijéssica teve uma evolução muito boa. Era o primeiro bebê, mas ela tinha um astral, uma capacidade de lidar com a dor e tolerar situações bem importante. A gente investiu basicamente em exercícios para relaxar e no suporte contínuo - conversa, papo, explicando tudo. Ela adorou a possibilidade de participar do projeto e ela evoluiu tranquilamente para um parto normal na banqueta de parto.
Ela pariu muito bem. Apenas a cabeça era bem grandinha, o que já fez a gente suspeitar de macrossomia (=peso superior a 4kg) e houve uma certa demora do desprendimento do ombro. E nesse caso foi necessário uma pequena manobra para o desprendimento dos ombros, o que pode ser explicado pelo fato de que era um bebê macrossômico (=bebê grande).
Nasceu a bebê com 4,320 kg, ótima, berrando. Foi diretamente para o peito da mãe. Ficou lá sendo aquecida e secada em contato com a sua mãe. E, surpreendemente, não houve nenhuma laceração. Todo esse trabalho de relaxamento deu super certo porque ela pariu uma grande bebê, sem episiotomia e sem nenhuma laceração. 

Dez Passos para a Atenção Humanizada ao Parto

A Organização Mundial de Saúde em 1996 publicou o seu primeiro manual de recomendações para assistência ao parto. E essas recomendações foram organizadas pelo Ministério da Saúde no Brasil e sumareadas nos 10 passos para atenção humanizada ao parto.

O primeiro passo é permitir e respeitar o desejo da mulher de ter um acompanhante durante todo o trabalho de parto e o parto. As mulheres ficam mais seguras, mais tranquilas. Diminui a necessidade de analgesia. Diminui a incidência à taxa de cesariana e aumenta a chance de a mulher se sentir satisfeita com a experiência do parto.


O segundo passo é monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher durante o trabalho de parto e o parto, verificar pressão, ficar monitorizando os sinais vitais, ver se ela está hidratada, se ela está indo ao banheiro. Monitorizar todo o equilíbrio, toda a homeostase feminina. E neste sentido também a gente deveria fazer a monitorização fetal. O que é essa monitorização fetal? Nada de métodos extremamente sofisticados, como a cardiotocografía. A simples ausculta fetal intermitente, isto é, a intervalos com o esthetoscópio de Pinard ou, preferentemente, com o sonar Doppler é suficiente. 


A recomendação da OMS é de que as mulheres de baixa risco devem ser auscultadas a cada 30 min durante o trabalho de parto e a cada 15 min durante o período expulsivo. E a gente deve, preferentemente, auscultar com a mulher em posição não supina. A ausculta com a mulher deitada pode ter falso positivo. Quando a mulher se deita há uma compressão aortocava importante dos grandes vasos, diminuindo o retorno venoso, diminuindo o débito cardíaco, diminuindo o fluxo útero-placentário, pertubando a oxigenação fetal e favorecendo as desacelerações da frequência cardíaca fetal. A ausculta é a nossa chave de segurança sobre o bem-estar fetal. 


O terceiro passo seria oferecer à mulher o máximo de informações e expilcações de acordo com a sua demanda. A relação da equipe com a mulher durante o trabalho de parto deve ser de respeito à autonomia e sempre informar tudo o que está acontecendo. É impressionante como a gente vê muitos profissionais chegando para fazer um toque sem nem avisar que vai fazer um toque, porque vai fazer. Todo e qualquer procedimento que seja necessário a gente deve discutir, explicar à mulher, apresentar o local onde ela vai ter o parto, permitir a liberdade de escolha.


Esse terceiro passo é importantíssimo e vem coincidir também com o quarto passo é que respeitar o direito da mulher à privacidade no local de nascimento. É a questão de você evitar um estímulo muito acentuado do neocortex nessa hora. A gente deveria permitir que a mulher se aninhe num ambiente com pouca gente, com privacidade.


5º Garantir a liberdade de caminhar

6º Oferecer métodos não farmacológicos de alívio da dor

Esses métodos não farmacológicos incluem desde a presença da acompanhante, da doula, à várias estratégias, da musicoterapia, aromaterapia, imersão em água quente. O próprio banho, sem necessariamente ser imersão, massagens, o uso de eletroestimulação transcutânea, o uso da bola suíça. A liberdade de caminhar, de se mover, durante o trabalho de parto por si só já é um método bem eficiente de alívio da dor do parto. Os benefícios da posição vertical também foram bem demonstrados... aliás, não só as posições verticais, mas a posição não supina: posição lateral, posição vertical, posição de quatro apoios. Todas essas posições não supina cursam com o período expulsivo mais rápido, com uma facilidade maior de desprendimento, com menor necessidade de intervenção por padrões anômalos de ausculta fetal. E ainda, geralmente, a mulher se sente mais no controle do processo.


Para quem é leigo no assunto, essa professora doutora sabe explicar com muita simplicidade e passa segurança de que realmente sabe o que diz. Me senti assistindo à uma aula de um curso de medicina, vocês também, rs? Bem, aguardem a última parte do vídeo no post de amanhã!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 2

Depois de publicar a primeira parte do vídeo ontem, me peguei pensando se as cenas fortes não iriam assustar algumas mamães a ponto de desistirem da ideia do parto normal. De fato, são cenas chocantes! O vídeo não é nem um pouco romanceado e mostra bem a realidade - nua e crua - do processo de parir uma criança, do jeitinho que Deus criou para ser! Não sei vocês, mas esse tema me fascina porque me faz pensar na perfeição da fisiologia humana.

Nosso corpo é perfeito: ele é capaz de gerar vida e de dar à luz!

Eu já tive dois partos normais e me lembro bem do medo que me deu da primeira vez. A barriga foi crescendo, crescendo e eu pensei: Como é que esse bebê vai sair "por lá"?? Não parecia algo possível de acontecer!! Por isso, lia tudo o que podia a respeito, pesquisava, conversava com mulheres que tinham tido parto normal, ouvia histórias mil e orava, orava, orava - pedia a Deus para não me deixar sentir muita dor (sem dúvida, meu maior medo!), que fosse suportável, que fosse uma experiência vibrante e transformadora. Espero que você, amiga gestante, faça o mesmo. Se inteire do assunto. O seu parto é uma experiência única e emocionante. Você pode se preparar para ele!

Por mais chocantes que esses vídeos sejam, eu acho que ter conhecimento é sempre algo bom. Sim, talvez você fique arrepiada ou assustada em alguns momentos, porém acho que o conhecimento nos liberta de medos sem fundamento e a ignorância nos leva por caminhos sofríveis. Falo por mim, passei pela experiência duas vezes e estou boba de ver quantas coisas eu não sabia sobre partos! Ah, se eu soubesse teria feito muita coisa diferente - principalmente no parto da Alícia que foi tão sofrido e isso por erros e mais erros, total falta de orientação e informação!

Apenas para recapitular a parte 1, vou comentar três pontos que foram novidade para mim:

1 - Eu não fazia ideia que era possível ter lacerações que não necessitam de suturas e que é melhor evitá-las já que a cicatrização da sutura é mais traumática do que o reparo espontâneo. Deus pensou em tudo!

2 - Vocês repararam que nas duas histórias de parto foram as pacientes que escolheram onde queriam parir? Eu achei isso o máximo porque nas minhas experiências de parto em rede privada, ninguém me perguntou se eu queria estar deitada naquela mesa de parto. No parto da Alícia, minha maior vontade era ficar em pé, mas não podia. Eles queriam me amarrar na cama, para eu não me mexer muito e não atrapalhar o trabalho deles. E se pensar, é bem o que fazem quando prendem nossas pernas naquele suporte! Aliás, já parou pra pensar que porque suas pernas estão para o ar, pra conseguir sair o bebê precisa praticamente empurrar pra cima? Que coisa louca e sem sentido. Para que ir contra a lei da gravidade? Não é à toa que, no parto da Nicole, eu lembro muito bem que a mulher subiu na banquetinha ao lado da cama e começou a empurrar a minha barriga com força!! O Douglas a filmou fazendo isso e ela deu uma bronca nele. Eu não senti dor porque nessa hora eu já estava anestesiada, mas não faz sentido ser assim, né? Dificultam a passagem do bebê fazendo a parturiente ficar deitada com as pernas para cima e depois precisam fazer manobras agressivas para o momento expulsivo. Acredito que se nessa hora eu tivesse ficado numa posição melhor e mais confortável (para mim), o momento expulsivo teria sido mais tranquilo e mais natural.

3 - Sim, a analgesia deve ser dada à parturiente quando solicitada e, até onde eu sei, isso é práxis na rede privada. Mas nunca tinha ouvido falar que isso acontecia também em hospitais públicos! Muito dez esse projeto. Agora eu me pergunto: se o governo dá os recursos para a analgesia na rede pública, então por que somente nesse hospital é que eles estão sendo utilizados?

Como prometi, segue a segunda parte do vídeo sobre o projeto e a minha transcrição para quem quiser apenas fazer a leitura. Os assuntos abordados hoje são interessantíssimos. A doutora fala sobre assistência humanizada no parto cesariana (algo que eu nunca tinha ouvido falar) e sobre procedimentos desnecessários, como a episiotomia.

Achei essa uma das partes mais fortes de todo o vídeo sobre o projeto, mas aprendi muito com ela!


Parte 2 - 7:48 min
Eu não gosto de falar do termo ‘cesariana humanizada’. Eu gosto de falar de ‘assistência humanizada à cesariana’. O que a gente tenta nesse momento? Tenta mimetizar, chegar ao mais próximo possível do que seria o parto normal. Até para mãe e bebê se reconhecerem. Os mesmos procedimentos: ligadura tardia do cordão, entrega o bebê pra mãe, abaixa os campos, ela assiste ao nascimento do bebê. Esse nascimento a gente vai tentar fazer de forma lenta. Tentar fazer com que ele comprima a cabeça e o tórax, receba esse abraço da parede materna, mimetizando o que seria no parto normal. Então a proposta básica da assistência humanizada à cesariana é permitir a participação da família, a gente vai explicando todos os passos e essencialmente estabelecer esse contato precoce entre mãe e bebê, de preferência com aleitamento durante a cesariana. Você pode perfeitamente passar a cesariana todinha com o bebê mamando no peito.

Edna - 18 anos de idade
Gestante de 40 semanas e 2 dias

Sobre a Edna:

Ela tinha sido internada há várias horas em pródromos (=início de trabalho de parto). Acontece muito frequentemente essa internação precoce, o que de certa forma é deletéria (=nociva) e perturba o equilíbrio do trabalho de parto. A mulher se hospitaliza precocemente e, devido ao estresse do ambiente hospitalar, acaba por não evoluir satisfatoriamente. Finalmente ela entrou aqui no projeto e nós pudemos conversar com ela. E ela ficou um tanto quanto reticente sobre as inovações que nós estávamos trazendo: a ideia de caminhar, a ideia de ter um parto em outra posição que não a posição de cúbito dorsal, mas depois ela incorporou totalmente. 

Ela completou a dilatação, chegou a ir pra sala de parto, mas era um bebê muito alto e depois de vários esforços não descia. A gente estava monitorizando a evolução do trabalho de parto aqui no nosso Partograma. Há algumas horas ela já tinha passado a Linha de Alerta, e aqui ela ultrapassou a Linha de Ação. Pelo Partograma aqui a gente vê um diagnóstico bem sugestivo de disproporção do cefalopélvico, indicação primária da cesariana. Entretanto, quando nós conduzimos a paciente para o centro cirúrgico, que ela se deitou depois da anestesia, pudemos observar que era um quadro de distensão segmentar com formação do Anel de Bandl.

Procedimentos Desnecessários
A gente deve destacar que devem ser evitados procedimentos desnecessários como tricotomia, enteróclise e episiotomia.


A tricotomia não é necessária e pode ser prejudicial. Por quê? Porque se a mulher precisar de uma intervenção cirúrgica, quanto maior o tempo entre a raspagem dos pêlos e a incisão, maior o risco de infecção. Então ela não deveria ser realizada.

A enteróclise, o enema, a lavagem não é necessária, é incômoda, considerada constrangedora por muitas mulheres e ainda aumenta o risco de, na hora do período expulsivo, a mulher eliminar não fezes sólidas que não contaminam o campo, mas fezes líquidas que podem contaminar toda a área. 

Episiotomia sem necessidade já foi definida por alguns, como Wagner, como mutilação genital feminina. Se acumularam durante os anos evidências científicas sólidas de que a episiotomia, o corte cirúrgico para ampliar o períneo na hora do parto, não só é desnecessária como pode ser prejudicial. Todos os estudos controlados, incluindo a revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, mostram que quando não se realiza episiotomia a perda de sangue é significativamente menor. É um corte que é mais difícil de se cicatrizar, é mais difícil de se reparar, se gastam mais fibras. Está associada com a cicatrização mais lenta, o aumento da dor perineal pós-parto e com aumento do tempo necessário para o retorno da atividade sexual. Os estudos já mostraram que ela não encurta o período expulsivo, não protege o bebê contra o que se imaginava que era a compressão exagerada da cabeça fetal. Enfim, ela não é necessária.

Mas não basta não fazer episiotomia, o períneo íntegro deve ser a nossa meta. Nem sempre a gente vai conseguir, mas a gente consegue muitas vezes períneo íntegro ou então lacerações que não requerem sutura. 

E quais seriam os cuidados? Primeiro é evitar a nefanda (=abominável) Manobra de Kristeller. Não há nenhuma evidência de que ela seja efetiva para encurtar o período expulsivo e há sugestão de que comprometa também a oxigenação fetal. Mais ainda, a gente tem relatos e séries de casos de efeitos catastróficos como rutura uterina, rutura de baço e sofrimento fetal. E ainda aumenta muito o risco de lacerações perineais. É uma pressão muito grande que se exerce sobre o fundo de útero. Evitar as recomendações também clássicas de “força comprida”, “força de cocô”, “trinque os dentes e faça força”. Todas essas manobras, que têm muito a ver com a Manobra de Valsalva, são deletérias e forçam muito o períneo, estão associadas com maior chance de lacerações. O que se quer na hora do período expulsivo é que a mulher relaxe e não contraia o períneo. E o que poderia ajudar? Técnicas de respiração que mantenham a glote aberta, estratégias de vocalização - abrir a boca, vocalizar, esse ‘ahhh’ - e outras técnicas que a gente chama de “open glottis”, massagem perineal e o uso de compressas mornas que as parteiras tradicionalmente chamam de ‘aparar o períneo’. Há uma explicação fisiológica: a gente vai alongar a fibra, a gente vai facilitar a moldagem perineal. O calor também favorece isso daí, mas eu acho que o essencial nessas estratégias de proteção perineal é muito mais o que não fazer. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 1

Meninas, estou muito empolgada com o post de hoje!

Ontem encontrei meio que sem querer (prometo que não estava procurando, mas parece que sou atraída por esses assuntos) uma série de vídeos no youtube sobre um projeto super interessante que foi desenvolvido num hospital público do interior da Paraíba pela professora doutora Melania Amorim e sua equipe interdisciplinar de voluntários.

Depois de assistir às quatro partes do vídeo gravado em maio de 2009, fiquei me perguntando: Como é que se passaram mais de 3 anos e esse projeto não estourou na mídia?! E como é que eu, que sou antenada sobre esse assunto, nunca ouvi falar dele antes? Curioso. O vídeo é bem explicativo e riquíssimo em informações sobre a assistência humanizada ao parto! Eu amei, achei muito esclarecedor e acho que vocês vão gostar também, principalmente as leitoras gestantes.

Mas ATENÇÃO: antes de sair clicando no vídeo abaixo, preciso fazer uma ressalva. Se você não tem estômago para ver cenas explícitas de partos, eu aconselho-a a ir com calma. Talvez você queira ir pulando algumas partes. Depois de chegar no último vídeo, eu - que não sou da área da saúde e sou bem avessa a sangue, dor, essas coisas - fiquei bastante impressionada porque eles mostram absolutamente tudo, e em ângulos não muito agradáveis para quem não está acostumado!

Então para ajudar quem é como eu e, de repente, está com receio de "ver demais" (são muitas vaginas!), eu assisti a tudo uma 3a vez (porque a 2a eu assisti com o meu marido quando ele chegou ontem do trabalho) e vou colocar o texto para quem preferir só ler as informações!


Parte 1 - 10:03 min

Brasil
84,5% cesárias no setor privado
31% cesárias no setor público
Dados da Agência Nacional de Saúde

Campina Grande, interior da Paraíba
Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA)
65% de cesárias, incluindo gestações de alto risco
500 nascimentos por mês no modo tradicional

Projeto de Assistência Humanizada ao Parto
Trabalho Voluntário - Dra. Melania Amorim e equipe interdisciplinar

Quando eu cheguei aqui como professora de Obstetrícia, eu me vi jogada de repente num ambiente que me chocou muito: o modelo tecnocrático em sua mais elevada expressão e, além disso, a falta de uma assistência humanizada ao parto. E foi esse choque que me motivou também a tentar encontrar estratégias para a gente melhorar a atenção obstétrica em nossa cidade. Essa ideia de uma equipe interdisciplinar vem da necessidade que a gente tem também de humanizar a relação professor-aluno. A gente montou então essa equipe que é constituída por mim, como obstetra, três fisioterapeutas. Temos estudantes de medicina. É uma equipe bem dinâmica que a gente, em plantões semanais, vai lá e se propõe a seguir aqueles 10 passos da Organização Mundial da Saúde para a assistência ao trabalho de parto.

É com muito amor e alegria que a gente chega realmente àquela maternidade e vai resgatar aquelas mulheres que estavam condenadas a ter uma assistência padrão, a ter o descaso, a ter violência institucional, a não permissão do acompanhamento, o parto em posição de litotomia, etc. e aí a gente capta as mulheres. Só quem quer participar do projeto é que entra. A gente tem desenvolvido uma relação curiosa - nós, a equipe.

As Kalungas são as parteiras de um aldeamento quilombola lá em Goiás. Na tradição quilombola, o modelo de assistência ao parto é conduzido por quatro parteiras: a do buraco, a da banda, a do consolo e a do suspiro. A do buraco é a que vai receber o neném: fica bem no buraco porque a mãe fica acima e ela fica abaixo - ela vai aparar o bebê. A da banda é uma parteira que fica encarregada da logística do parto: vai pra lá, vai pra cá - providenciando tudo o que há de necessário. Existe a do suspiro que é a que apóia a mulher por trás - é a função do acompanhante quando a mulher tem um, ou é a função de uma doula ou do fisioterapeuta da nossa equipe, porque sustenta a mulher. E existe a do consolo, que está apoiando a mulher, trazendo um chazinho, ofertando líquidos, abanando e atendendo aos desejos imediatos daquela mulher. Então é um sistema de apoio e é um sistema em que todo mundo trabalha junto.

Um dia no projeto

Marciana - 18 anos de idade
Gestante de 40 semanas e 4 dias

Sobre a Marciana:

Era o primeiro bebê, ela foi admitida no projeto quando estava com 4 cm e, posteriormente, por solicitação dela, foi realizada uma analgesia de parto. Ela evoluiu bem rápido depois da analgesia. Ela estava antes com muita dor, com muitas contrações, porque do plantão passado ela vinha usando ocitocina. E evoluiu bastante rápido, chegou ao período expulsivo e ela optou pelo parto na cadeira de parto.

Foi um período expulsivo relativamente rápido - 35 minutos. Nasceu com o bebê de cócoras. Ele foi colocado imediatamente ao peito da mãe. Ele nasceu com um apgar de 9, em excelentes condições. Ao final, o delivramento também foi fisiológico: a placenta saiu naturalmente. E a gente observou ao final uma laceração. Embora de 2o grau, era uma laceração superficial. Não chegava ao plano muscular mais profundo, ia somente até a face perineal, o plano mais superficial. Como não estava sangrando e nem havia distorção da anatomia importante, se optou por não realizar a sutura. É perfeitamente possível a gente ter lacerações que não necessitam de suturas.

E por quê? Porque quando a gente sutura a gente está isquemiando o tecido. Tem o fio que é um corpo estranho e tem a isquemia tecidual. Isso dá um processo cicatricial mais traumático do que o reparo espontâneo.

Analgesia no Parto
Flávia Orange - Anestesiologista

Uma gestante com muita dor começa a ficar descompensada. A descompensação promove algumas alterações orgânicas, a principal delas é a liberação excessiva de catecolaminas, que são hormônios. Isso faz com que o parto seja ineficaz. As contrações se tornam ineficazes. Aí entra o papel do anestesista, exatamente quando essas outras técnicas - chamadas técnicas não farmacológicas - falham em aliviar a dor do parto. E nós entramos exatamente neste ponto.

Grace - 21 anos de idade
Gestante de 40 semanas e 2 dias

Sobre a Grace:

Foi um trabalho de parto mais arrastado. Quando a gente captou Grace, ela também estava com 4 cm, mas evoluiu, foi para 6, 7 cm. E a partir daí houve um retardo, um discreto retardo na evolução do trabalho de parto. Grace estava com um acompanhante, uma parenta próxima da família, que deu uma ajuda importante. A gente tentou fazer vários métodos para ela relaxar e aliviar a dor, mas houve um momento que ela também solicitou a analgesia. E Grace veio pra cá, ela veio para utilizar a nossa cadeira, mas ela não estava se adaptando bem à cadeira. Ela não estava confortável. Era uma mulher muito grande e não conseguia abrir bem as pernas. A gente notou que estava havendo uma dificuldade, ela já estava em período expulsivo, mas não conseguia, tinha algo travando. Aí a gente achou melhor que ela fosse para a mesa de parto tradicional, porém com uma modificação que a gente utiliza, que é elevar a cabeceira. Como a nossa mesa de parto aqui não permite a elevação da cabeceira, a gente eleva essa cabeceira artificialmente com uma pessoa se posicionando por trás da parturiente de forma que ela fique na mesa de parto, porém semi-sentada. E aí na posição semi-sentada e com orientação, vocalização, exercícios de relaxamento, ela também conseguiu ter parto normal sem lacerações.

Gostaram? Os outros são ainda melhores, aguardem porque amanhã tem mais!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Meu bebê nasceu e logo termina minha licença. O que eu faço agora?

O comentário da Fabi à postagem Eu largar o emprego e depender financeiramente do meu marido? Você só pode estar louca! me inspirou a escrever o post de hoje.

É verdade que embora a renda extra seja um fator importante (e como é!) por causa da instabilidade econômica do país, ela não é o único motivo que leva as mulheres a se apegarem tanto às suas carreiras. Sim, é um tema complexo e, no meu ponto de vista, outro fator de igual peso à independência financeira feminina é a desvalorização da maternidade, assunto sobre o qual tratei aqui cinco meses atrás. Ser mãe hoje em dia não é mais a atividade principal na vida de uma mulher. Desde novas outros sonhos são postos à nossa frente - por meio da mídia, da escola, dos discursos que ouvimos sobre o que é "ter sucesso".

Aspiramos a uma vida profissional bem sucedida, almejamos estudar, conhecer, explorar, crescer, etc. Queremos fazer algo de importante com as nossas vidas, sonhamos em ser reconhecidas pelo nosso conhecimento e pelo trabalho que realizamos, enfim, desejamos fazer algo que de alguma forma impacte e ajude a transformar a sociedade em que vivemos. Esses novos sonhos não são ruins. Pelo contrário! O fato é que, em meio a tantos anseios e objetivos, a maternidade torna-se apenas "mais uma" de uma série de obrigações e responsabilidades que vamos assumindo ao longo de nossas vidas. E acho que posso afirmar com segurança e você há de concordar que, de modo geral, a maternidade deixou de ser prioridade.

E justamente por isso, em meio à toda euforia da gestação e inúmeros preparativos para a chegada do bebê, não pensamos muito em como será a nossa vida (e a do bebezinho que carregamos no ventre) após os 4 meses - ou para algumas privilegiadas, 6 meses - da licença-maternidade. Não é assim? A gente nem imagina como será difícil deixá-lo tão pequeno e indefeso aos cuidados de outra pessoa para retomarmos nossas funções profissionais. Passamos pelo parto e pelo pós-parto, superamos a fase de aprender a cuidar de um recém-nascido, aprendemos a amamentar, nos esforçamos para implementar uma rotina adequada e quando nos damos conta, o tempo acabou! Hora de voltar ao mercado de trabalho. O bebê nem saiu do peito ainda, mal começou a comer sólidos e já precisa passar por uma nova e difícil mudança: a separação da mãe e adaptação ao jeito de fazer as coisas de uma nova pessoa (talvez desconhecida).

E agora, quem vai ficar com o meu bebê para eu voltar a trabalhar? Deixo-o numa creche? Matriculo-o numa escolinha? Se sim, qual? Pago alguém para cuidar dele dentro da minha casa? Ou será que peço favor a algum parente próximo? Parece que dentre as diferentes possibilidades, não cogita-se ficar em casa. Isto mesmo quando o custo da escolinha em tempo integral equipara-se praticamente ao salário da mãe!!

Por isso, diferente da Fabi, eu não tenho receio de orientar mulheres nessa situação a deixarem de trabalhar. Ou de pelo menos ajudá-las a considerar que existe essa alternativa! E que é uma ótima alternativa, diga-se de passagem, uma vez que o comum e o que já está na mente de quase toda mulher (de classe média para cima) é voltar para o emprego!! Como a própria Fabi disse, as mulheres que ela atende como defensora pública são de baixa renda e, na grande maioria dos casos, desqualificadas para as boas posições no mercado de trabalho. Assim, presumo que elas não optaram por dedicar-se às prendas domésticas, mas o fazem porque não há outra saída. "Voltar para o emprego" para elas não era uma opção.

O que quero dizer que é que ficar em casa e ser "apenas mãe" por um tempo maior do que o permitido pela licença-maternidade não é uma opção que passa pela nossa cabeça de "mulher moderna" de classe média. Os contras são muito mais evidentes do que os prós. É o que tenho notado. Com certeza a possibilidade de algum dia ser "exclusiva do lar" não passa pela cabeça de muitas mulheres imersas na carreira antes de engravidar. Na minha não passava. E também não é muito frequente considerarem esta possibilidade após o bebê nascer. Depois que o filho nasce, achamos que temos de ser fortes e prosseguir com a vida como "toda mulher" faz - deixando-o numa escolinha, ou creche, ou com outra pessoa para cuidar dele pra nós.

Claro que o conselho que a gente dá sempre está vinculado à decisão que a gente tomou, mas se a mulher está angustiada porque sente que seu papel principal é estar ali do lado do filho e se vê relutando contra aqueles preconceitos (internos e externos) dos quais falei no último post, então sim eu a aconselharia a dar este passo de fé e abrir mão de sua carreira e independência financeira em prol da educação do seu filho! Pelo menos por um tempo, até ela e o marido sentirem que Deus os está guiando para algo diferente.

Os prós que a Fabi apontou são reais, mas se a mulher prioriza o casamento, penso que ela prioriza os filhos e a família também, até porque está tudo de certa forma interligado. Então eu imagino que se ela cogita essa possibilidade de ficar em casa com os filhos e o marido a apóia, muito provavelmente é porque desfrutam de uma estabilidade conjugal e existe cumplicidade e partilha de objetivos entre o casal. Quanto à instabilidade econômica, acho que ela sempre existiu, no nosso país e em qualquer outro, e todos independente de classe estamos sujeitos a adversidades e infortúnios financeiros de vários tipos (falência, desemprego, etc. mas, sobretudo, se formos mau administradores!). Não creio que faça tanta diferença assim se os dois estão empregados ou se apenas um. Aqui entra a questão de fé - quando estamos no centro da vontade de Deus, não temeremos más notícias pois Ele irá prover tudo o que precisarmos. Nada faltará, pois junto com a missão, Deus dá os recursos!

Com isso estou dizendo que a mãe que fica em casa é melhor do que a que sai para trabalhar? Não. Isso seria generalizar. Há mães que ficam em casa e fazem um péssimo trabalho enquanto outras ralam o dia todo fora e conseguem dar uma ótima educação para os filhos. Meu ponto é que se existe a possibilidade de a mãe ficar mais tempo com a criança e ela aproveita bem esses momentos isso é, sem sombra de dúvida, muito melhor para o estabelecimento de vínculos emocionais com a criança e, portanto, para a família.

No momento estou lendo o livro "Why Love Matters", de Sue Gerhardt, uma psicanalista e psicoterapeuta que fala sobre o papel do afeto no desenvolvimento do cérebro do bebê. O livro está repleto de dados referentes às últimas pesquisas na área da bioquímica, neurologia, psicologia e psicanálise que apontam para a importância dos primeiros dois anos de vida e que como as experiências vividas durante esse curto período refletem, inconscientemente, em nossas ações na vida adulta. Cá entre nós, conquanto haja escolinhas infantis e educadores maravilhosos em muitos cantos desse país, as chances de ter uma bem pertinho de você e que seja acessível ao seu bolso são baixas. E por mais amoroso, dedicado e bem-intencionado que seja o parente ou a babá que você arrumou para ficar com seu filho, dificilmente ele fará o trabalho melhor do que a mãe que o ama incondicionalmente e que, eu creio, é a pessoa ideal para educar e cuidar desta criança. Oras, não dá para ser ingênuo e pensar que a forma como a sociedade está estruturada hoje em dia realmente esteja com os melhores interesses da criança (ou da família) em mente.

O lema "socialização por meio da escola", tão em voga atualmente, foi elaborado para nos fazer crer que não enviar nossos filhos à escola tão cedo quanto possível é fazê-los um mal terrível e privá-los de um direito (que em nome dele, priva-os de outro talvez ainda mais importante, vai entender...) quando sabemos que, por trás dessa bandeira de 'escolarização precoce' está a necessidade de que ambos os pais trabalhem e produzam para a sociedade.

De qualquer modo, é preciso fazer a distinção entre a situação ideal da possível. Nem todas as famílias têm essa possibilidade da mãe pessoalmente cuidar da criança (mesmo que com ajuda em parte do dia). Por isso, se a possibilidade existir, acredito que a mãe (ou pai) deva sim aproveitá-la, atendendo a este chamado como um dos mais importantes da sua vida. Mas, se realmente não houver a possibilidade e o casal entender de Deus que este não é o caminho para sua família, então devem descansar e crer que Ele irá sustentar sua família de outras formas, dando novas estratégias e meios para que possam realizar a missão que Ele lhes deu. Algumas histórias que tenho ouvido têm me enchido de fé. Mulheres que enfrentaram esse dilema, agiram em obediência àquilo que criam ser um princípio da Palavra, apesar dos temores financeiros, e sendo grandemente abençoadas. Quem sabe algumas delas topem escrever para nós a sua história!

Para terminar, gostaria de contar um pouco da minha. Afinal, as nossas escolhas não são à toa, não é mesmo? Sempre tem um porquê por trás que mostra o trabalhar de Deus em nossas vidas.

Como a Fabi, minha mãe era funcionária pública. Até onde eu sei, por muito tempo ela ganhou mais do que o meu pai e, talvez por isso, quando eu e meu irmão nascemos (ele é 2 anos mais novo), ela começou a pagar empregada para ficar em casa com a gente durante o dia. Aos três anos comecei a ir à escola. Nunca conversei com a minha mãe sobre isso, mas hoje que também sou mãe imagino que não tenha sido uma situação fácil para ela. Já ouvi algumas histórias de babá que batia em mim e outros incidentes, como eu ter deslocado o braço aos 7 meses e sofrido uma queimadura grave nas costas com leite fervendo aos 4 anos. Isso deve tê-la deixado angustiada. Talvez culpada? Como ela sempre trabalhou muito longe (no centro da cidade), saía de casa cedinho, antes mesmo de acordarmos de manhã. Era meu pai que nos levava para a  escola e eu tenho boas lembranças de conversas com ele dentro do carro. Mas eu via a minha mãe bem pouco durante a semana, pois ela só chegava em casa por volta das 18:00.

Eu e meus irmãos (a mais nova nasceu 9 anos depois de mim) fomos criados por empregadas. Uma delas cuida de mim desde os 7 anos, ela é como minha irmã mais velha. Até hoje está na casa da minha mãe (faz 23 anos!) e me ajuda com os serviços domésticos aqui em casa também. Não posso reclamar porque, como dizem, "tive do bom e do melhor". Fui muito abençoada por estudar num colégio caro e maravilhoso (de onde quase saí várias vezes por causa do alto valor da mensalidade), pelo qual sou eternamente grata! Mas é inegável que minha mãe pagou um alto preço. Um preço que me faz estremecer só de me imaginar na pele dela. Nesse sentido, minha mãe é muito mais forte do que eu! Além de problemas no casamento (lembro que meus pais tiveram crises horríveis e quase se separaram na minha pré-adolescência), o preço mais alto, acredito, foi o vínculo com os filhos. É vergonhoso para eu admitir isso agora depois de adulta, mas gostávamos de brincar e conversar mais com o meu pai do que com ela porque ele tinha mais tempo e paciência para nos ouvir e disposição para brincar. Minha mãe vivia estressada. Também, pudera! E na adolescência, além do meu pai que sempre foi o meu mentor espiritual, eu acabei buscando em outros adultos um referencial com quem eu pudesse me abrir e compartilhar minhas lutas. Eu invejava as meninas que tinham na mãe uma amiga porque com a minha eu não me dava tão bem. Sentia que ela não me entendia, não me conhecia. Confesso que tive muitas resistências a ela por isso. Achava, por exemplo, que ela queria 'me comprar' com os excessivos presentes que ela dava (hoje entendo que essa era a linguagem de amor dela) e somente depois de me casar é que o nosso relacionamento começou a melhorar.

Será que se a minha mãe tivesse optado por ficar em casa nosso relacionamento teria sido melhor - ao ponto de sermos best friends? Talvez sim, talvez não. Não tem como eu saber. Mas suponho que se ela tivesse exonerado o cargo, talvez eu não tivesse estudado na PACA e dificilmente eu teria tido exemplos tão inspiradores de pessoas de Deus com quem eu pudesse me identificar a ponto de desejar seguir na fé em Cristo. Só por isso, eu já tenho motivo de sobra para ser grata à minha mãe pela escolha que ela fez: de ter priorizado a estabilidade financeira da família e me dado esta oportunidade de estudar por treze anos lá. Ou, de igual modo, ela poderia ter exonerado o cargo, ficado sem emprego e Deus abençoado minha família de tal forma que meu pai ganhasse o dobro ou o triplo do que ela?! Haha, não sei... são apenas suposições.

O fato é que não tem como mudar o passado. Apenas olhar para trás e procurar entender como chegamos onde estamos para então decidir que caminho tomar daqui pra frente, pois o que está feito, está feito. Deus foi fiel em tudo, em cada detalhe. Só tenho o que agradecer!

Quando chegou a minha vez de voltar para a empresa, eu fiquei num terrível dilema e a decisão de parar de trabalhar passou por um período de amadurecimento. Como sempre trabalhei em empresa familiar, quando a Nicole nasceu tive a regalia de continuar desempenhando minhas tarefas de casa. Eu trabalhava duro. A levava para a empresa comigo algumas vezes e quando estava em casa aproveitava cada segundo das sonecas dela para dar conta de tudo. Quase não descansava. Quando a Alícia nasceu, por um ano tentei fazer o mesmo esquema, mas com duas era muito mais difícil. Eu me sentia entre a cruz e a espada. Além de terrivelmente exausta, eu vi que não estava fazendo nem um nem outro bem o suficiente. Qualquer coisa estava me irritando e eu descontava tudo no Douglas. Mas parar de trabalhar? Eu passava mal só de pensar na hipótese - pelo financeiro sim, mas principalmente pelo trabalho em si. O depto pedagógico da empresa era o meu xodó!

Enfim, sair da empresa era algo que eu NUNCA me imaginei fazendo e me dava dor de barriga só de pensar. Orei muito. Quando falei para o meu pai o que estava pensando em fazer, ele logo sugeriu que eu pagasse alguém para cuidar das meninas porque a empresa estava precisando de mim. Mas dentro de mim eu sabia que não podia fazer isso! Eu tinha tanto ainda para ensiná-las, não poderia passar essa tarefa para outra pessoa. Era a MINHA responsabilidade e sabia que me arrependeria no futuro se abrisse mão dela. Bem, Deus me conhece e sabe como sou indecisa e bastante insegura para um monte de coisas, então Ele ouviu as minhas súplicas e me deu uma ajudinha. A volta à faculdade foi o empurrão que eu precisava para "sacrificar o meu Isaque (=o trabalho)", porque eu sabia que fazer as 3 coisas bem eu não poderia!

Minha família (a parte que trabalha na empresa) ficou sem acreditar e sem entender também. Minha mãe comenta até hoje que fica abismada com a minha decisão de ficar em casa, porque agora com um salário a menos, precisamos cortar despesas. Um dos cortes foi a escola da Nicole, vou ficar com ela o dia todo em casa no ano que vem. Outro corte é a empregada que passará a vir somente uma vez por semana para fazer a faxina pesada pra mim. A Fabi falou em arrependimento. Acho que é cedo para falar nisso. Mas a esposa do meu pastor, que é uma das pessoas com quem me aconselho, disse que nunca viu uma mãe que optou por ficar em casa se arrepender da decisão (e olha que ela conhece muitos casos!). Estou confiando que sim!

Para terminar (de verdade agora!), preciso fazer uma confissão. Prontas para outra baita revelação sobre a minha pessoa? Um dos meus maiores medos referente à maternidade era ter filha mulher. E olha só hoje eu com duas! Eu achava que eu não seria capaz de ser uma boa mãe de filha mulher. Sério!! Antes mesmo de engravidar, eu já tinha ciúmes do relacionamento de "pai e filha" que meu marido teria com ela(s) - assim como eu tinha com o meu pai - e secretamente sonhava em ter filhos homens para poder ser a 'queridinha' deles. Haha, pois é!! Mas Deus me ajudou a superar esse medo e hoje vejo que não passavam de ilusão! Amo ser mãe de meninas (embora ainda queira meus dois meninos) e estou curtindo muito!

Quais são os seus pensamentos a respeito da mãe colocar a carreira "em espera" (ou abandoná-las de vez) para cuidar dos filhos? Usem o espaço para comentários abaixo e dê sua opinião!